UM FANTASMA TRAVESSO E MISTERIOSO - Narrativa Clássica Sobrenatural - Anônimo do séc. XIX
UM FANTASMA
TRAVESSO E MISTERIOSO
Anônimo do séc. XIX
Tradução de Paulo Soriano
Em
todo o bairro de Black Lion Lane, Bayswater, Londres, ressoam as recentes e
extraordinárias ocorrências — que carregam uma forte semelhança com o célebre
caso do fantasma de Stockwell, de 1772 — na casa de um certo Sr. Williams,
situada em Moscow road.
A
casa é habitada pelo casal Williams, um filho e uma filha adultos, além de uma
menina de dez ou onze anos de idade.
No
primeiro dia, a família — que se destaca pela religiosidade — foi subitamente
surpreendida por um movimento misterioso nas salas e na cozinha, além de outros
cômodos da casa. Num deles, sem qualquer ação visível, um dos jarros caiu do
gancho sobre a cômoda e se quebrou; depois, outros movimentos semelhantes se
repetiram nos dois dias seguintes, como o de um bule de porcelana, com o chá
recentemente feito: colocado sobre a lareira, o bule caiu no chão e se quebrou.
Outro bule, de estanho, que prontamente substituíra o anterior, fora mantido em
segurança, enquanto o chá era preparado para desjejum do Sr. Williams, antes
que ele saísse para trabalhar; todavia, este objeto igualmente caiu; quando o
colocaram sobre a mesa, o bule se pôs a dar pulos, como se estivesse
enfeitiçado. Quando os ânimos, por um tempo, se acalmaram, um quadro, revestido
de pesada moldura dourada, deslocando-se de seu habitual lugar na parede, lançou-se
ao chão sem se quebrar.
Tudo,
então, passou a ser espanto e terror, pois o velho casal é muito supersticioso.
E, atribuindo os acontecimentos a uma ação sobrenatural, os donos da casa
trataram de remover os retratos das paredes, conservando-os sobre o chão.
Mas
não cessaram as ações daquele espírito inquieto. Jarras e pratos continuaram, em
intervalos, a deixar seus postos — os ganchos e as prateleiras — para saltar ao
meio da sala, como se estivessem sob o estímulo da flauta mágica. No jantar, a
caneca levada pela garotinha, cheia de cerveja, deslizou da mesa para o chão.
Três vezes o recipiente foi substituído e três vezes ele voltou a cair.
Seria
tedioso relatar as fantásticas proezas dos múltiplos artigos domésticos. Um
vaso egípcio saltou, repentinamente, da mesa, fazendo-se em pedaços, quando
vivalma alguma estava por perto. Quando o Sr. Williams encheu o bule, a
chaleira estalou no fogo, caindo na chaminé. Castiçais, depois de bailarem
sobre a mesa, voaram, e os enfeites das prateleiras, as toucas e os bonés eram
arremessados do modo mais estranho. Um espelho saltou de uma penteadeira,
seguido por pentes e escovas e várias garrafas, e uma grande almofada de
alfinetes notabilizou-se por sua incessante movimentação por todos os cantos da
casa.
Suspeita-se
que a menina — que é espanhola, e está sob os cuidados do Sr. e da Sra.
Williams — é a causa de tudo aquilo, por mais extraordinário que possa parecer
para alguém de sua idade. Mas, até o presente, o acontecimento continua sendo
um mistério, já que o seu modus operandi é invisível para todos – Morning
Post.
Apud
Catherine Crowe, Nigth-Side of Nature, J. S. Redfield, Clinton Hall,
Boston, 1850.
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