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Mostrando postagens de janeiro, 2023

O INSULTO A CHARLOTTE CORDAY - Conto Clássico de Terror - Alexandre Dumas

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O INSULTO A CHARLOTTE CORDAY Alexandre Dumas (1802 – 1870) Tradução de Paulo Soriano   — Eu sou — disse-nos o Sr. Ledru — filho do famoso Comus [1] , médico do rei e da rainha. O meu pai, cujo apelido burlesco fazia com que fosse classificado entre mágicos e charlatães, era um distinto estudioso da escola de Volta, Galvani e Mesmer. Foi ele o pioneiro, na França, no estudo da fantasmagoria e da eletricidade, proferindo palestras de Matemática e Física na corte. A pobre Maria Antonieta, que vi vinte vezes, e que mais de uma vez pegou em minhas mãos e as beijou, quando chegou à França — eu era, então, ainda criança —, adorava o meu pai. Quando passou por aqui, em 1777, José II declarou que jamais vira alguém tão curioso quanto Comus. Em meio a tudo isso, o meu pai cuidou da educação do meu irmão e da minha, instruindo-nos com o que sabia das ciências ocultas, e com uma grande quantidade de conhecimentos galvânicos, físicos, magnéticos, que hoje são de domínio público, mas que, naquela ép

O FANTASMA DO MENINO COM BOTÕES DE LATÃO - Narrativa Clássica de Terror - Autor desconhecido do século XIX

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O FANTASMA DO MENINO COM BOTÕES DE LATÃO Autor desconhecido do século XIX Tradução de Paulo Soriano     (Philadelphia Press, 16 de junho de 1889) Numa bela casa, conquanto antiquada, na praça Stuyvesant, havia um fantasma. A casa ficara vazia por vários anos e, há cerca de seis anos, um cavalheiro, sua esposa e filha para lá se mudaram. Enquanto fazia a mudança, o casal permitiu à criança brincar no sótão vazio, que, aparentemente, no passado, havia sido uma sala de jogos infantis. Nela, havia uma chaminé, dotada de uma grande lareira. Terminada a mudança, a mãe voltou a atenção à menininha e tentou mantê-la embaixo consigo. Todavia, a criança sempre fugia e subia as escadas várias vezes, até que, finalmente, a mãe perguntou por que ela tanto queria subir ao sótão. A menina respondeu que gostava de brincar com um menino engraçado, que lá estava. A investigação mostrou que era totalmente impossível, para qualquer pessoa, adulto ou criança, entrar naquele lugar ou ali se es

NÉVOA NO FUNERAL - Conto Fúnebre - Maycon Guedes

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NÉVOA NO FUNERAL Maycon Guedes   Sobrevivi ao incidente na cidade de Franco da Rocha; um evento bizarro que começou na salinha de um velório. O que eu vou relatar aconteceu há pouco mais de uma década, mas eu ainda me lembro, perfeitamente, daquele maldito cheiro de vela que avançava para dentro de minhas narinas; lembro de como meu corpo estremecia de pavor; e hoje em dia, nas noites mais frias, quando o vento uiva sua nefasta sinfonia em minha janela, eu ainda consigo ouvir os gritos de desespero das pessoas que estavam presentes naquele velório; e mais, aqui, na escuridão do meu quarto… Oh! Maldição!... Ainda posso ouvir os gemidos dos seres infernais que vieram com a névoa no fatídico dia. Estávamos no velório do Tio Afonso naquele dia, e na salinha em frente, a amante do meu tio também estava sendo velada. Eles mantinham um caso às escondidas, e enquanto voltavam de um motel, no meio da noite, sofreram um grave acidente de carro. O Tio Afonso lutou por sua vida até o hospi

O VENTRÍLOCO - Conto Clássico de Mistério - Joseph Taylor e Adrianus Turnebus

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O VENTRÍLOCO Joseph Taylor (séc. XIX) e Adrianus Turnebus (1512 – 1565) Tradução de Paulo Soriano   O fato seguinte é relatado por Adrianus Turnebus, o maior crítico do século XVI, e que era admirado e respeitado por todos os eruditos da Europa.   “Havia um sujeito astuto — diz ele — chamado Petrus Brabantius, que, quantas vezes quisesse, falava a partir do ventre, com a boca de fato entreaberta, mas conservando os lábios imóveis. Eu mesmo testemunhei tal artimanha com olhos e ouvidos. Desta forma, ele induzia à fraude, constantemente, diversas pessoas.  Dentre outras, o engodo que se segue é muito conhecido.   Havia um comerciante de Lyon, há pouco falecido, que havia adquirido uma grande fortuna por meio de negócios escusos. Brabantius, estando em Lyon, e sabendo disto, foi, certo dia, ao encontro de Cornutus, filho e herdeiro do finado, enquanto este caminhava sob um pórtico, atrás do pátio da igreja.   Brabantius disse a Cornutus que havia sido enviado para informá-lo sobre o que d

UMA BATALHA COM LOBOS - Conto Clássico de Horror - George Alfred Henty

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UMA BATALHA COM LOBOS George Alfred Henty (1832 – 1920) Tradução de Paulo Soriano     [Malchus — um jovem oficial da guarda do grande general cartaginês Aníbal — saíra com dois companheiros numa expedição de caça nas montanhas espanholas. Depois de um longo dia atividade, os caçadores não lograram encontrar o acampamento e decidiram pernoitar na floresta.]   I   Depois de comerem e conversarem por algum tempo, Halcon e seu companheiro deitaram-se para descansar. Malchus se ofereceu para manter o primeiro turno da vigilância. Por algum tempo, ele permaneceu sentado, em silêncio. Às vezes, lançava a lenha, tirada do estoque que eles haviam formado, ao fogo. Subitamente, mudou de atitude. Assuntou e se ergueu. Ouviu, repetidas vezes, os uivos dos lobos ecoando na floresta. Então, escutou um longo uivo, profundo e contínuo. Ouviu por um minuto ou dois e, então, acordou seus companheiros. — Há uma grande matilha de lobos se aproximando — disse ele. — Pela direção do som, julgo que eles estã

O VIOLINO DO ENFORCADO - Conto Clássico de Terror - Erckmann - Chatrian

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  O VIOLINO DO ENFORCADO Émile Erckmann (1822–1899) e Alexandre Chatrian (1826–1890) Tradução de Paulo Soriano   Karl Hâfitz passou seis anos mergulhado no método do contraponto. Estudou Haydn, Gluck, Mozart, Beethoven, Rossini.  Gozou de uma saúde florescente e de uma fortuna honesta, que lhe permitiu seguir a sua vocação artística. Em síntese, dispunha de tudo o que é preciso para compor uma grandiosa e bela música, salvo o essencial: a inspiração. Todos os dias, cheio de nobre ardor, ele levava para seu digno mestre Albertus Kilian longas partituras muito ricas em harmonia, mas cada frase pertencia a Pierre, a Jacques, a Christophe. Mestre Albertus, sentado em sua grande poltrona, com os pés repousados sobre os trasfogueiros, o cotovelo metido na quina da mesa, enquanto fumava seu cachimbo, começou a sublinhar, uma após a outra, as singulares descobertas de seu pupilo. Karl chorou de ódio, enfureceu-se, contestou... Mas o velho mestre abriu silenciosamente um de seus in