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Mostrando postagens de junho, 2025

O FRIO DA MORTE - Conto Clássico Fúnebre - José María Carretero Novilo

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O FRIO DA MORTE José María Carretero Novilo (1887 – 1951) Tradução de Albertus de Carvalho (Séc. XX) O nosso amigo doutor Rivera fez uma pausa muito teatral em seu relato, que já começava a interessar-nos. Antes de prosseguir, encastoou com elegância parisiense o monóculo e olhou-nos um a um. O doutor Rivera, além de um grande médico, era um homem do mundo e um “causeur” muito sugestivo. Possuía esse raro dom que tem algumas pessoas para atrair a simpatia de todos. Seu porte de impecável elegância predispunha em seu favor. Sabia, como ninguém, dar colorido a uma palestra. Estávamos de sobremesa no terraço do Cassino de Madri. Éramos quatro amigos inseparáveis: Pepe Moncada, Alberto Luna, o doutor e eu. Já brilhavam os licores nos pequeninos cálices e começávamos a saborear os ricos havanas, cujo aroma nos ia embriagando docemente, quando o doutor Rivera prosseguiu: — Bem; pois, como vos ia dizendo, por aquele lar passava a maior felicidade. Mara e Jacinto eram jovens, amavam-se...

A PREDIÇÃO - Conto Clássico Sobrenatural - Jean Reibrach

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A PREDIÇÃO Jean Reibrach (1853 – 1827) Tradução de autor desconhecido do séc. XIX —Os fatalistas — disse Paul Ardel — asseguram que ninguém foge a seu destino. Mas força é confessar que, por vezes, ele toma os caminhos mais tortuosos e fantasistas para realizar suas decisões. Haja vista aquele príncipe que, segundo um oráculo famoso, devia ser morto por um leão; morreu em consequência de ferimento recebido de um prego oculto sob um tapete… Mas logo os cabalísticos notaram que o desenho desse tapete representava um leão. Essa aventura é legendaria, talvez apócrifa, mas a que vou relatar é recente e posso afirmar-lhes a autenticidade. Eu encontrara por acaso meu amigo Raol Danville e passeava com ele pelas ruas de Paris, quando, ao passar à vista do Sena, notamos um ajuntamento ante a amurada do rio. Interroguei um transeunte e ele nos disse: —Foi uma mulher que se atirou à água. Ora, Raol era um nadador perito. Instintivamente fitei-o, esperando um ímpeto de dedicação humani...

O QUE TIRARAM DE NÓS - Conto de Ficção Científca e Terror - S. S. Rodrigues

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O QUE TIRARAM DE NÓS S. S. Rodrigues Estava confuso. O silêncio o envolvia. Tudo ao seu redor era obscuro, como se estivesse em um quarto com a luz apagada. Sua visão não se acostumava com a escuridão, era aquele tipo de ambiente que não permitia distinguir nada. Sentia a pressão do medo crescente, e a angústia se fazia mais forte. O rapaz estava começando a se desesperar. Foi então que uma voz chegou aos seus ouvidos. — Não se agite. Fique calmo. As palavras ecoavam em sua mente, mas o medo do desconhecido começava a se tornar mais forte que a curiosidade. Ele tentou procurar a voz em meio ao breu. Ofegante. Sentia apenas o movimento de sua cabeça, parecia não existir um corpo, só sua cabeça. — Por que está tão escuro? Eu… eu não vejo nada! A voz respondeu com um tom enigmático, quase sereno, como se o dono da voz tivesse visto e experimentado tudo aquilo antes. — Isso há de passar… Vai passar, logo — respondeu a voz. Era possível sentir um sentimento triste naquela voz, ...

ESPIRITISMO - Conto Clássico de Horror - Jacques Cézembre

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ESPIRITISMO Jacques Cézembre (1885 – 1949) Tradução de autor anônimo do séc. XX Uma noite, depois de jantar, descíamos a rua Siam, em Brest, o comandante e eu, fumando o nosso cigarro. Falávamos, se bem me lembro, da Polinésia, onde o meu velho amigo navegara numa das últimas embarcações à vela da Marinha de Guerra francesa, quando um cartaz nos fez mudar de conversa. Meio descorado pela chuva, esse cartaz deixava ainda perceber o anúncio duma conferência que se realizara no mês anterior. Não passará a imortalidade dum engodo? E eis por que, antes de chegarmos à ponte giratória do arsenal, o comandante me contou uma história de espiritismo: “Era eu moço, está visto… Passou-se o caso longe daqui, numa dessas cidadezinhas da costa, onde um velho campanário rendado domina o casario que desce até ao porto modesto e sossegado. O inglês e eu traváramos conhecimento à mesa redonda do Co n nétable , onde nos tinham aproximado as anedotas e gracejos dos oficiais do fisco, do escrevente do ...