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Mostrando postagens de fevereiro, 2018

A ALMA DO OUTRO MUNDO - Narrativa Verídica - Anônimo do séc. XIX

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A ALMA DO OUTRO MUNDO Anônimo do séc. XIX Lemos no  Jornal do Comércio  do Rio: “Isto, que talvez pareça a muitos uma fantasia, é um fato real, sucedido há bem pouco tempo. Vinha raiando o dia: a manhã era fresca, o tempo sereno. Pela estrada do Barreto, em Niterói, ia seguindo, a trote largo, na sua carrocinha, um empregado de padaria, encarregado da distribuição do pão a vários fregueses moradores além do cemitério de Maruí. Habituado a esse trajeto matutino, o bom rapaz nem se dava por achado com os contínuos solavancos de seu veículo, e, como se estivesse reclinado no mais macio de todo os coxins do Oriente, dava largas à imaginação, e ia com seus castelos no ar prelibando o favo de mel de uma vida toda de abastança, que sonhava passar quando chegasse a ser o que mais pode ambicionar um entregador de pão, quando chegasse a ser dono de uma padaria... Quantos planos! Que futuro tão dourado pela fagueira esperança! De repente, soou-lhe aos ouvidos

O ABUTRE - Conto Clássico - Conto Fantástico - Marc Donat

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O ABUTRE Marc Donat Empalhador-naturalista, Edme Forgeot possuía numa lojinha dos recantos mais afastados do Quartier Latin, por baixo de um pardieiro enviesado, que parecia oscilar ao peso de tantos séculos e tantas imundícies. Encimando a loja, lia-se esta palavra esquisita: EMPAL... O resto fora devorado pela poeira ácida de Paris. Sobre a porta ostentavam-se o nome e prenome do comerciante, seguidos dessa orgulhosa menção: “Medalha de ouro nas exposições”. Edme Forgeot era um homenzinho calvo, escanhoado como um ator, usando óculos, ativo, gabando-se de literato. Vivia sozinho, tendo apenas um auxiliar a quem recorria o menos possível, e ocupava, por cima de seu armazém, três aposentos sórdidos, úmidos como adegas, tresandando a mofo. Houve tempo em que trabalhava peças magníficas, das quais conservava ainda alguns espécimes. Mas, agora, a sua clientela se achava quase reduzida a certas senhoras do bairro, que lhe vinham, lacrimosas, empalhar  D

A ROSA MORTAL - Narrativa Clássica de Horror - Narrativa Verídica - Anônimo Francês do Séc. XIX

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A ROSA MORTAL Anônimo do século XIX Tradução de autor desconhecido do mesmo século Lê-se num jornal de Nantes: “ A senhorita Amélia I… residia numa pequena casa de campo. Apaixonada pelas flores, como todas as pessoas de sua idade, pois tinha 19 anos, possuía um jardim onde não cessava de fazer ramalhetes. Um dia, na forma de seu costume, foi ao jardim, onde o seu primeiro movimento foi colher uma rosa para pôr na cabeça, não deixando de cheirá-la primeiro. Seja porque a aspiração tenha sido muito forte, seja porque aproximou demais a rosa do nariz, Amélia sentiu uma espécie de titilação que, infelizmente para ela, não foi suficientemente forte para fazê-la espirrar. Segundo a declaração do Dr. T. I…, seu tio, um espirro lhe teria salvado a vida. O fato é que ela não fez caso do sucedido. Todavia, alguns dias depois, passou a queixar-se de uma violenta dor de cabeça. Começou a não poder dormir, sofrendo dores atrozes. Muitos médicos foram cha

O HOMEM MORTO - Conto Clássico de Terror - Leopoldo Lugones

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O HOMEM MORTO Leopoldo Lugones (1874 – 1838) Tradução de Paulo Soriano     A aldeota em que paramos com os nossos carros, após um demorado trabalho de agrimensura em áreas despovoadas, contava com um estranho homem louco, cuja demência consistia em acreditar-se morto. Ali chegara há vários meses, sem querer dizer de onde viera, e pedindo encarecidamente que o considerassem defunto. Não é preciso dizer que ninguém pôde satisfazer ao seu desejo. E por mais que muitos, ante o seu desespero, simulassem tratar com um homem morto, tal não fazia senão multiplicar os seus padecimentos. Ele não deixou de se apresentar a nós assim que chegamos para implorar-nos, com uma desolada resignação, que realmente nos causava dó, que acreditássemos naquela impossibilidade. Assim fazia ele com os viajantes que, de tempos em tempos, passavam pelo lugarejo. Era um tipo extraordinariamente magro, de barba amarelada, envolto em andrajos: um demente qualquer. Mas o agrimensor seduziu-se

DR. LUZ - Conto de Terror - Roberto Landulfo

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DR. LUZ Roberto Landulfo Eu cheguei uma hora adiantado no consultório médico. Naquele dia o trânsito estava, estranhamente, fluindo bem na cidade. Para não ficar sentado na sala de espera, lendo revistas antigas, resolvi tomar algo no bar em frente ao consultório. — Por favor, uma dose de conhaque. Teria que tomá-lo devagar, pois seria só uma dose, afinal não poderia ir à consulta, “alto”. O tempo demorava a passar e a comecei a sentir aquela tontura diária, motivo da minha visita ao médico. — O Sr. não quer comer algo? Perguntou-me o balconista. — Não, obrigado. Suguei a última gota do copo, paguei a conta e atravessei a rua. Entrei no prédio, peguei o elevador, 10º andar, sala 85, clínico geral. Na recepção uma moça com não mais de 25 anos me atendeu. — Boa tarde. Tenho uma consulta às 18 horas. — Por favor, carteirinha do convênio e Rg. Entreguei tudo o que me foi pedido e fiquei aguardando na sala de espera. Além de mim um senhor, já com seus