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Mostrando postagens de junho, 2023

O VASO MACABRO - Conto Clássico Sobrenatural e de Horror - Giovanni Boccaccio

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  O VASO MACABRO Giovanni Boccaccio (1313 – 1375) Tradução de Paulo Soriano     Havia em Messina três jovens irmãos, mercadores, que ficaram muito ricos depois da morte do pai, este natural de São Geminiano. Tinham eles uma irmã chamada Lisabetta, jovem muito bela e cortês, que eles mantinham ainda solteira, fosse qual fosse a razão. Em um armazém, empregavam os irmãos um jovem de Pisa, de nome Lorenzo, que dirigia e cuidava de todo os negócios dos jovens mercadores. Sendo Lorenzo muito formoso e elegante, e vendo-o Lisabetta muitas vezes, passou a gostar extraordinariamente do mancebo. Percebendo a inclinação da moça, Lorenzo abandonou as namoradas, concentrando as suas esperanças em Lisabetta. E de tal modo andavam as coisas que, amando-se um ao outro, em não muito tempo atreveram-se a consumar o seu mais arrebatado desejo. E assim prosseguiram, passando muitos bons e prazerosos momentos. Não souberam, porém, manter em segredo o que faziam, pois, certa noite, indo ela furtivamente ao

PERNAS DE MÁRMORE - Conto Clássico Fantástico - Carlos Mesía de la Cerda

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  PERNAS DE MÁRMORE Carlos Mesía de la Cerda (Antes de 1865 - 1919) Tradução de Paulo Soriano   Havia um grande escultor italiano que era casado com uma das mais belas mulheres de seu país. Entre as muitas obras de cuja execução se encarregara, uma delas era a de uma Vênus, encomendada por um príncipe muito rico e dado às artes. Tinha já o nosso artista escolhido a grande pedra da qual resultaria toda uma deusa do amor e, depois que os aprendizes deram alguma forma ao formoso pedaço de mármore de Gênova, o mestre pegou o martelo e o cinzel e começou a extrair a linda figura em que deveriam estar reunidas todas as graças e beleza corporal da mulher. Escolheu para modelo a sua própria, por ser admiravelmente bem-feita, excetuando-se as pernas, que eram um pouco curtas, defeito muito comum no belo sexo.   E, como não podia valer-se de sua cara metade para copiar esta parte do corpo, teve de valer-se de outro modelo que as tivesse completamente bem formadas e perfeitas. P

O CONDE DE ALGECIRAS, VAMPIRO - Narrativa Clássica de Terror - Antonio Joaquín de Rivadeneyra y Barrientos

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  O CONDE DE ALGECIRAS, VAMPIRO Antonio Joaquín de Rivadeneyra y Barrientos (1710 – 1772) Tradução de Paulo Soriano     A narrativa do Conde de Algeciras é um dos mais antigos relatos vampíricos em língua espanhola, escrito pelo fidalgo hispano-mexicano Antonio Joaquín de Rivadeneyra y Barrientos. Foi publicada em Madri no ano de 1753.     Algeciras — de que se haviam apoderado os mouros desde a perda da Espanha, como pertencente a seu guia, o conde Dom Julián — foi recuperada por El Rei Dom Afonso XI, Há, até hoje, em Algeciras, um castelo com o seu nome, em que o vulgo quer haver deixado o conde ocultos os seus tesouros; e, no populacho, não falta quem esteja persuadido de que o conde, de tempo em tempo, vem visitar as suas riquezas, maltratando os que encontra alojados nesse castelo. Há loucuras — filhas do sonho ou da ilusão, ou da aparência ou do terror — que aspiram a fazer o corpo deste infeliz conde (porque, quanto à alma, terão muito que descobrir onde De

O MONSTRO DE PELOS VERDES - Conto Clássico de Terror - Yuan Mei

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  O MONSTRO DE PELOS VERDES Yuan Mei (1716 – 1797)   Havia, no Condado de Ruicheng, província de Shanxi, um templo. Sobre ele, teciam-se rumores de que, em seu interior, existiam entes monstruosos. Por isto, os monges que ofertavam incenso não se atreviam a habitá-lo.  Certo dia, um mercador de Shaanxi vendeu uma miríade de ovelhas. Ao entardecer, e não tendo onde descansar, procurou abrigo no templo.  Lá estando, ouviu um barulho sob o trono dedicado a uma divindade.  Dali, algo saltou.  O mercador de ovelhas olhou para a manifestação à luz da vela. Era um ser monstruoso, que tinha sete ou oito pés de comprimento, e cuja face cobria-se com uma máscara de feições humana. Viam-se, na aparição, dois olhos escuros e brilhantes, do tamanho de uma noz. Tinha ela, do pescoço para baixo, o corpo coberto de cabelos verdes, desgrenhados como um velho casaco felpudo.   Farejando e olhando de soslaio para o mercador, com garras afiadas em ambas as mãos, a coisa avançou para agar

O CHARUTO ROMANESCO - Conto Clássico de Mistério - Guillaume Apollinaire

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  O CHARUTO ROMANESCO Guillaume Apollinaire (1880 – 1918) Tradução de Paulo Soriano   — Há alguns anos — disse-me o barão d'Ormesan —, um amigo me ofertou uma caixa de charutos cubanos, recomendando-me por ter a mesma qualidade daqueles consumidos pelo falecido rei da Inglaterra. À noite, ao levantar-lhe a tampa, deveras regozijei-me com o aroma que exalavam aqueles maravilhosos charutos. Eu os comparei com os torpedos cuidadosamente arranjados em um arsenal. Pacífico arsenal! Torpedos inventados pelos sonhos para combater o tédio! Então, tomando delicadamente um dos charutos, descobri que minha comparação com os torpedos era imprecisa. Parecia mais o dedo de um homem negro, e o anel de papel dourado aumentava a ilusão que a bela cor marrom me sugeria. Perfurei o charuto com cuidado, acendi-o e comecei a dar boas e aromáticas baforadas. Depois de alguns instantes, passei a sentir na boca um sabor desagradável; pareceu-me que a fumaça do charuto cheirava a papel queima

MACABRO SÃO JOÃO - Conto de Terror - Paulo Soriano

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  MACABRO SÃO JOÃO Paulo Soriano   Como fazia todos os anos, Paulino Silvino Malta vestiu roupas domingueiras, abrigou-se sob velho terno negro com o qual se casara há nove anos, ajustou na bainha a velha espada de prata herdada do avô Silvino e foi, com a mulher, enfiada numa saia colorida plissada, comemorar o São João no Arraial das Cotias. Na festa, durante a dança da quadrilha, ele era o imperador. Recebia manto, cetro e coroa de latão, depois sentava-se ao trono junto à esposa imperatriz, e, terminada o baile sanfonado, escolhia, entre os súditos, o par mais animado, que se sagrava duque e duquesa do festejo. Então, as gentes comiam bebiam até o limiar da madrugada. Saiu da fazenda Boa Sorte às seis da noite, deixando Luís Raimundo — o único filho de oito anos — sob os cuidados da velha Teresinha, uma velha amiga. Raimundinho era esperto. Noite alta, fingiu que caía no sono, esperou a velha guardiã adormecer na cadeira de vime e saiu para brincar, sozinho, ao abrigo

ROSAMUNDA - Narrativa Clássica de Horror - Paulo Diácono

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  ROSAMUNDA Paulo Diácono (C. 720 – 799)   Os valentes lombardos venceram os gépidas [1] com tal fúria que os reduziram à destruição total: de uma multidão de guerreiros, sobreviveu apenas um mensageiro.   Nessa batalha, Alboíno, rei dos lombardos [2] , matou o rei inimigo Cunimundo [3] , e fez de sua cabeça — que trouxe consigo — uma taça de beber. Esse tipo de cálice é chamado entre eles “scala”, e, na língua latina, “patera”. E levou cativa a filha de Cunimundo, chamada Rosamunda, junto com uma grande multidão de ambos os sexos e de todas as idades. E porque Clodosvinda, sua esposa, havia morrido, o rei lombardo casou-se com Rosamunda, para seu próprio infortúnio, como depois se fez evidente.   * Depois que Alboíno governou a Itália por três anos e seis meses, foi morto pela traição de sua esposa, Rosamunda, e a causa de seu assassinato foi a que passo a narrar. Estando o rei sentado em um banquete, que se estendia mais longamente do que o apropriado, com a taça que

SUPERSTIÇÃO VAMPÍRICA - Narrativa Clássica Cruel - Anônimo do Séc. XIX

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  SUPERSTIÇÃO VAMPÍRICA Anônimo do séc. XIX   No tribunal superior de Berlim acaba de ser julgada uma causa pela qual se vê que ainda está arraigada entre os polacos e magiares a superstição dos vampiros, segundo a qual os mortos saem durante a noite dos seus túmulos para irem sugar o sangue das pessoas com quem tiveram relações durante a vida. Um fidalgo polaco tinha falecido no seu Castelo de Roslasin em fevereiro passado, ficando toda a sua família de perfeita saúde; algumas semanas depois, seu filho mais velho foi atacado de um mal desconhecido e inexplicável, que o arrebatou deste mundo em poucos dias, dando-se idênticos casos entre outros dos seus próximos parentes. Em vista disto, pois, desde logo se julgou que o finado pai era um vampiro e que os acidentes que se davam eram o resultado das suas visitas. Um filho segundo, querendo fugir à sorte de seu irmão, mandou exumar o cadáver de seu pai, cortou-lhe a cabeça, que colocou debaixo dos pés, enquanto outro indivíduo