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Mostrando postagens de julho, 2019

O HOMEM-PEIXE - Conto Clássico Fantástico do Séc. XVIII - Pedro Nisa Robes de Melo

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O HOMEM PEIXE Ou O EXTRAORDINÁRIO CASO DE FRANCISCO DA VEIGA (Cordel português do século XVIII) Pedro Nisa Robes de Melo (Séc. XVIII) Os folhetos de cordel – chamados de papéis volantes – inundavam as ruas e praças de Lisboa no século XVIII. Assim como os nossos, eram escritos para o povo numa linguagem popular. Era – diz-nos Clara Pinto Correia – num português plebeu que se imprimiam os folhetos anônimos de dez páginas, vendidos na esquina da rua por dois centavos. Escrevia-se num português das massas, que era o único que todas as massas que sabiam ler o faziam com avidez. Nesses papéis volantes pululavam fatos e feitos extraordinários, fantásticos, formidáveis. Tais folhetos, relembra-nos a historiadora Mary Del Priori, prendiam a atenção e respiração de seus leitores, mergulhando-os num mundo fantasmagórico e de fantasmagorias. Monstros, aberrações e eventos prodigiosos enchiam de terror os homens do povo numa época em que o absurdo era plausível e a supers

O CORAÇÃO PERDIDO - Conto Clássico Fantástico - Emilia Pardo Bazán

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O CORAÇÃO PERDIDO Emilia Pardo Bazán (1851 – 1921) Tradução de Paulo Soriano Passeando, certa tarde, pelas ruas da cidade, vi que havia no chão um objeto vermelho. Baixei-me: era um sangrento e vivo coração, que apanhei cuidadosamente. “Alguma mulher deve tê-lo perdido”, pensei, ao observar a brancura e a delicadeza da terna víscera que, ao contato de meus dedos, palpitava como se estivesse dentro do peito de seu dono. Eu o envolvi, esmeradamente,   num lenço branco e o guardei, escondo-o sob a minha roupa. Dediquei-me a averiguar quem seria a mulher que havia perdido o coração na rua. Para   melhor investigar, adquiri uns óculos maravilhosos, que permitiam enxergar através do corpete, da roupa interior, da carne e das costelas — como por esses relicários que são o busto de uma santa e têm no peito uma janelinha de vidro — o lugar que ocupa o coração. Assim que pus os meus óculos mágicos, fitei ansiosamente a primeira mulher que passava e — oh, assombro! —   vi qu

O SEGREDO DO PATÍBULO - Conto Clássico de Horror - Villiers de L’Isle Adam

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O SEGREDO DO PATÍBULO Villiers de L’Isle Adam (1838 – 1889) Tradução de Paulo Soriano Num dos mais macabros episódios de “Um Mil e Um Fantasmas”, Dumas narra a história de um jovem médico que, após salvar, nas ruas da Paris revolucionária, a vida de uma aristocrata fugitiva, é protagonista de uma horripilante experiência científica. No conto “ O Segredo do Patíbulo” , Villiers de L’Isle Adam (1838 ― 1889) retoma o mote inaugurado por Dumas e o explora aos últimos limites: um médico condenado à morte por decapitação recebe a visita de um colega cientista que o convida a participar, como cobaia, de um não menos aterrorizante experimento post-mortem . Ao Sr. Edmond de Goncourt [1] As recentes execuções fizeram-me lembrar de uma história extraordinária. Ei-la: Na note de 5 de junho de 1864, às sete horas da noite, o Dr. Edmond-Désiré Couty de la Pommerais, recentemente transferido da prisão de Conciergerie [2] para a de Roquette [3] , estava sentado, metido