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Mostrando postagens de maio, 2020

ARTIGO DE PAULO SORIANO NO PLG: GUILHOTINA

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ARTIGO DE PAULO SORIANO NO PLG : GUILHOTINA   “Quem nunca ouviu dizer que “Guillotin, o inventor da Guilhotina, morreu guilhotinado”? Mas há dois equívocos nessa breve assertiva que, de tão disseminada e repetida, parece conter uma verdade inexpugnável. Em primeiro lugar, não é certo que o médico e político francês Joseph-Ignace Guillotin (1738 – 1814) tenha inventado a máquina de decapitação que, contra a sua vontade, levou o seu nome. O aparelho, largamente usado na época da Revolução Francesa — pano de fundo do maravilhoso “ Conto de Duas Cidades ”, de Dickens (1812 – 1870) —, já existia há séculos quando o médico, por questões humanitárias, sugeriu o seu uso às autoridades revolucionárias. Foram percussoras da guilhotina, tal como nós a conhecemos, diversas máquinas de decapitação semelhantes, empregadas desde — pelo menos — o século XVI na Alemanha, Escócia, Irlanda, Inglaterra e  Itália. Até a Revolução, a grande maioria de franceses sentenciados à pena capital era cruelmente

O ALQUIMISTA - Conto Clássico de Terror - H. P. Lovecraft

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O ALQUIMISTA H. P. Lovecraft Tradução de Renato Suttana   No alto, coroando o topo gramado de um morro cujos flancos, próximo à base, são guarnecidos pelas árvores de galhos retorcidos da floresta primeva, situa-se o velho chateau de meus ancestrais. Durante séculos, suas ameias altíssimas têm vigiado a paisagem selvagem e irregular à sua volta, servindo de lar e de refúgio para a casa altiva cuja honorável linhagem é mais velha do que as muralhas do castelo que o musgo recobre. Essas torres antigas, batidas durante gerações inteiras pelas tempestades e que aos poucos vão cedendo à lenta mas incoercível pressão do tempo, compuseram na época do feudalismo uma das mais temidas e formidáveis fortalezas de toda a França. Das suas galerias, parapeitos e ameias, barões e condes e mesmo reis foram desafiados, sem que em seus largos vestíbulos jamais tivesse ressoado o som dos passos do invasor.  Mas, desde aqueles dias gloriosos, tudo mudou. Uma pobreza pouco mais que remediada, so

UMA NOITE TERRÍVEL - Conto Humorístico de Terror - Anton Tchekhov

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UMA NOITE TERRÍVEL Anton Tchekhov (1860 - 1904)   Empalidecendo, Iván Ivanovitch Panihidin começou a história com emoção:   — Uma densa névoa cobria a cidade quando, na noite de Ano Novo de 1883, eu regressava a casa. Passando a noite com um amigo, entretivemo-nos em uma sessão espírita. As ruelas que eu tinha que atravessar estavam escuras e eu tinha que andar quase às apalpadelas. À época, eu vivia em Moscou, em um bairro distante. O caminho era longo; os pensamentos, confusos; tinha o coração oprimido... “Declina tua existência!... Arrepende-te”, dissera o espírito de Spinoza, que havíamos consultado. Ao pedir-lhe que me dissesse algo mais, não apenas repetiu a mesma sentença, como acrescentou: “Esta noite.” Não creio no espiritismo, mas as ideias e mesmo as alusões à morte me impressionam profundamente. Não se pode postergar ou prescindir da morte; mas, apesar de tudo, ela é uma ideia que nossa natureza repele. Então, ao encontrar-me no meio das trevas, enquanto a c

OS ESPECTROS DA MORTE (Tradições Galegas: A Companha) - Conto Clássico de Terror - Juan de Dios de La Rada

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OS ESPECTROS DA MORTE (Tradições Galegas: A Companha) Juan de Dios de La Rada (1827 – 1901) Tradução de Paulo Soriano   I Logo será meia-noite. A trêmula luz da Lua esparge a sua morna claridade a intervalos regulares, iluminando com   matizes sombrios o fundo do vale. Uma casa rodeada de ciprestes se destaca lugubremente em meio à parda vegetação do terreno, qual os horrendos fantasmas lendários   que vagam em torno dos escombros ruinosos de um castelo. A disforme silhueta daquela pobre mansão e dos funéreos arbustos ora se encolhe, ora se prolonga, ora desaparece completamente, conforme a caprichosa viragem das sombrias nuvens que cruzam a atmosfera. Não há nada que embeleze a escuridão do céu ou o silêncio aterrador da paisagem. A natureza adormecida parece apenas despertar não para tanger o ouvido com a música harmoniosa da torrente, mas com o surdo murmúrio da água deslizando de pedra em pedra; não com a delicada cautela do rouxinol, mas com o estridente ru

LUÍS XI E O ADIVINHO - Conto Clássico Sobrenatural - Ramón de Mesonero Romanos

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LUÍS XI E O ADIVINHO Ramón de Mesonero Romanos (1803 - 1882)   — Dentro de oito dias — disse um astrólogo a Luís XI —, vossa amada deixará de existir. Oito dias depois, a dama descia ao sepulcro. Grandes foram os sofrimentos e a ira do monarca francês. — Já que adivinhas o que está por vir — disse o rei ao astrólogo —, exijo que me digas, agora, se te resta muito tempo de vida. Saibam que o rei havia dado ordens secretas de que, a um sinal seu, fosse o pobre astrólogo arremessado da mais alta janela do castelo de Plesis-les-Tours. Quer porque o adivinho soubesse de sua triste sorte, quer porque o aspecto diabólico do rei o fizesse pressentir a catástrofe, respondeu ao rei com serenidade: — Senhor, o que posso dizer a Vossa Majestade é que a minha morte precederá três dias à sua. Esta resposta caiu como um raio sobre o supersticioso monarca, que não apenas evitou dar o sinal convencionado para o salto perigoso do adivinho, como, daí em diante, passou a cuidar do astr

O CRIME INVISÍVEL - Conto Clássico de Terror - Catherine Crowe

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O CRIME INVISÍVEL Catherine Crowe (1803 – 1876)   Em 1842, no bairro de Marylebone, demoliram uma casa que já não atraía inquilinos há muitos anos, e cujos proprietários não estavam dispostos a gastar mais dinheiro com reformas. Seus últimos habitantes foram o major W..., sua esposa, seus três filhos e uma criada. O major W..., que exercia um digno cargo na Intendência Militar, havia insistido inúmeras vezes junto a seus superiores para que lhe fosse permitido   mudar de residência (o aluguel do imóvel estava a cargo da Intendência Militar). Como esta autorização demorava, alegou, para justificar a sua reiterada insistência, que a casa era mal-assombrada da forma mais desagradável. Todas as noites, a porta da sala de estar se abria violentamente, ouvia-se um ruído de passos apressados, uma respiração rouca e, depois de dois ou três terríveis gritos, a pesada queda de um corpo no chão. Frequentemente, encontravam os móveis revirados, sobretudo quando situados no canto  

VIOLAÇÃO - Conto Clássico de Horror - Rodolpho Theophilo

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VIOLAÇÃO Rodolpho Theophilo (1853 – 1932)   CAPÍTULO 1   A triste cena de bruteza humana que vou narrar passou-se em 1862, na epidemia do cólera-morbo, em uma das vilas do litoral do Ceará. Eu era bem criança; tinha apenas nove anos, mas conservo estereotipado em mim tudo que vi daquela medonha peste. Meu pai era o único médico do lugar quando se deu a invasão do mal. Havia meses que o flagelo devastara os sertões da província, e de lá vinham as mais desoladoras notícias. Tudo estava se acabando no interior, morria-se em poucas horas, dizia a nova popular em seu costumado exagero, e assim se espalhava de tenda em tenda, deixando em sua passagem o gérmen do desconforto a desenvolver-se e a crescer!... O espírito das populações marinhas cada vez mais se abatia com os horrores que se contavam da peste. Não se guardavam as devidas reservas sobre o progresso e intensidade da epidemia. Os poderes públicos, não compreendendo a influência perniciosa de semelhantes novas, as d