A QUINTA VÍTIMA - Conto de Terror - Paulo Valença




A QUINTA VÍTIMA
Paulo Valença
Ilustração: Fagner Bezerra


Madrugada.

Dirige o carro após visitar o Bar-Restaurante Bom Sabor, em Boa Viagem, no disfarce de ser apenas alguém a tomar a cerveja acompanhada pelo camarão-ao-coco, prato especial da casa e, assim, enquanto estivesse no ambiente de mesas ocupadas por casais e grupo de jovens, procurar uma mulher bonita,  suspeita de aguardar o homem para, depois, com os caninos crescidos, lhe sugar, pelo pescoço, o sangue, levando-o a morte; contudo, não a encontrou, e saiu do recinto animado pelas conversas, risadas, a alegria provocada pela bebida, na fuga ao presente com os problemas de cada um.

Ah, bem provável que esteja criando fantasias, essa mulher-vampiro não exista!

Talvez tudo não passe de uma dedução que não se conduz com a realidade; mas, como explicar as mortes dos homens, com as perfurações paralelas ao lado esquerdo dos pescoços? Que animal, senão um vampiro, poderia tê-los mortos, após sugar-lhes o sangue? 

O seu auxiliar em investigações criminais, o soldado Mateus, falou-lhe ontem, quando se encontravam ainda no seu gabinete:

— Chefe, só pode ser mesmo um vampiro que atrai os caras à morte. 

A pausa, enquanto ele limitava-se a ouvir e, a conclusão do outro:

— Bem provável que seja uma bela mulher que conquiste os caras e depois os mate!


Então, ele falou, em resposta:

— Estou também pensando desse jeito... Mas, como a gente vai prender a “fera”, descobrindo-a num barzinho, restaurante classe-média? E, quantos desses existem no Grande Recife?

— Aí é que está o problema: Como descobrir o vampiro, ou vampira, para melhor ser exato? Como saber onde se esconde nas horas noturnas?

O silêncio de ambos. As reflexões. O problema que, sem solução, continua.

— Continua...

Repete-se, em voz sussurrada.




O carro avança com facilidade na avenida à beira-mar, com um ou outro veículo passando...

E avista, na parada dos ônibus, a figura solitária de uma jovem, que espera condução.

Curioso, como sempre, diminui a marcha do carro, avizinhando-se para melhor estudar a moça.

Esguia. Morena. Cabelos negros, longos. Minissaia, que exibem as pernas compridas, de botas preta. O rosto que se volta, o sorriso de covinhas no rosto de traços corretos... A presença da sedução. E o desejo repentino de conquista, o amor no leito de um motel, então o faz estacionar o carro e sorrindo, indagar:

— Vai para aonde, moça?

Ela continua sorrindo e, responde:

— Para o Bairro de Linha do Tiro, mas o ônibus hoje tá demorando demais!

— Entendo. Aceita uma carona? Deixo você lá no seu bairro.

— Oh, quanta compreensão, senhor! Aceito.

A porta se abre e o corpo bem proporcionado da jovem entra no carro.

— Obrigada pela gentileza!

— Não precisa agradecer... Sei o que é a gente ficar tarde da noite, esperando a condução. Já passei por isso.

— Ainda bem que existem pessoas humanas nesse mundo de tantas indiferenças...

O sargento Marcelo limita-se a dirigir, sentindo-se bem.

O prazer o espera e pode ser que o tenha ainda hoje, nesse final da madrugada...

Aí a mão de longos dedos abre a bolsa presa ao ombro esquerdo pela correia e retira a pequena garrafa.

— Estou com uma sede... O senhor aceita um pouquinho d’água? Tenho até um copinho aqui.

—Aceito. Obrigado!

Toma a água e devolve o copinho à mão que o espera e que o guarda outra vez na bolsa.

O rosto moreno então se volta ao lado, acompanhando o que o veículo deixa para trás.

Os edifícios altos, imponentes, de janelas e varandas acesas. Uma moto cruzando a rua à esquerda. O casal que caminha sobre a ponte e... As mãos sobre a direção tremem, o rosto do homem cai sobre o peito e, o carro estaciona...

A mulher-vampiro ataca mais uma vez, cravando os caninos crescidos no pescoço do corpo sem força devido ao efeito da droga ingerida há pouco. 

Os dentes pontiagudos continuam sugando o sangue adocicado do homem, que está completamente ausente da própria realidade.








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