O FRIO DA MORTE - Conto Clássico Fúnebre - José María Carretero Novilo

O FRIO DA MORTE José María Carretero Novilo (1887 – 1951) Tradução de Albertus de Carvalho (Séc. XX) O nosso amigo doutor Rivera fez uma pausa muito teatral em seu relato, que já começava a interessar-nos. Antes de prosseguir, encastoou com elegância parisiense o monóculo e olhou-nos um a um. O doutor Rivera, além de um grande médico, era um homem do mundo e um “causeur” muito sugestivo. Possuía esse raro dom que tem algumas pessoas para atrair a simpatia de todos. Seu porte de impecável elegância predispunha em seu favor. Sabia, como ninguém, dar colorido a uma palestra. Estávamos de sobremesa no terraço do Cassino de Madri. Éramos quatro amigos inseparáveis: Pepe Moncada, Alberto Luna, o doutor e eu. Já brilhavam os licores nos pequeninos cálices e começávamos a saborear os ricos havanas, cujo aroma nos ia embriagando docemente, quando o doutor Rivera prosseguiu: — Bem; pois, como vos ia dizendo, por aquele lar passava a maior felicidade. Mara e Jacinto eram jovens, amavam-se...