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Mostrando postagens de julho, 2025

UM CRIME HEDIONDO - Conto Clássico de Mistério/Policial - Autor anônimo do séc. XX

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UM CRIME HEDIONDO Autor anônimo do séc. XX Numa pequena povoação da Bretanha, vivia o opulento proprietário M. Dubois, cuja única ocupação consistia em indagar a vida e milagres de seus vizinhos. Ao lado de sua casa, estava situada a Quinta das Rosas, encantadora moradia, na qual residia, desde algum tempo, uma família americana, composta do pai, Sir Jackson, da mãe e da filha de ambos, jovens de dezoito anos, que era uma maravilha de elegância e beleza. Que sorte para M. Dubois! Antes, a quinta era ocupada por um capitão de cavalaria, solteiro, que ali morava em companhia de seu assistente. As coisas mudaram, por fim, de um modo definitivo. M. Dubois não abandonava seu posto de observação detrás dos postigos da janela que dava para o jardim. Uma noite, assim por volta das oito e meia, ouviu profundos soluços que partiam da quinta. Apagou a luz e viu Sir Jackson, sua mulher e sua filha. Esta última era quem soluçava, erguendo nos braços um objeto. —Pobrezinha! Pobrezinha!...

A VELHINHA DA CAMPINA - Conto Clássico de Terror - Pedro Goytacazes

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A VELHINHA DA CAMPINA Pedro Goytacazes (Sécs. XIX e XX) Na margem esquerda do rio Uruguai, muitos quilômetros aquém de sua foz, ergue-se uma cidadezinha modesta nas construções, mas alegre e viçosa no seu conjunto encantador. Aí nasceu Feliciano, o escravo velho e trôpego, ao qual um misterioso acidente arrebatara ambas as mãos, emprestando uma legenda de horrorosa piedade. Eis a sua história, contada ao clarão bruxuleante de um fogão de senzala, em uma noite de inverno, fria e chuvosa: — Como todos os meus, fui gerado no útero pesado de uma escrava que o meu senhor, homem cruel, espancava atrozmente, sem intermitência de um dia. “Débil de construção física, a infeliz cedeu a esse flagício selvagem e, doze anos após ter-me dado à luz, expirava amarrada em um tronco, com as carnes apodrecidas em consequência das lesões produzidas pelas intérminas sevícias. ¨Atiraram-na em uma vala… Dias depois, os corvos arrastavam pela campina sombria pedaços de intestinos ou outros despojo...

UM CRIME - Conto Clássico de Mistério/Policial - Medeiros e Albuquerque

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UM CRIME Medeiros e Albuquerque (1867 – 1934) Quando o Castro foi nomeado para uma delegada do Engenho Novo, os companheiros fizeram-lhe, na Secretaria da Agricultura, onde era oficial, uma ruidosa manifestação de troça. Ofereceram-lhe o retrato, caricaturado por um amanuense gaiato, cobriram-lhe a mesa de papéis picados, à guisa de folhas de rosa, foram esperá-lo à porta da rua, em comissão, e houve mesmo quem perpetrasse um bestialógico. — Nesse momento solene… O Castro, sorrindo, com um largo sorriso amarelo, meio desapontado pelo debique, fingia, entretanto, aceitar de bom grado a caçoada e empertigava-se comicamente. Durante o dia, fez por si só toda a despesa do espírito burocrata. Moeu-se com aquilo. Moeu-se caladamente e prometeu vingar-se. Aquela manifestação que lhe faziam, em ar de pouco-caso, ele a teria muito a sério — jurou-o a seus deuses. E, assim, uma semana depois, ao sábado, os companheiros viram-se todos convidados para tomar uma chávena de chá em casa de...

O DOMINÓ VERMELHO - Conto Clássico de Terror - Caius Martius

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O DOMINÓ VERMELHO Caius Martius 1 Aborrecido dos solavancos que levara pelas ruas, resolvi visitar um clube. Eu estava fora de mim, num estado de semi-inconsciência. Sentia-me embriagado, mas, creia o leitor, que não ingerira bebida espirituosa. Depois que os médicos me declararam haverem constatado em mim uma dilatação da aorta, abstive-me de beber. Não que a morte me apavorasse, mas unicamente para satisfazer aos amigos. A embriaguez que experimentava era, pois, oriunda dos lança-perfumes ou, talvez, do cheiro da carne que, nestes dias de Carnaval, se vende barato, de graça, quase, embora custe muito caro depois. Penetrei no grande salão feericamente iluminado; sentia-se ali uma atmosfera de chumbo. Odor de flores com odor de corpo se misturavam, se fundiam, asfixiavam a quem vinha de fora. Dançava-se; não se dançava, saltava-se, pulava-se — verdadeiro pandemônio. Vozes de falsete, risos discretos, jazz-ba nds por todos os cantos — uma alucinação. Procurei um luga...

CONTO DOS TRÊS BEIJOS - Conto Clássico Fantástico - Padre Manuel Bernardes

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CONTO DOS TRÊS BEIJOS Padre Manuel Bernardes (1644 – 1710) É digno de admiração o caso que traz o padre Martim Del Río 1 , onde se vê como, por cobiça de ouro, deu um homem ósculos no demônio, e esteve a pique de ir ao inferno. No ano de Cristo de mil quinhentos e vinte, em Basileia, cidade principal de Alemanha, para a parte da antiga Augusta dos Rauracos, de cujas minas cresceu depois a mesma Basileia, há uma gruta ou caverna subterrânea onde, não sei por que modo, entrou certo homem simples, alfaiate de ofício, e caminhou pelo interior dela maior espaço do que outros curiosos até então tinham andado, e depois contava estupendas cousas que ali vira. Levando na mão aceso um círio bento, foi ardendo, acompanhado somente da sua simplicidade, até chegar a uma porta de ferro; depois da qual entrou em várias abóbadas, e de uma e outra veio a sair a uns jardins e hortas ameníssimas, no meio das quais estava uma aula 2 magnificamente ornada. Entretanto, nesta viu uma donzela formos...