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LANÇAMENTO DE GROTESCO & ARABESCO - Judas Realmente Traiu Jesus? - Ensaio de Paulo Soriano

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JUDAS REALMENTE TRAIU JESUS? Uma alternativa ao mito da traição Paulo Soriano A historicidade da traição de Jesus por seu apóstolo Judas Iscariotes parece ser universalmente aceita entre os historiadores que têm por certa a existência do Nazareno. Afinal — perguntam —, por que motivo os autores dos Evangelhos e dos Atos dos Apóstolos inventariam um episódio tão constrangedor como este? Assim, para a quase totalidade dos especialistas, não pode haver dúvida de que Judas realmente revelou, às autoridades religiosas de Jerusalém, o lugar onde Jesus poderia ser capturado, livre de qualquer interferência de seus seguidores e prosélitos, conforme relatam diversas fontes independentes. Estabelecida como um fato incontestável a traição, a disputa entre os historiadores se desloca para aspectos circunstanciais do episódio, como os motivos que teriam levado o discípulo, íntimo colaborador de Jesus, a entregar o seu mestre às autoridades do Templo de Jerusalém. Mas o mais antigo reg...

UMA NOITE NO CEMITÉRIO - Conto de Terror - Ricardo R. Gallio

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UMA NOITE NO CEMITÉRIO Ricardo R. Gallio Em uma noite de lua em quarto minguante, coberta por nuvens, um crime terrível e hediondo foi cometido. Em fuga desesperada, o responsável corria dos braços da lei, já próximos de si. Apenas sua respiração ofegante e seus passos no calçamento ecoavam pelas ruas vazias. Ele se viu diante de um beco sem saída, não conhecia bem a cidade e, em sua ânsia de fugir, se perdeu. Naquele instante, seus ouvidos captaram o brado dos policiais ao longe, e novas vozes iam somando-se aos poucos. Cidadãos acordados em sobressalto se juntaram na busca pelo criminoso. Havia pouca chance de escapar, mas sua mente sórdida se negava a aceitar essa realidade. Vasculhou apressado ao redor mal iluminado por sua lanterna. Percebeu um muro à sua direita, não tão alto que ele não conseguisse pular com facilidade. Movido pela urgência e pela adrenalina pulsando em suas veias, se lançou em um salto desesperado. Do outro lado a escuridão o envolveu como um abraço gél...

A SERPENTE DA ILHA - Conto Clássico de Terror - Pu Songling

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A SERPENTE DA ILHA Pu Songling (1640 – 1715) Na ilha de Ku-chi, no mar oriental, havia camélias de todas as cores que floresciam durante todo o ano. Ninguém, contudo, vivia ali e muito poucas pessoas visitavam o local. Um dia, um jovem de Têng-chou, chamado Chang, que gostava de caça e de aventuras, ao ouvir falar das belezas do lugar, juntou um pouco de vinho e comida e rumou à ilha num pequeno barco a remos. Nessa época, as flores estavam ainda mais belas do que o habitual e a sua fragrância espalhava-se por cerca de uma milha ao redor, enquanto muitas das árvores que viu tinham várias braçadas de circunferência. E ele por lá vagou, entregando-se ao prazer do cenário. De vez em quando, abria a garrafa de vinho, lamentando muito não ter uma companheira para partilhá-lo. De repente, uma jovem muito bonita, de olhos extremamente brilhantes e vestida de vermelho, surgiu de uma das camélias diante dele. — Meu Deus! — disse ela ao ver o Sr. Chang. — Eu esperava estar aqui sozi...

EXECUÇÃO EM ARGEL - Narrativa Clássica Veridica Cruel - Autor anônimo do séc. XIX

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EXECUÇÃO EM ARGEL Autor anônimo do séc. XIX Era o dia 11 de abril de 1835. Um tropel de curiosos, apinhando-se tumultuosamente nos bairros altos da cidade, interceptava a passagem nas ruas e praças e arrastava consigo quanto se opunha à sua corrente. Os habitantes dos campos, reunidos aos da cidade, vagavam também baralhados com estes pelas estreitas ruas de Argel, apresentando à vista a imagem dum mar agitado; pela diversidade de trajes, e de idiomas, não parecia senão que todos os povos da terra se haviam reunido, como por encanto, no mesmo lugar. O fluxo e refluxo da multidão, agitando-se em diversas direções, a loquacidade — viva e ruidosa — que a animava; o ar puro e o Sol, que brilhava em lodo este conjunto interessante e delicioso, destruíam qualquer sentimento melancólico e, naturalmente, induziam a crer que todos estes povos se haviam reunido para assistir a uma festa solene. E não só nas ruas e praças se agitava essa multidão buliçosa, mas também nos telhados das cas...

AMARGA TRAVESSIA - Narrativa Clássica de Terror - Antonio de Torquemada

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AMARGA TRAVESSIA Antonio de Torquemada (1507? – 1569) Tradução de Paulo Soriano Um monge chamado Tomás (de quem Alexandre de Alexandre 1 tinha muito conhecimento e sabia que era muito bem quisto em sua vida, e morava num mosteiro perto da cidade de Luca, entre as florestas), havendo um dia tido algumas pendências e questões com outros monges, deixou o mosteiro muito cheio de cólera e aborrecimento, com a determinação de ir morar em outro lugar. E indo, assim, entre as matas espessas, deu de cara com um homem enorme, muito moreno, de longa barba negra e de olhos turvos, cujas vestiduras quase tocavam o chão. O monge perguntou-lhe aonde ia, pois seguia num caminho indefinido. O homem respondeu que o cavalo, que ele trazia, se soltara e fugira para alguns campos, que ficavam do outro lado da floresta. E com isso, continuaram conversando até que se depararam com um rio que traspassava um vale aberto na mesma mata. Como era muito profundo, cuidaram de procurar um vau....

A HISTÓRIA DE DOIS HOMENS QUE SONHARAM - Conto Clássico Fantástico - Gustav Weil

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A HISTÓRIA DE DOIS HOMENS QUE SONHARAM Gustav Weil (1808 – 1889) Contam os homens dignos de fé — mas só Alá é onisciente e poderoso e misericordioso e nunca dorme — que no Cairo havia um homem que possuía uma grande fortuna, mas, como era muito magnânimo e liberal, perdeu-a inteiramente, exceto a casa de seu pai. Assim, viu-se obrigado a trabalhar para ganhar o seu pão. Trabalhou tanto que, certa noite, adormeceu sob uma figueira e viu em sonho um desconhecido, que lhe disse: — Sua fortuna está na Pérsia, em Isfahan. Vai buscá-la. Na madrugada seguinte, levantou-se e empreendeu a longa viagem, na qual enfrentou os perigos do deserto, dos idólatras, dos rios, das feras e dos homens. Finalmente, chegou a Isfahan, mas nessa cidade surpreendeu-o a noite e o homem se deitou para dormir no pátio da mesquita. Junto ao templo havia uma casa e, por decreto de Deus Todo Poderoso, uma quadrilha de ladrões atravessou a mesquita e se introduziu na casa e as pessoas que dormiam acorda...

O FIRMAL DE PRATA - Conto Clássico Fantástico - Frei Hermenegildo de Trancos

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O FIRMAL DE PRATA Frei Hermenegildo de Trancos (Séc. XIV) Um barão segral 1 havia grande cobiça de fazer seu pecado com uma mulher. E ela era casta e boa, e porém não se atrevia ele de a demandar, mas cuidou falsamente e arteiramente como cumpriria sua má vontade. E tomou um firmal 2 de prata que era de grande preço e deu-o em guarda àquela mulher. E depois furtou-o em guisa que o ela não soube, e lançou o firmal em o mar, por tal que não lho podendo ela dar, ficasse por sua serva, e assim cuidava usar com ela como lhe prouguesse 3 . E depois que isto fez, demandou o firmal à boa mulher. E ela entendeu o engano que lhe fora feito e acorreu-se a uma santa virgem que havia nome Brígida, e estando com ela veio um homem que trazia peixes do mar que ele tirara. E quando abriram um deles acharam em o ventre dele o firmal e deu-o a boa mulher àquele homem mau. E assim ficou vão o seu pensamento e sua arteirice. Fonte: “Contos Tradicionais do Povo Português” de Teófilo Br...

AS TRÊS FOLHAS DA SERPENTE - Conto Clássico de Horror - Irmãos Grimm

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AS TRÊS FOLHAS DA SERPENTE Irmãos Grimm (Jacob Grimm [1785 – 1863] e Wilhelm Grimm [1786 – 1859]) Era uma vez um pobre homem que já não conseguia sustentar seu único filho. Então, disse o jovem a seu pai: — Querido pai, estás tão miserável! Para ti, eu sou um fardo! Prefiro, pois, ir-me embora e arranjar o pão de cada dia. O pai deu-lhe a bênção e despediu-se do filho com grande tristeza. Naquele tempo, o monarca de um poderoso reino estava em guerra. O jovem ingressou em suas fileiras e o acompanhou no combate. Chegados diante do inimigo, travou-se uma batalha. Instaurou-se um grande perigo; as balas choviam, de modo que seus camaradas caíram por todos os lados. E quando tombou o comandante, os soldados quiseram debandar, mas o jovem, à frente de todos, encorajou-os e gritou: — Avante! Não deixemos perecer a nossa pátria! E assim, seguido por seus companheiros, o jovem arrojou-se contra o inimigo e o derrotou. O rei, sabendo que a ele deveria creditar a vit...