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Mostrando postagens de dezembro, 2017

A CIMITARRA - Conto Clássico Insólito - Conto de Horror Sarcástico - Ambrose Bierce

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A CIMITARRA Ambrose Bierce (1842- 1914?) Tradução de Paulo Soriano Quando o grande Gichi-Kuktai era Mikado [1] , condenou Jijiji Ri, alto funcionário da corte, à decapitação. Pouco depois da hora assinalada para a realização do ritual, qual não foi a surpresa de Sua Majestade ao ver aproximar-se tranquilamente do trono o homem que deveria estar morto há dez minutos! — Por setecentos mil impossíveis dragões! — exclamou, enfurecido, o monarca. — Eu não te condenei a comparecer à praça do mercado, para que o executor público te cortasse a cabeça às três horas? E, agora, não são três e dez? — Filho de mil deidades ilustres — respondeu o ministro condenado —, tudo o que dizes é tão verdadeiro que, em comparação com tuas palavras, a verdade é mentira. Mas os solares e vivificantes desejos de Vossa Majestade Celestial foram pestilentamente ignorados. Com alegria, corri e expus o meu corpo indigno na praça do mercado. O carrasco apareceu com a cimitarra nua, ostensiva

O CORPO DE UMA MULHER - Conto Clássico Insólito - Ryunosuke Akutagawa

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O CORPO DE UMA MULHER Ryunosuke Akutagawa (1892- 1927)    Certa noite de verão, um chinês chamado Wang despertou, de repente, por causa do calor insuportável. Deitado de bruços, a cabeça entre as mãos, ele começava a tecer fantasias ardentes, quando percebeu que uma pulga, num lado da cama, avançava em sua direção. Na penumbra de seu quarto, ele a viu a arrastar o seu diminuto corpo, brilhante como pó de prata, na direção do ombro da mulher, que dormia a seu lado. Deitada e nua, ela estava profundamente adormecida, e ele a ouviu respirar docemente, com a cabeça e o corpo voltados para ele. Observando o indolente avançar da pulga, Yang refletiu sobre a existência dessas criaturas. Uma pulga precisa de uma hora para chegar a um ponto que está a apenas dois ou três passos de nós. "Minha vida seria muito tediosa se eu fosse uma pulga." Dominada por esses pensamentos, a sua consciência começou a esmorecer lentamente e, sem dar-se conta, acabou mergulhando num estranho transe q

O FANTASMA MORDIDO - Conto Clássico de Terror - Pu Songling

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O FANTASMA MORDIDO Pu Songling (1640 – 1715) Tradução (indireta) de Paulo Soriano Eis a história que me contou Chen Li-Cheng: Certo amigo seu, já idoso, estava deitado, à hora da sesta de um dia de verão, quando viu, meio adormecido, a vaga figura de uma mulher que, eludindo a porteira, introduzia-se na casa vestida de luto: touca branca, túnica e saia de cânhamo. Dirigiu-se aos cômodos interiores e o velho, a princípio, pensou que era uma vizinha que lhe vazia uma visita.  Então, ele pensou: “como alguém se atreveria a entrar na casa alheia com semelhante indumentária?” Enquanto permanecia imerso na perplexidade, a mulher voltou sobre os próprios passos e penetrou no quarto.  O velho homem a examinou atentamente: teria a mulher uns trinta anos. O tom amarelado de sua pele, o seu rosto intumescido e o seu olhar sombrio conferiam-lhe um aspecto terrível. Ia e vinha pelo quarto, aparentemente sem qualquer intenção de abandoná-lo. Aproximou-se da cama. Ele fingia dormir