O PONTO VERMELHO - Conto Clássico Policial de Arthur Conan Doyle
O PONTO VERMELHO
Arthur
Conan Doyle
(1859
– 1930)
Holmes
era multo acessível pelo lado do elogio e a Sra. Warren, que o conhecia, procurava-o sempre por esse lado.
—Vamos
ver, senhora. Está incomodada porque o novo pensionista não sai do seu quarto e
jamais se deixou ver. Bem, tranquilize-se e explique-me o assunto com todos os
detalhes. Dizia a senhora que esse homem se apresentou há dez dias e pagou a
pensão por uma quinzena?
—Sim,
senhor. Pagou-me o dobro do que lhe pedi com a condição de lhe dar uma chave da
porta da rua e de não procurar vê-lo, em nenhuma circunstância, em seus
aposentos. Desde há dez dias nada tenho visto. Ouvimos os seus passos pela
manhã, à tarde e à noite. Excetuando, porém, na primeira noite, não tem saído
de casa.
—Ah!
Saiu na primeira noite?
—Sim,
senhor, e voltou muito tarde, quando todos estavam deitados. Quando tratou o
quarto, disse-me que sairia à noite, e muito me pediu que não pusesse o
ferrolho na porta da rua.
—E durante as refeições?
—Com respeito a isso, insistiu muito em que,
quando tocasse a campainha, e, só assim, deixássemos a comida sobre uma cadeira
que poria no corredor diante de sua porta. Assim se fez. Quando acaba de comer,
torna a chamar, e tiramos a bandeja de cima da cadeira. Se necessita de alguma
coisa, indica com uma só palavra em um pedacinho de papel, escrevendo-a com
letra de imprensa e deixa na bandeja.
Aqui tenho um de seus escritos: "Sabão". Aqui outro: "Fósforo".
Esta manhã deixou este: "A Gazeta". Ao levar-lhe o almoço, deixei o
jornal que pediu.
—Isso
é muito raro — disse Holmes examinando os papéis. — Para que empregar letras de
imprensa?
—Para
ocultar sua caligrafia — respondeu Watson.
—É
sugestiva tanta precaução. Dizia a senhora que o homem era de altura regular,
moreno e barbado? Que idade aparentava?
—Muito
moço, ainda. Uns 30 anos.
—Recorda-se
de algum outro detalhe?
—Falava
corretamente o inglês com um acento estrangeiro e vestia-se como um gentleman.
—A
Sra. Recebe alguma coisa que nos possa
dar melhores luzes?
A
mulher tirou de uma carteira dois fósforos gastos e uma ponta de cigarro, pondo
sobre a mesa.
—Isto
estava na bandeja hoje de manhã.
—Vejamos.
Os fósforos, pela parte queimada, indicam que foram usados para acender
cigarros. O cigarro, só um homem perfeitamente barbeado pôde ter fumado até a
ponta e o homem tem barbas e bigodes! O assunto interessa-me e não o perderei
de vista. Pode ir tranquila, Sra. Warren e, se houver alguma novidade, avise-me. Se o meu auxílio
chegar a ser necessário, conte com ele.
Pouco
depois de a Sra. Warren haver-se retirado, disse-me Holmes:
—
O caso é extraordinário. A pessoa que
vive nos aposentos não é a mesma que os alugou. Sua saída na primeira noite
justifica isso, pois voltou outra pessoa distinta. O homem que alugou o quarto
falava o inglês corretamente. Porém, o que ficou escreve "fósforo" em
vez de fósforos. Julgo que a palavra foi copiada de um dicionário, onde os
substantivos estão no singular e não no plural. O seu laconismo serve para ocultar
o pouco conhecimento da língua inglesa. Aqui está precisamente o problema.
Temos, por sorte, um bom elemento para as investigações.
Tomando
um grande livro onde anotava os avisos pessoais, publicado nos jornais de
Londres, disse, ao folheá-lo:
—
Essa pessoa vive escondida e se receber cartas quebrará o segredo absoluto que
deseja conservar. Como lhe chegará, porém, alguma comunicação de fora?
Evidentemente, por um anuncio posto num jornal. Eis aqui os anúncios publicados
em "A Gazeta" durante a última quinzena. "Senhora com boa negra
no Clube de Patinação" — este
podemos passar por alto; "Jimmy, não prolongue o tormento de sua mãe"
— sem nenhuma importância para nós; "se a mulher que desmaiou no ônibus de
Briston" — não me interessa. Bem, o que vem agora é mais provável: "Olga,
tenha paciência. Arranjaremos um meio seguro de nos correspondermos. Por enquanto,
nesta coluna. G." Este foi publicado dois dias depois da chegada do
pensionista da Sra. Warren. Existe uma relação, hein? Sem dúvida, a pessoa misteriosa
compreende o inglês, mas não sabe escrevê-lo. Vejamos se há outro contato. Sim,
há, aqui, um outro. Três dias depois, o aviso dizia: "Estou realizando
preparativos satisfatórios. Paciência e prudência. As nuvens passaram. G.".
Depois, publica-se alguma coisa mais definida: "O caminho está
desimpedido. Você chegará a ter ocasião de se comunicar por sinais. Lembra-se
do código combinado? Uma, “a” — duas,
“b”, e assim sucessivamente. Breve terá notícias. G".
Este apareceu no jornal de ontem e no de hoje não há nenhum. Pode haver muita
relação com o pensionista da Sra. Warren. Esperemos, Watson. Não tenho dúvidas
de que dentro em pouco o assunto será mais inteligível.
Efetivamente,
assim foi.
Pela
manhã, encontrei o meu amigo de pé, envolto em um roupão, com um sorriso de
satisfação nos lábios.
—
Ouça, Watson — exclamou, tomando um jornal de cima da mesa. — "Casa de
sobrado vermelho, com cantaria de pedra branca. Terceiro andar, segunda janela à
esquerda. Depois de anoitecer. G." É bastante definido. Parece-me conveniente
que, depois do almoço, façamos uma pequena exploração na vizinhança da casa da Sra.
Warren. Olá, Sra. Warren! Que notícias
traz, esta manhã?
A
mulher acabava de entrar repentinamente, trazendo uma expressão de energia e de
urgência, que denunciava alguma ocorrência multo importante.
—A
polícia tem que intervir, Sr. Holmes! Não posso admitir um momento sequer.
Acabou-se a minha paciência, porque, quando chegaram a ferir o meu marido...
—Feriram
o seu marido, Sra. Warren?
—Pelo
menos o trataram brutalmente.
—E
quem o maltratou?
—Isso
é o que queremos saber. O meu marido está encarregado do registro de entradas e
saídas de empregados do Estabelecimento Marton. Esta manhã, saiu de casa, como
de costume, e não havia, ainda, dado dois passos, quando dois homens o
agarraram por detrás e lhe puseram um saco na cabeça, botando-o, em seguida,
num carro que estava próximo à calçada. O carro correu durante uma hora, no fim
da qual os salteadores abriram a porta e fizeram descer o meu marido. Ele ficou
um momento atirado no meio da rua, tão desconcertado, que nem se lembrou de ver
para onde tinha ido o carro. Por fim, podendo levantar.se, encontrou-se num lugar
chamado Hampetead Heath. Tomou um ônibus e voltou para casa. Aí, atirou-se num
sofá, enquanto eu vinha contar-lhe o que
se passou.
—Muito
interessante — disse Holmes. — Observou
o aspecto desses homens? Ouviu-os falar?
—Não;
ficou como que atordoado. Só sabe que foi carregado e atirado no carro, como
nas mágicas. Eram dois homens, pelo menos; talvez, três. O que devo fazer, Sr.
Holmes?
—Tenho
um vivo desejo de ver o seu inquilino, Sra. Warren.
—Parece-me
impossível, a não ser que se deite a porta abaixo. Ao descer as escadas, depois
de haver deixado a bandeja, ouço, sempre que ele corre os ferrolhos.
—Sim...
Porém, tem que apanhar a bandeja, para levá-la para dentro. É possível, que,
nos ocultando em alguma parte próxima, o vejamos nesse momento.
A
mulher pensou um instante.
—Sim... Há, em frente, um pequeno quarto de tabique.
Se o Sr. ficar ali, por detrás da porta...
Às
12 e meia nós nos achávamos à porta da casa da sra. Warren, um edifício alto,
sombrio, de ladrilhos amarelos, situado na rua Great Orme, uma ruazinha
estreita que se acha a nordeste do Museu Britânico. Dada a sua situação junto a
uma esquina, da casa se avista a rua
Hode com as suas casas já mais importantes. Holmes indicou-me, sorrindo, um
grupo de casas baixas que sobressaíam tanto que se dava com elas à primeira vista.
—Veja,
Watson!... "Casa de sobrado com cantaria de pedra". Essa é a estação
de sinais. Conhecemos o local e, também,
o código.
Nossa
tarefa, portanto, seria fácil.
—
Em uma das janelas há um cartão que diz: "Aluga-se". Evidentemente, é
um local desocupado onde têm acesso os cúmplices. Olá, Sra. Warren, que há de
novo?
—Já
está tudo pronto. Iremos em segundo. Seria bom que tirassem as botinas.
Haviam
preparado um excelente esconderijo. Na parede oposta à porta, a sra. Warren
havia colocado um pequeno espelho, de
modo que, sentados por trás da porta, poderíamos ver a habitação misteriosa. Apenas
nos havíamos instaurado, um toque de campainha anunciou que o pensionista havia
chamado. Pouco depois, a Sra. Warren apareceu com uma bandeja que deixou sobre
a cadeira, junto à porta fechada, voltando rapidamente pelo mesmo caminho.
Encolhidos atrás da porta, não tirávamos os olhos do espelho. De repente,
ouvimos um ruído de ferrolho puxado e vimos abrir-se, cautelosamente, a porta,
aparecendo duas mãos delgadas que retiraram apressadamente a bandeja. Momentos
depois, a porta se entreabriu de novo, a
bandeja foi colocada na cadeira e vimos
um formoso rosto moreno que, com expressão de terror, olhava para o quartinho
onde nos achávamos ocultos. A porta fechou-se e tudo se tornou outra vez silêncio.
Holmes
tocou-me no braço e, sem dizer palavra, saímos do nosso esconderijo.
—Voltarei
esta noite — disse ele à senhora, que nos esperava ansiosa.
—Parece-me,
Watson, que em nossa casa consideraremos melhor o assunto.
—
A minha suspeita, como você acaba de ver, foi confirmada — disse ele, uma vez
chegados à casa, sentando-se numa cadeira de braços. —Houve uma substituição de
inquilinos. O que eu previ era que nos encontraríamos com uma mulher e uma mulher pouco comum,
Watson.
—Ela
nos viu.
—Quer
dizer... viu alguma coisa que a espantou. Isso é evidente. Parece-me fácil formular esta suposição: um casal procurou em
Londres um refúgio contra um perigo terrível e imediato. O grau desse perigo
está de acordo com as precauções que adotam. O homem deve fazer certas coisas e
quer colocar a mulher em absoluta segurança, enquanto faz o que pretende. Não é
um problema fácil, porém, ele o resolvera de uma maneira original e com tanta eficácia
que a presença da mulher permanece ignorada até pela pessoa que lhe leva as
refeições, diariamente. Os papeis escritos com letra de imprensa se justificam
pelo propósito de evitar que a caligrafia revelasse o sexo. O homem não pôde visitar a mulher: do contrário,
se arriscaria a indicar onde se oculta. E como é possível comunicar-se diretamente com ela,
recorre aos avisos pessoais de um jornal. O insignificante e até ridículo
problema da Sra. Warren amplia-se e assume um aspecto sinistro à medida que avançamos no assunto. Trata-se de
uma questão de vida ou de morte. O assalto ao marido da Sra. Warren demonstra que
o inimigo, qualquer que ele seja, não tem conhecimento da substituição do
pensionista homem por uma mulher.
Quando
voltamos à casa da Sra. Warren era da noite. Enquanto espiávamos, uma luzinha
brilhou na janela em frente.
—Aí está! — disse Holmes — Está olhando. Faz sinais
com a luz, ocultando-a com intermitências. Receba a mensagem, Watson, para
compará-la depois com a minha versão. Uma só vez: é “a”, seguramente, Olhe bem. Quantos contou? Vinte? Eu também,
significa “at”; é bastante inteligível.
Outro “t”. Sem dúvida, é o começo de
uma palavra. Conte, conte! “Attenta”.
Volta a fazer os sinais. “Attenta”, três
vezes. É italiano. “Attenta!”. Como
se disséssemos: “cuidado!” De novo
começam os sinais: “Pericolo”. O que quer dizer isso, Watson? “Perigo”, não é mesmo? Sim, é sinal de perigo.
Agora continua: “Peri”. O que houve?
A luz acaba de apagar-se de repente. Isto se torna sério, Watson; venha,
atravessemos a rua e vamos pessoalmente ver o que há.
Ao
atravessar rapidamente a rua, pude ver, vagamente esboçada na janela alta, uma
cabeça de mulher que esperava ansiosamente, em suspense, a continuação da
mensagem interrompida. Na entrada da casa da rua Howe estava Gregson, o celebre
agente de polícia, acompanhado do oficial Leverton disfarçado em cocheiro.
Admirando-se,
ambos, que Sherlock Holmes tivesse conhecimento do assunto, explicaram que se
tratava de Gorgiano, o celebre membro da Máfia
do Ponto Vermelho. No momento, saíram da casa três indivíduos; nenhum,
porém, era Georgiano.
Holmes
contou-lhes o que acabava de ver e subimos todos ao apartamento de onde
partiram os sinais. O quadro era horrível! No centro do quarto, jazia,
estendido, o corpo de um homem enorme, cujo rosto, escuro e grotesco, causava
repulsão.
—É
Gorgiano! — exclamou, impressionado, o
agente Gregson.
Holmes
havia acendido uma vela que estava junto à janela e começou a fazer sinais. Em
seguida, esquadrinhou a escuridão da rua
e apagou a vela.
—Diziam
vocês que saíram três pessoas da casa? Observaram-nas bem? Passou algum indivíduo
de barba preta, moreno e de estatura mediana?
—Sim,
foi o último a sair.
—É
o homem de que necessitam e para dar com ele é que chamei esta senhora.
Voltamos
todos ao ouvir isto.
À
porta, acabava de aparecer uma mulher alta e formosa: a misteriosa pensionista
da sra. Warren.
—
Os senhores o mataram? Os senhores o mataram? — exclamou em um lanço violento de
alegria. — Quem são os senhores?
—Da
polícia, senhora.
O
seu olhar, então, examinou os ângulos escuros da habitação.
—
Onde está Genaro? perguntou. Genaro Lucca, meu marido. Viemos de Nova Iorque.
Chamou-me há um instante desta janela...
—Fui
eu quem a chamou, disse Holmes.
A
formosa italiana encarou com visível temor o meu companheiro.
—Não
compreendo como sabe o senhor destas coisas... Gorgiano... Como foi... — interrompeu-se; porém, em seguida, adquiriu uma expressão de orgulho: — Oh! Já sei! Foi meu marido que matou este
monstro abominável e não haverá um juiz que o possa castigar...
—
O melhor — interrompeu Holmes — será acompanhar esta senhora à sua casa e pedir-lhe
que nos ponha ao corrente desta história.
Assim
o fizemos e meia hora depois a Sra. de Lucca nos fazia a seguinte narração:
"— Nasci em Posilipo, perto de Nápoles. Meu
pai era Augusto Barolli, advogado e deputado.
Genaro
era empregado de meu pai e eu me enamorei dele. Meu pai recusou o nosso casamento
porque Genaro era muito pobre. Resolvemos fugir. Vendi minhas joias e fomos para
a América do Norte. Há quatro anos,
desde então, temos vivido em Nova Iorque. A sorte nos ajudou a princípio.
Genaro teve ocasião de prestar um bom serviço a um senhor italiano, Tito Costalotte.
Era sócio principal da casa Costalotte e
Lomba, importadora de frutas.
O
senhor Lomba é um inválido e o nosso amigo Costalotte era a única autoridade na
casa. Deu um emprego ao meu marido como chefe de um departamento.
O
Sr. Costalotte era solteiro e apreciava Genaro como se fosse um filho. O nosso
futuro parecia seguro, quando uma nuvem negra cobriu de pronto o céu.
Uma
noite, no momento em que Genaro regressava do trabalho, encontrou na rua um seu
patrício e o trouxe para casa. Chama-se ele Gorgiano e tinha vindo, também, de
Posilipo. Tudo nele era grosseiro e terrível. Era um homem terrível pela
monstruosidade das suas paixões. Voltou a visitar-nos várias vezes e cada vez
mais frequentemente. De pronto, compreendi, que Genaro não ficava mais
satisfeito do que eu com a presença do visitante. Meu pobre marido permanecia
silencioso, escutando as questões sociais que constituíam a conversa de
Gorgiano. Meu marido nada dizia; eu, porém, que o conheço bem, lia em seu rosto
uma emoção que nunca tinha visto, antes: um temor profundo, secreto,
deprimente.
Uma
noite, em que vi claramente o seu terror, atirei-me aos seus braços e implorei,
em nome do nosso amor, em nome daquilo que mais quisesse no mundo, que não me ocultasse
nada, que me dissesse porque esse homem monstruoso exercia sobre ele tão
estranho poder...
Disse-me
ele. Gelava-me o coração à medida que eu
o escutava. Meu pobre Genaro, em seus tempos da angustia e dificuldades, havia
ingressado em uma sociedade secreta napolitana, no "Ponto Vermelho",
semelhante à Máfia dos Carbonários.
Os
juramentos secretos desta sociedade secreta são terríveis.
Imaginem
os senhores seu horror na noite em que se encontrou, na rua, com o mesmo homem
que o havia iniciado em Nápoles, o gigante Gorgiano, um homem que na Itália
havia merecido o nome de "A morte", vermelho até a alma pelo sangue
de seus crimes...
Havia-se
dirigido a Nova Iorque por ser perseguido da polícia italiana e, tempos depois,
organizava uma ramificação da terrível sociedade secreta.
Tudo
isso me disse Genaro e me fez ver uma intimação que acabava de receber, marcada
com um círculo vermelho, na qual se lhe ordenava que se apresentasse a uma
reunião celebrada pelos conjurados.
Isso era mau; porém, o pior foi o que se
seguiu.
Eu
tinha tido a desgraça de despertar em Gorgiano um amor selvagem. Uma noite em
que Genaro ainda não havia voltado à casa, o monstro entrou, apertou-me nos
seus braços brutais, beijou-me e me implorou que fugisse com ele. Eu me debatia
e gritava no instante em que Genaro entrou. O monstro deu-lhe um formidável
golpe que o deixou sem sentidos e fugiu da casa onde não deveria voltar jamais.
Essa noite adquirimos um inimigo implacável. Poucos dias depois, realizou-se a
reunião dos conjurados. A sociedade coletava os seus fundos mediante extorsões
contra os membros ricos da coletividade italiana, aos quais ameaçava de morte
no caso que se negassem a entregar o dinheiro que se lhes exigiam.
Por instigações de Gorgiano, a confraria
resolveu fazer uma chantagem contra
Costalotte, e, naturalmente, o meu marido foi encarregado pelo "Ponto
Vermelho", para cometê-la. Negando-se Costalotte, ficaria determinado
fazer voar a sua casa com dinamite.
Advertimos
o nosso benfeitor do que se passava e pusemos a polícia ao corrente de tudo.
Partimos para Londres, e, aqui... o resto sabem os senhores.
Gorgiano
queria vingar-se e nos seguiu. Meu marido empregou alguns dias de nossa
precipitada viagem para achar-me um refúgio onde eu estivesse fora de todo o perigo possível. Por seu lado, ele queria ficar livre para
poder comunicar-se com as polícias norte-americana e italiana. Eu nem sequer
sei onde ele vive e como. O pouco que conseguia saber me chegava por intermédio
dos avisos de um jornal. Certa vez, ao olhar a rua, vi dois italianos vigiando
a casa e compreendi logo que Gorgiano havia descoberto o nosso refúgio secreto.
Por fim, Genaro me fez saber, sempre por intermédio do diário, que me faria sinais
de uma certa janela. Com efeito, apareceram os sinais, porém eram só avisos de perigo e foram interrompidos,
bruscamente. Parece-me evidente, agora,
que meu marido sabia que Gorgiano andava perto, muito perto, e que graças a
Deus, estava preparado...
E
agora, senhores, lhes peço que me digam se alguma coisa temos que temer da Lei
e se há no mundo, algum juiz capaz de condenar o meu Genaro pelo que ele fez”.
—
Senhor Gregson — disse Holmes dirigindo-se ao agente inglês —, não sei qual
será o ponto de vista das leis com respeito a este caso; porém, me atreveria a
afirmar que o esposo desta senhora mereceria um voto de agradecimento geral.
—
É preciso que a senhora venha comigo e
veja o chefe — respondeu Gregson. — E se o que disse for confirmado, penso que
nem seu esposo nem a Sra. terão multo que
temer. Porém, o que ainda não me explicou, Sr. Holmes, é como chegou a se ver
intervindo neste assunto.
—
Educação, Gregson, educação... Sempre buscando novos conhecimentos na universidade
velha. E, você, Watson aqui tem um exemplo mais do tragi-grotesco para aumentar
a sua coleção! Ah, diga-se de passagem: ainda não são 8 horas e esta noite
temos uma audição de Wagner no Covent Garden! Se nos apressamos um pouco, chegaremos a tempo
para o segundo ato.
Tradução de autor
desconhecido do início do séc. XX. A presente narrativa, uma versão condensada,
em português, do conto "The Adventure of the Red Circle", foi
publicada originalmente na revista “Vida Policial”, edição de 9 de maio de 1925.
Fizeram-se pequenas adaptações textuais.
Imagens: H. M Brock,
Joseph Simpson e Richard Wallace.
Muito bom poder ler essa vertente do Conan Doyle. Muito obrigado pela postagem!!
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