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Mostrando postagens de junho, 2022

O ESPECTRO DO JOVEM OFICIAL - Conto Clássico Sobrenatural - Charles Dickens

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O ESPECTRO DO JOVEM OFICIAL Charles Dickens (1812 – 1870)   Às margens do rio Forth vivia, há muitos anos, uma antiga família do reino de Fife.  Era uma gente jacobita, franca e hospitaleira. A família era formada por um escudeiro — ou proprietário de terras —, já avançado em anos, sua mulher e três ou quatro filhas. Os filhos homens haviam sido enviados ao mundo, mas não a serviço da família reinante.  As filhas eram jovens e solteiras, e entre a mais nova e a mais velha havia uma profunda afeição. Dormiam elas no mesmo quarto, compartilhando o mesmo leito e, entre as duas, não havia segredos. Aconteceu que, entre os que visitavam a velha mansão, apresentou-se um jovem oficial da marinha, cujo brigue de guerra frequentemente visitava as próximas baías. Ele foi bem recebido pela família e, entre a irmã mais velha e o visitante, floresceu um terno idílio. Mas a perspectiva de uma aliança entre os jovens não agradou minimamente à mãe. Assim, sem que se expusessem os motivos, os

AS MÚMIAS DE GUANAJUATO - Conto de Terror - Alexandre Brea

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  AS MÚMIAS DE GUANAJUATO Alexandre Brea   Guanajuato é uma pequena cidade assentada num vale do centro do México. Quando se chega a ela, a primeira coisa que chama a atenção é a distribuição das casas, uma massa branca salpicada de vivas cores, que trepa pelas colinas como aferrando-se à terra. O seu nome descende da língua purépecha e quer dizer Lugar cheio de rãs , embora eu não tenha visto nenhuma quando estive lá. Não vou contar aqui que insólitos motivos me levaram até às suas ruas, só que um bom dia me encontrei caminhando entre aquelas casas pintadas de cores que deixavam os tijolos ao descoberto, aqui e lá, como feridas abertas. E, ainda que só fiquei uma noite a dormir, a cidade deixou uma funda pegada em mim. Como um arrepio abissal e sem explicação que me visita nas poucas vezes que acordo no meio da noite. Sim, estou certo de que isso começou justamente depois daquela viagem. A história começa assim. Estava eu deitado na cama do quarto do meu hotel, derrotado pelo calor. A

ALÉM DA MURALHA DA MORTE - Conto de Terror - Rogério SIlvério de Farias

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  ALÉM DA MURALHA DA MORTE Rogério Silvério de Farias   “Os vivos são os mortos de férias”. Maurice Maeterlinck            Formávamos um divertido quinteto. Éramos quatro garotos de nove ou dez primaveras, mais uma menina de onze, certa loirinha enxerida de cabelos cor de milho, presos em duas tranças. Naquele dia longínquo de nossa infância, íamos todos alegres, cada um de nós montado numa bicicleta, seguindo por uma estrada da cidade onde morávamos.             Pedalávamos alegremente. Nossas bicicletas eram, em nossa imaginação infantil, corcéis mágicos, velozes e indóceis, nos quais galopávamos pelas planícies da mais lampeira das liberdades. Misturávamos a imaginação com a realidade. E se um dia tivéssemos que morrer, pensávamos, certamente morreríamos montados em nossas bicicletas, símbolos maiores de toda a nossa liberdade menina.             Mochila em nossas costas, cheia de mantimentos , como dizia o Rolha-de-Poço , o gordinho da turma, coisas compradas na venda azul do seu Q

O FANTASMA ASSEDIADOR - Conto Clássico de Mistério - Joseph Taylor

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      O FANTASMA ASSEDIADOR Joseph Taylor (Séc. XIX) Tradução de Paulo Soriano     O proprietário de uma estalagem situada nas cercanias das nascentes de Aix-la-Chapelle, tendo perdido a esposa, confiou a gestão do negócio familiar à filha, que era uma jovem de boa índole, bela e alegre, de seus vinte anos. Naquela ocasião, estavam na estalagem duas senhoras, acompanhadas por uma aia; dois oficiais holandeses e um frade dominicano. Certa noite, a jovem foi despertada por alguma coisa que tentava arrebatar-lhe os lençóis. A moça focou, a princípio, assustada; mas, julgando que poderia ser o cachorro da casa, chamou-o pelo nome. No entanto, os lençóis lhe foram tirados. Ela, ainda a imaginar que aquilo era uma façanha do cão, tomou uma escova que estava ao seu alcance e tentou afastá-lo. Nesse momento, ela viu um repentino clarão, que preencheu toda a sala. Então, a jovem gritou. Depois, tudo permaneceu novamente escuro e silencioso, e as roupas não lhe foram mais subtraída

UMA HISTÓRIA DE BRUXAS - Conto de Terror - Ângelo Brea

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UMA HISTÓRIA DE BRUXAS Ângelo Brea   Aquele ano, como todos os anos, celebramos a noite de consoada em casa dos meus pais, onde acostumava reunir-se toda a família. O nosso filho, que acabava de celebrar o segundo aniversário, foi o centro de atenção de todos. A verdade é que o jantar foi como de costume, agradável e abundante, aproveitando-o para falarmos dos nossos parentes e amigos. Essa foi a primeira ocasião em que meu irmão mais novo falou da doença da nossa prima Maria Teresa (que curiosamente era também a minha afilhada), uma rapariga de dezessete anos cujo aniversário se celebrava em 31 de dezembro. O motivo de que nos referíssemos a ela foi porque se dizia que a sua saúde se tinha vido afetada ultimamente por um forte abalo. Pensei que podia tratar-se de uma gripe, que neste ano tinha sido bastante virulenta, já que eu mesmo a tinha padecido na primeira quinzena de novembro, chegando a guardar um par de dias de repouso. Meu irmão insistiu em que não era uma gripe e que o meu