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Mostrando postagens de maio, 2023

O DIA DE FINADOS - Conto Clássico de Terror - Julia Asensi

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  O DIA DE FINADOS Julia de Asensi (1849 – 1921) Tradução de Paulo Soriano   Vinte anos antes, ele ainda brilhava por sua aparência, por seu talento, por sua discrição. Todos o conheciam, pois era o encanto das mulheres, o terror dos maridos, o modelo perseguido pelos jovens dissolutos [1] . Tinha numerosos amigos, livre entrada em círculos; se ele não se fazia presente, não havia reunião amena ou passeio campestre. Era poeta, e seus versos, ainda que vulgares e incorretos, eram admirados e aplaudidos. Havia nascido com boa estrela, ninguém era mais feliz que ele, mas... Dom Juan não deve envelhecer; Dom Juan deve morrer jovem, seja em um duelo ou em uma emboscada. Dom Felipe de Mendoza tinha completado sessenta anos e, em vão, evocara o espírito maligno para que o rejuvenescesse, como Mefistófeles fizera a Fausto. Há alguns meses, deixara de pintar o cabelo e a barba, convencido de que as mulheres já não poderiam amá-lo, nem o temeriam os maridos. Era pobre: o seu capital, herdado de

CATALEPSIA - Conto clássico de terror - Carlos Díaz Dufoó

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  CATALEPSIA Carlos Díaz Dufoó (1861 – 1941) Tradução de Paulo Soriano   O meu espírito girou sobre si mesmo, elevou-se por um momento e, como um pássaro ferido, caiu repentinamente. Caía, rodava, em meio à noite alta. Eu deslizava na sombra, com a sensação de um imenso vazio, com a consciência de minha queda, uma queda eterna... eterna... Minha alma estava triste, muito triste. Queria chorar e não podia. Ai! Não tinha olhos. Meus olhos! Devolvam-me os meus olhos! Sabem o que é querer chorar e não ter olhos? Eu caía, caía sempre. Passou uma estrela. Quis segurar-me. Ai! Eu não tinha braços. Meus braços! Sabem o que é ter vontade e não ter braços?... E eu caía... caía... Logo deram cinco horas no relógio da igreja. Uma... duas... três... quatro... cinco!... E me senti rígido, imóvel! Aquele era eu! Sentia-me encerrado naquela armadura de aço. Meu corpo! Havia encontrado meu corpo. Trêmula, a alma se aproximou e pousou sobre mês lábios frios, gelados!   Quão fria

À MEIA-NOITE DESENTERREM MEU CADÁVER - Conto de Terror - Maycon Guedes

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  À MEIA-NOITE DESENTERREM MEU CADÁVER Maycon Guedes                                                                   Na madrugada ele acordou Muitíssimo assustado Ao som das gargalhadas infernais Enquanto o seu nome era bradado   A fogueira ainda queimava sutilmente; próximo a ela havia uma estaca cravada no chão, mantendo fincada na sua extremidade a cabeça de alguém. Após esfregar os olhos abruptamente, ainda deitado no chão rachado da caatinga, o sujeito, que acordara ao som das gargalhadas mortais, não acreditava no que seus olhos estavam vendo; era a cabeça, decapitada e fixada na estaca, ainda viva, sorrindo e clamando o nome de seu algoz, exibindo seus dentes salivantes que brilhavam úmidos ao clarão das chamas; mas antes de prosseguir, contarei desde o início como tudo aconteceu, e apresentarei três sujeitos, três homens em conflito, especialmente esse desafortunado que carregava consigo uma cabeça, na vasta madrugada, prestes a enfrentar terríveis assombros durante

O ESPECTRO QUE RECLAMA VINGANÇA - Conto Clássico de Terror - Charles Nodier

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  O ESPECTRO QUE RECLAMA VINGANÇA Charles Nodier (1780 – 1844) Tradução de Paulo Soriano   No século XIII, o conde de Belmonte (em Montferrat) concebeu uma violenta paixão pela filha de um dos seus servos. Ela se chamava Abélina. O conde devia desfrutar do Direito de Senhor sobre ela [1] ; mas ninguém parecia ter pressa em casá-la, e seu ardor impaciente se ofendia com aquela morosidade. Certo dia, enquanto caçava, encontrou a jovem Abélina guardando os rebanhos de seu pai. O conde perguntou à jovem por que não lhe davam marido. — Sois vós a causa disso, meu senhor — ela respondeu. — Os jovens não querem sofrer mais a desonra e a vergonha do direito que vós tendes de passar com as suas mulheres a primeira noite de bodas. E nossos pais já não nos querem casar até que o direito de primeira noite seja abolido. O senhor de Belmonte ocultou seu despeito e mandou que dissessem ao pai da jovem que queria vê-lo. O velho Cecco (este era o nome do pai de Abélina) se dirigiu ime

BIZORRO E O CAIXÃO - Conto Humorístico de Terror - Luiz Raimundo

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  BIZORRO E O CAIXÃO (Luiz Raimundo)            Lendo esta semana no excelente livro do meu amigo Padovani – Os dois lados do rio , um texto ( Ajuda que veio do inferno , pág. 26) falando de uma personagem — pode-se dizer, folclórica de nossa cidade, o Besouro, que prestou serviço na Delegacia de Trânsito de Ponte Nova por muitos anos —, o fato narrado me lembrou outro, que passo a compartilhar com vocês que me dão a honra da sua leitura.          Mas aqui vamos nos referir a ele como “Bizorro”, pois era assim que todo mundo o chamava.          Bizzorro era um homem de porte baixo e um tantinho atarracado, andava meio de banda, cara grande e olhos esbugalhados, possivelmente por causa de uma anomalia da tireoide mal curada. Esse mal, segundo a literatura médica, pode causar deslocamento do globo ocular para frente. Isso se dá pelo aumento dos músculos oculares e pelo acúmulo anormal de gordura na porção orbitária atrás dos olhos. Como a órbita é uma caixa óssea com tamanho limitado, oc

O MAUSOLÉU - Conto Humorístico de Terror - Paulo Soriano

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O MAUSOLÉU Paulo Soriano     1   — Sempre que me perguntam como fiquei rico, invento uma história e dou boas risadas com a credulidade das pessoas — disse o velho comerciante Jules Cocard a seu jovem amigo Gervais Desmolins.   — Já ganhei na loteria, já fiz parte de um bando de corsários, já desenterrei um tesouro imemorial, imenso, habilmente escondido por piratas marroquinos nas areias de uma praia remota do Mediterrâneo. Esta, aliás, é versão mais interessante e a que mais se aproxima da realidade, malgrado menos fúnebre. Ah, Gervais, vejo uma curiosidade imensa brilhar nos seus olhos! A você, meu amigo, contarei a verdade. Você é merecedor de toda a minha confiança e sei que não dará com a língua nos dentes nesta ou em outras tavernas de Amiens. E verá que não rirei no final.   — Você garante? — perguntou Gervais Desmoulins.   — Garanto — respondeu o ancião. — Quando jovem — prosseguiu —, eu era um andarilho sem eira nem beira. Um vagabundo que, à época da vindi