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Mostrando postagens de julho, 2022

PRESAS QUE RASGAM MINHA CARNE - Conto de Terror - Maycon Guedes

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  PRESAS QUE RASGAM MINHA CARNE Maycon Guedes     Samanta acelerou o passo no exato momento em que viu o portão do cemitério aberto. Ela não tinha outra escolha a não ser entrar naquele local macabro para fugir de seu agressor. Seu marido a perseguia ferozmente e, sabendo dos danos que sofreria, Samanta não hesitou em se esconder na escuridão daquele lugar fúnebre. Permeada pelo sono eterno dos mortos, sentindo o calafrio percorrendo todo o seu corpo marcado pela violência, a pobre vítima refletiu que, por mais assustador que aquele lugar demonstrava ser, não era mais assustador que a vida fora dali; era muito melhor estar entre os mortos naquela madrugada fria. Um grande jazigo velho de grades enferrujadas chamou a atenção de Samanta - ali seria o local de seu refúgio. Com facilidade ela abriu as grades, sentindo a ferrugem úmida grudar em suas mãos e, em silêncio e imóvel, ela se camuflou entre as velhas coroas de flores que estavam ali dentro.     O agressor parou bem pr

LÚCIO TRANSFORMADO EM ASNO - Narrativa Clássica Sobrenatural - Lúcio Apuleio

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LÚCIO TRANSFORMADO EM ASNO Lúcio Apuleio (c. 125 – c. 170)   Certo dia, Fótis, tomada pelo medo, correu para mim e disse que a sua senhora, querendo juntar-se a um homem que desejava, e não tendo outros meios de satisfazer-se, pretendia, na noite seguinte, transformar-se num pássaro e voar ao bel-prazer. Disse-me, pois, que eu me preparasse para ver, secretamente, aquele prodígio. E quando chegou a meia-noite, ela me levou, discretamente, nas pontas dos pés, para uma câmara alta, e me mandou olhar pela fresta de uma porta. Primeiro, vi como a senhora Panfília desnudou-se completamente. Depois, abriu um pequeno cofre, de onde tirou algumas bolsas, e, abrindo uma destas, derramou nas palmas das mãos uma espécie de unguento. Então, com ele, esfregou o corpo, untando-se da ponta dos pés ao topo da cabeça. E, depois de ter pronunciado, em segredo, palavras sacramentais, tendo a vela na mão, começou a sacudir e a ondular todos os membros. Foi quando notei que plumas começaram a b

A VERDADE SOBRE O CASO DO SENHOR VALDEMAR - Conto de Terror - Edgar Allan Pöe

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  A VERDADE SOBRE O CASO DO SENHOR VALDEMAR Edgar Allan Pöe (1809 – 1849) Tradução de Paulo Soriano     Publicado originalmente em 1845, A Verdade sobre o Caso do Senhor Valdemar é um conto de horror que registra a submissão de um homem, no momento de sua morte, a um transe mesmérico (hipnótico) e suas hediondas consequências. A narrativa de Pöe pareceu tão verossimilhante ao espírito de sua época que inúmeros leitores — e mesmo estudiosos — acreditaram que o texto compunha, verdadeiramente, um relatório de um horripilante experimento científico.   Evidentemente, não pretendo considerar surpreendente que o extraordinário caso do senhor Valdemar haja despertado tantas discussões. Seria um milagre se acontecesse o contrário, dadas as circunstâncias. Malgrado fosse o nosso desejo manter o assunto distante do público — pelo menos por enquanto, ou até que surgissem novos meios de investigação —, não demorou a difundir-se, apesar de nossos esforços de sigilo, uma versão tã