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Mostrando postagens de novembro, 2023

O VAMPIRO DO CASTELO DE BRAM - Conto de Terror - Paulo Soriano

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  O VAMPIRO DO CASTELO DE BRAM Paulo Soriano   1   O peso opressivo do luar, incidindo sobre os meus longos cabelos negros, escorria, num fluxo impiedoso, caudaloso, nos meus ombros, impe­lindo-me para frente, como se eu estivesse tocada pelo vento que precede as mais violentas tempesta­des. Eu caminhava sozinha — descalça e andrajosa — por uma estrada milenar, aberta pelos eslavos, mas pavimentada pelos romanos, que ladeia os va­les relvosos, salpicados de árvores agulhosas. Sobre esses extensos vales, as montanhas escarpadas dei­tam, eternamente, as suas sombras melancólicas, que azulam e amolecem ao luar. Eu saíra de Vesta Verde quando anoitecera, já corroída pela fome e pelo cansaço. A fria madrugada grassava e eu pre­cisava buscar um refúgio para um merecido des­canso. Eu devia ter, de alguma forma, errado o cami­nho. Porque, sob os meus pés descalços, a estrada ganhara uma aspereza incomum, serpenteando para cima, galgando as encostas de uma montanha cuja imponência

UMA PREMONIÇÃO SALVADORA - Narrativa Verídica Sobrenatural - Robert Dale Owen

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  UMA PREMONIÇÃO SALVADORA Robert Dale Owen (1801 – 1870) Tradução de Paulo Soriano   Os que estão familiarizados com a história política do nosso país, nos últimos vinte anos, lembram-se bem do Dr. Linn, do Missouri. Sobressaindo não apenas pelo talento e capacidade profissional, mas sobremodo pela excelência do seu coração, recebeu, numa distinção tão rara quanto honrosa, o voto unânime do Legislativo para o cargo de Senador dos Estados Unidos.   Lewis F. Linn   No desempenho das suas funções no Congresso, residiu com a sua família em Washington durante a primavera e o verão de 1840, período que corresponde ao último ano da administração do Sr. Van Buren. Certo dia, em maio daquele ano, o Dr. e a Sra. Linn receberam um convite para um grande e formal jantar, oferecido por um funcionário público, e para o qual foram convidados os membros mais proeminentes da Administração, incluindo o próprio Presidente e o atual Magistrado-Chefe, o Sr. Buchanan. O Dr. Linn estava

TORTURA E MORTE DE BALTHASAR GÉRARD - Narrativa Clássica Verídica de Horror - Pierre de Brantôme

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  TORTURA E MORTE DE BALTHASAR GÉRARD Pierre de Brantôme (c. 1540 – 1614)   Antes de morrer, durante dezoito dias, [Balthasar Gérard, assassino de Guilherme de Orange], foi torturado com crueldade excessiva. No primeiro dia, ele foi levado à praça pública, onde havia um caldeirão de óleo fervente, no qual foi lançado o braço que desferira o golpe. Na manhã seguinte, esse braço foi decepado e caiu a seus pés. Ele o moveu calmamente com o pé e empurrou-o para baixo do cadafalso. No terceiro dia, o seu peito e a frente do braço foram arrancados com pinças em brasa; no dia seguinte, suas costas, a parte de baixo do braço e pernas foram tratadas da mesma maneira. Isto continuou por dezoito dias e, após cada tortura, ele era conduzido de volta à prisão. Com grande constância, suportava ele, o tempo inteiro, todo aquele sofrimento. A maior das torturas que ele suportou (com exceção da morte) foi esta: amarraram-no, nu, no centro da praça, tendo ao seu redor, a uma pequena distân

COMO O BOBO ROUBOU O CORPO DO REI - Conto Clássico de Terror - Sabine Baring-Gould

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COMO O BOBO ROUBOU O CORPO DO REI (Lenda hindu) Sabine Baring-Gould (1834–1924) Tradução de Paulo Soriano   Certo dia, um rei passeava pelo mercado de sua cidade, quando viu um comediante corcunda, cujas contorções e jocosos dizeres mantinham os espectadores em gargalhadas. Como o sujeito muito o divertira, o rei o levou ao seu palácio para que lhe servisse de bobo da corte.      Pouco depois, um necromante ensinou ao monarca a arte de enviar a própria alma a um corpo alheio. Algum tempo depois, o monarca, ansioso por colocar em prática os conhecimentos recém-adquiridos, cavalgou para a floresta, acompanhado de seu bobo, que — acreditava —não tinha ouvido, ou, pelo menos, compreendido a lição que aprendera do necromante. Na floresta, encontraram o cadáver de um brâmane, caído nas profundezas da selva, vitimado pela sede. O rei, deixando seu cavalo, realizou a cerimônia necessária e, instantaneamente, sua alma migrou para o corpo do brâmane; ao mesmo tempo, o seu

CABELOS TRANSFORMADOS EM OURO - Narrativa Clássica Sobrenatural - Pregador de Ely

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  CABELOS TRANSFORMADOS EM OURO Pregador de Ely (Séc. XV)   Do Mestre Richard de Puttes vem uma história que trata da celebração da missa, no ano do Senhor de 1373. Um homem de Haydock, no condado de Lancashire, tinha uma amante com quem teve dois filhos. Quando esta morreu, o homem desposou outra mulher. Certo dia, o homem dirigiu-se a uma ferraria próxima, especializada na preparação e afiação de lâminas de arado, a fim de comprar uma relha. O ferreiro vivia na propriedade de Hulme, a duas milhas de Haydock. Quando, já à noite, voltava para casa, tendo chegado a uma encruzilhada — chamada Newton Cross —, o homem foi vítima de uma experiência aterrorizante. Cheio de pavor, olhou em volta, na escuridão, e viu o que parecia ser uma sombra negra. Suplicou à aparição que não lhe fizesse mal e perguntou-lhe quem era. Do âmago da sombra, veio-lhe uma voz que dizia: —Não tenhas medo. Eu sou a mulher que já foi tua amante. Foi-me permitido aproximar-me de ti e pedir-te ajuda.

UM SONHO REVELADOR - Narrativa Clássica Sobrenatural - Gerald of Wales

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  UM SONHO REVELADOR Gerald of Wales (c. 1146 – 1223)   Valério Máximo conta que dois árcades viajavam juntos e, quando chegaram a uma certa cidade, um deles se hospedou em casa de um amigo, enquanto o outro foi recolher-se a uma estalagem comum. O que se hospedou na casa do amigo sonhou que o seu companheiro de viagem vinha vê-lo para pedir ajuda contra o seu anfitrião, que o estava agredindo violentamente. Acordou com isto, mas voltou a adormecer e sonhou que o companheiro lhe aparecia uma segunda vez e lhe implorava que, embora o amigo não o tivesse ajudado enquanto ainda estava vivo, pelo menos providenciasse o seu enterro. Acresceu que o estalajadeiro estava, então, conduzindo o seu cadáver numa carroça, seguindo para além dos portões da cidade, pois pretendia ocultar o seu cadáver num monturo. O amigo acordou e, depois de ter-se inteirado do ocorrido, e verificado a veracidade do relato, fez com que o estalajadeiro fosse preso, condenado e executado.   Versão em

POR QUE É QUE OS MORTOS NÃO VOLTAM - Conto Clássico Sobrenatural - Anônimo do séc. XIX

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  POR QUE É QUE OS MORTOS NÃO VOLTAM Anônimo do séc. XIX   Eu acabava de morrer em consequência de uma moléstia causada por dois excessos: excesso de trabalho e excesso de prazer. Tinha eu, posso confessá-lo, uma amante a quem amava loucamente. Para proporcionar-lhe todos os gozos do bem-estar material, mandei-me de corpo e alma a um trabalho árido e fatigante, que no fim de certo tempo trouxe-me uma riqueza relativa. Então atiramo-nos ambos no seio de uma vida de delícias, que me levou em pouco tempo à tumba, cujas portas o trabalho me tinha aberto.   Quando me puseram no caixão, compreendi que três dos meus sentidos, o tato, o cheiro e o gosto estavam aniquilados, ao passo que a vista o e ouvido começavam a crescer em mim de uma maneira extraordinária. Assim ouvia eu claramente tudo quo se cochichava em torno de mim, e, apesar da tampa quo me cobria, meus olhos viam os menores objetos que me cercavam o caixão. Não levaram muito tempo a porem-me em marcha para a igreja, e de

A CABEÇA MISTERIOSA - Conto Clássico de Terror - Pu Songling

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  A CABEÇA MISTERIOSA Pu Songling (1640 – 1715)   Diversos mercadores, hospedados numa estalagem em Pequim, ocupavam um quarto que era separado do apartamento adjacente por uma divisória de tábuas. Desta, faltava uma peça, deixando na parede uma abertura do tamanho de uma bacia. De repente, por aquela abertura surgiu-lhes a cabeça de uma menina, de traços muito bonitos e cabelos bem penteados. No instante seguinte, apareceu-lhes um braço, que era branco como jade polido. Os mercadores ficaram muito alarmados e, pensando que tudo aquilo era obra de demônios, tentaram agarrar a cabeça da menina, que, no entanto, foi rapidamente retraída, ficando fora do alcance de suas mãos.   O fenômeno aconteceu novamente. Então, como os homens não vislumbravam corpo algum pertencente à cabeça, um deles, tomando uma faca, rastejou pela divisória, sob o buraco. Em pouco tempo, a cabeça reapareceu. Ele, então, desferiu um golpe, cortando-a. O sangue jorrou por todo o chão e pela parede.

TERRA SOBRE AS COSTAS - Narrativa Clássica de Terror - Caesarius von Heisterbach

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  TERRASOBRE AS COSTAS Caesarius von Heisterbach (c. 1180 – c. 1240).   Erkinbert, o pai de nosso monge Johann, era um cidadão de Andernach.   Certa manhã, havendo saído cedo, deparou-se com uma fi­gura montada em um corcel negro como o car­vão, e que exalava fogo e fumaça pelas nari­nas. A princípio, a figura percorria a estrada principal; todavia, depois de algum tempo, saiu da estrada e, to­mando outra direção, ga­lopou pelos campos.   De início, Erkinbert ficou deve­ras ame­drontado, pois não fazia ideia da natureza da­quela criatura e, ademais, não poderia escapar de de­parar-se com ela. Contudo, ele reuniu as suas forças e, fazendo o sinal da cruz contra o de­mônio, pegou a sua espada com a mão direita.   Ao se aproximar, viu que se tratava de um famoso cavaleiro cha­mado Frederic, da mansão de Kelle, que morrera recentemente. Este pa­recia vestir-se com peles de ovelha e carregava um grande punhado de terra lamacenta nas costas. Erkinbert perguntou: —És tu

A LENDA DO JOVEM ESTRANGULADO PELO DIABO - Conto Clássico de Terror - Jacopo de Varazze

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  A LENDA DO JOVEM ESTRANGULADO PELO DIABO Jacopo de Varazze (1228 – 1298)   Um homem, pelo amor ao seu filho, que pudera ir à escola e instruir-se, celebrava, todos os anos, com grande solenidade, a festa de São Nicolau. Certa feita, o pai mandou preparar o banquete e convidou um grande número de clérigos para as comemorações. Ora, o Diabo, sob o disfarce de peregrino mendicante, bateu-lhes à porta no para pedir esmolas. O pai, prontamente, ordenou ao filho que lhe prestasse a caridade. O garoto procurou o pedinte, mas, ao chegar a uma encruzilhada, o diabo, agarrando-o, o estrangulou. Ao saber do acontecido, o pai, tomado de imensa tristeza, lastimou-se e levou o corpo para o quarto do rapaz. Lá, começou a chorar de tristeza, exclamando: — Ó, filho terno e luminoso, o que aconteceu contigo? São Nicolau, é esta a recompensa que me dás por servi-lo por tanto tempo? Mal proferiu estas palavras, e outas semelhantes, o rapaz abriu os olhos e despertou, como de se um son