O QUE A LUA TRAZ CONSIGO - Conto Clássico de Terror - H. P. Lovecraft
O QUE A LUA TRAZ CONSIGO H. P. Lovecraft (1890 – 1937) Tradução de Paulo Soriano Eu odeio a Lua – e a temo – porque, quando ela ilumina certas cenas familiares e queridas, às vezes as converte em coisas estranhas e repugnantes. Foi no verão espectral que a Lua brilhou no velho jardim por onde eu vagava. Era o espectral verão de flores narcóticas e mares úmidos, de folhagens que evocam sonhos selvagens e multicoloridos. E, enquanto eu caminhava à beira do riacho raso e cristalino, vi estranhas ondulações pontilhadas de luz amarela, como se aquelas águas plácidas fossem arrastadas por correntes irresistíveis para estranhos oceanos que inexistentes neste mundo. Silenciosas e faiscantes, brilhantes e funestas, aquelas águas amaldiçoadas pela Lua corriam de encontro a um destino ignoto; e isto enquanto, nas margens onduladas, flores de lótus brancas flutuavam, uma a uma, ao vento opiáceo da noite, e caíam desesperadamente sobre o riacho, rodopiando, horrivelmente, sob o arco da ponte