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O PARAÍSO DOS GATOS - Conto Clássico Fantástico - Émile Zola

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O PARAÍSO DOS GATOS Émile Zola (1840 – 1902) Tradução de autor anônimo do séc. XIX Nunca vi gato mais parvo que o angorá que uma das minhas tias me deixou em testamento. Foi ele, foi esse bichano, que me contou ao borralho a história que se vai ler. I Orçava eu pelos dois anos e não havia gato que me excedesse em ingenuidade e gordura. Em tão tenra idade, mostrava ainda toda a presunção de um animal que menospreza os regalos do lar. Entretanto, que reconhecimento devia eu à Providência por me ter posto em casa de sua tia! A boa mulher adorava-me. O meu quarto de dormir era ao canto do armário onde não faltava a fofa almofada de penas e o cobertor de três panos. A mesa ombreava com a cama; pão e sopa eram coisas que eu nunca provava; só comia bife à inglesa e filé. Pois, senhor, no meio de tanta blandícia, só tinha um desejo, um sonho: era esgueirar-me por uma nesga da janela e fugir para o telhado. As carícias pareciam-me insossas, a elasticidade do meu colchão causava-me ná...

MACABRA SEDUÇÃO - Conto de Terror - Conto Tradicional Chinês

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MACABRA SEDUÇÃO Conto tradicional chinês Sob a dinastia Yuan Mongol, em Ming-tcheou (Nìng-p'ouo de Tchée-kiang), durante os primeiros cinco dias da primeira lua e no décimo quinto dia da mesma lua, as ruas eram iluminadas à noite. Naquela ocasião, a liberdade era grande. Homens e mulheres jovens saíam para ver a iluminação. No ano keng-tzu do período tcheu-tcheng (1360), na noite do dia quinze, um jovem erudito chamado K'iao, que acabara de perder a esposa, olhava a iluminação da soleira de sua porta. Já passava da meia-noite e a multidão diminuía. De repente, o jovem viu uma criada carregando uma lanterna, na qual havia duas peônias pintadas, que iluminava o caminho a uma jovem de 17 ou 18 anos, vestida com um casaco vermelho sobre um vestido azul. A jovem seguia para o oeste. À luz da lua, K'iao viu o quão bela era a moça e seu coração ardeu em fogo. Primeiro, ele a seguiu por trás; depois, avançou para olhá-la de frente. A jovem percebeu tal movimento. Virando a...

MUJINA - Conto Clássico de Terror - Koizumi Yakumo

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MUJINA Koizumi Yakumo (Lafcadio Hearn) (1850 – 1904) Tradução de Paulo Soriano Na estrada Akasaka, em Tóquio, há uma encosta chamada Kii-no-kuni-zaka, que significa Encosta da Província de Kii. Ignoro por que motivo é chamada assim. Vê-se, de um lado da encosta, um antigo fosso, muito profundo e muito largo, cujas verdes margens se elevam a uma zona de jardins. Do outro lado da estrada, estendem-se os longos e altaneiros muros de um palácio imperial. Antes que postes de luz e riquixás se tornassem comuns, esse bairro era muito solitário após o crepúsculo, e os pedestres que se movimentavam em horas tardias desviavam-se milhas de seu caminho para evitá-lo após anoitecer. Dizem que uma M ujina — uma mulher sem rosto — vagava livremente por lá. O último homem que viu a Mujina foi um velho mercador do bairro de Kyobashi. Esta é a sua história. Uma noite, tarde da noite, o mercador subia apressadamente o Kii-no-kuni-zaka, quando viu uma mulher agachada junto ao fosso, sozin...

O QUADRO ENFEITIÇADO - Conto Clássico de Mistério - C. G. Keronan

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O QUADRO ENFEITIÇADO C. G. Keronan (Séc. XIX) Espalhavam-se, a propósito da morte de seu amigo Bertrand, boatos tão estranhos, e eu próprio fui vítima de suspeitas tão odiosas; por esse motivo, resolvi redigir um relatório minucioso sobre o macabro acontecimento. Julgo que, assim, presto serviço não só à memória de Bertrand, como à honra de meu nome, pois que a polícia, depois de me envolver, sem razão alguma, em seu inquérito, foi, em seguida, tomada de uma discrição inconcebível, e resolveu não comunicar à imprensa o resultado final das pesquisas. O caso começou assim: em maio último, eu recebi uma carta na qual meu velho colega de escola me pedia que fosse procurá-lo em sua casa. Os termos em que ele me fazia esse pedido eram tão obscuros e singulares que não perdi um momento. Corri a atendê-lo. Encontrei Bertrand deitado em uma chaise-longue . Havia apenas oito dias que não nos encontrávamos; por isso, fiquei estupefato ao vê-lo tão mudado; com o resto emaciado, um halo azul...

O FANTASMA - Conto Clássico de Horror - Autor anônimo do séc. XIX

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O FANTASMA Autor anônimo do séc. XIX O último marquês d'Astros habitava, em alguns meses de verão, uma de suas herdades, nas vizinhanças de Palermo, no ano de 1808. Laura, sua filha única, enamorou-se de um jovem oficial, que havia encontrado num baile. Não esperando obter o consentimento de seu pai para coroar seu amor com os laços do himeneu, procurou, por muito tempo, vencer sua paixão; mas, sabendo que o oficial estava próximo a sair de Palermo com o seu regimento, anuiu, por fim, a seus incessantes rogos, e concedeu-lhe uma conferência para se darem o adeus de despedida. À hora convencionada, achava-se Laura encostada à sua janela, espreitando, com ávidos olhos, que pareciam querer penetrar através da escuridão, a vinda do seu amado, quando viu um vulto que se movia, a pouca distancia do palácio, numa vereda que conduzia à próxima aldeia. Julgou, a princípio, que fosse o seu amante, mas bem depressa reconheceu o seu erro; e notou que era uma figura gigantesca, vestida...