CÓPULAS DEMONÍACAS - Conto Clássico - Conto Fantástico - Conto Humorístico - Poggio Bracciolini




CÓPULAS DEMONÍACAS

Poggio Bracciolini

(1380 – 1459)

Tradução (indireta) de Paulo Soriano

 

I

De um homem que viu o diabo sob a forma de mulher

 

Cêncio, romano, que era um homem muito sábio, contou-me muitas vezes uma história, que não deve ser tomada por troça. Na história, um seu vizinho, que não era nenhum néscio, contara-lhe o que se lhe sucedera. Ei-la:

Certa feita, levantou-se o vizinho da cama, sob o brilho da lua. E, porque a noite era serena, julgou que já amanhecia. Então, saiu para ir à sua vinha, já que é costume, entre os romanos, cultivá-la com amor.

Ao sair pela porta de Óstia — e, para sair, teve que rezar para que os guardiões que a abrissem —, notou uma mulher que seguia à sua frente. Considerou que ela assim seguia por devoção a São Paulo. Então, ardendo de grande desejo, acelerou o passo para alcançá-la. Porque a mulher estava sozinha, concluiu que poderia persuadi-la facilmente. Ao aproximar-se, viu que a mulher, abandonando a via principal, derivava por um outro caminho. O homem correu em seu encalço, evitando perder tão boa ocasião. Avançou mais um pouco, agarrou a mulher numa curva, jogou-a no chão e realizou o seu trabalho. Tanto feito, a mulher desapareceu, deixando no ar um odor de enxofre. O homem, vendo-se sozinho sobre o chão relvoso, levantou-se assustado e voltou para casa. Todos acreditavam que ele fora vítima de uma ilusão do demônio.

 

II

A outra história, contada por Angelotto

 

Quando Cêncio narrou essa história, fazia-se presente Angelotto, bispo de Anagni, que contou um caso semelhante:

— Um parente meu — ele disse, nominando a quem se referia —, numa certa noite, perambulava pela cidade deserta, na qual encontrou — conforme cria — uma mulher. Como a dama lhe parecia muito bela, com ela fez o que lhe apetecia. Mas, depois, para assustá-lo, ela se transformou, tomando o aspecto de um homem horrendo.

‘— O que fizeste?" — disse ele ao demônio.

‘— Na verdade, eu, tolo, te enganei — respondeu o diabo.

E ele:

‘— Que seja — respondeu francamente. — Mas eu te penetrei pelo traseiro." 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A MÁSCARA DA MORTE ESCARLATE - Conto de Terror - Edgar Allan Poe

O RETRATO OVAL - Conto Clássico de Terror - Edgar Allan Poe

NO CAMPO DE OLIVEIRAS - Conto Trágico - Guy de Maupassant

O CORAÇÃO DELATOR. Conto clássico de terror. Edgar Allan Poe