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Mostrando postagens de junho, 2021

O ABADE DUNCANIUS - Conto Clássico de Terror - Heinrich Zschokke

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O ABADE DUNCANIUS Heinrich Zschokke (1771 – 1848)   No final do século XIII, viam-se ainda em Liebenthal (Silésia) as ruínas de um mosteiro consagrado a São Florêncio do qual ninguém, sobretudo durante a noite, se aproximava sem sobressalto e terror. O grande Alberto, em seu livro De decretis mulierum et naturae , oferece um desenho destas ruínas e as designa sob o nome de Igreja do Cavalo Branco ( Albi equi ecclesia). Também estava Alberto sob a invocação de São Florêncio. Assim ele narra a sua história: Vivia em Liebenthal, em 1158, certo abade chamado Duncanius, que regia os monges confiados à sua autoridade com tanta prudência e discrição que logo adquiriu em toda a região circunvizinha um grande renome de santidade.  Nas grandes atribulações da vida, todos recorriam a ele, e não menos acudiam os fiéis à sua igreja por ele que pelas relíquias de São Florêncio, que eram conservadas na sacristia, com grande veneração, guardadas em uma grande urna de prata maciça.  Tão considerável c

A PEQUENA POSSUÍDA DE STEINBACH - Narrativa Clássica Sobrenatural - Catherine Crowe

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  A PEQUENA POSSUÍDA DE STEINBACH Catherine Crowe (1803 – 1876) Tradução de Paulo Soriano   Bárbara Rieger, uma garotinha de dez anos de Steinbach, estava possuída por dois espíritos, que falavam em dois dialetos diferentes, com distintas vozes masculinas. Um dos espíritos afirmava que havia sido pedreiro; o outro se apresentava como um magistrado eclesiástico falecido; este último era o pior dos dois. Quando os espíritos falavam, a criança fechava os olhos e, quando tornava a abri-los, nada sabia do que eles haviam dito. O pedreiro confessou ter sido um grande pecador, mas o magistrado era orgulhoso e empedernido, e nada confessava. Muitas vezes, pediam comida, e a obrigavam a comer, mas estes bocados não alimentavam a criança, pois, quando esta voltava a si, mostrava-se muito faminta. O pedreiro gostava muito de conhaque e bebia muito; e, se não o trouxesse quando ele pedia, sua fúria e rugidos eram terríveis. Mas a criança, quando no domínio de sua personalidade, t

A MENDIGA DE LOCARNO - Conto Clássico de Terror - Heinrich von Kleist (Acompanhado de Versão em Áudio)

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A MENDIGA DE LOCARNO Heinrich von Kleist (1777 — 1811)   Músico, poeta, romancista, contista e dramaturgo, Heinrich von Kleist (1777 — 1811) é um dos grandes nomes do romantismo alemão. Respirou tão ardorosamente a atmosfera trágica de sua escola que protagonizou um dos mais dramáticos e comoventes suicídios da história: às margens do Pequeno Wanse, o poeta atirou no peito de uma companheira de infortúnios que, como ele, ansiava a morte; depois, introduziu o cano da pistola na própria boca e disparou. O atormentado e genial poeta tinha, então, apenas 34 anos. “A Mendiga de Locarno” (“ Das Bettelweib von Locarno ”), historieta de fantasmas, foi publicada originalmente na edição de 11 de outubro de 1810 do periódico Berliner Abendblättern, sendo posteriormente incluída na antologia Histórias (“ Erzählungen "), de 1811.   Em Locarno, na Itália setentrional, ao pé dos Alpes, erguia-se o velho palácio de um marquês. Nos dias de hoje, vindo de São Gotardo, podemos contemplá

A CAMPONESA POSSUÍDA - Narrativa Clássica Sobrenatural - Catherine Crowe

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  A CAMPONESA POSSUÍDA Catherine Crowe (1803 – 1876) Tradução de Paulo Soriano   No ano de 1830, o Dr. Bardili teve um caso que reputou, decididamente, de possessão. A paciente era uma camponesa de 34 anos, que nunca havia tido qualquer enfermidade, e cujas funções corporais continuavam perfeitamente regulares enquanto os estranhos fenômenos, dos quais falarei, se manifestavam. Devo observar que esta senhora era feliz em seu casamento, tinha três filhos, não era fanática e gozava da excelente reputação de mulher   constante e diligente, quando, sem qualquer aviso ou causa perceptível, ela foi tomada pelas mais extraordinárias convulsões, enquanto de seu interior saía uma estranha voz, que se acreditava ser de um espírito maligno, que anteriormente revestira-se de uma forma humana. Quando esses ataques ocorriam, ela perdia totalmente sua identidade e se tornava uma outra pessoa. Mas, quando voltava a si, recobrava completamente a seu entendimento e personalidade. As blasfê

PETER PLOGOJOWITZ, O VAMPIRO DE KISOLOVA - Narrativa Clássica de Terror - Michael Ranfft

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  PETER PLOGOJOWITZ, O VAMPIRO DE KISOLOVA Michael Ranfft (1700 - 1774)   Peter Plogojowitz, um habitante de uma aldeia na Hungria chamada Kisolova, morto e enterrado há mais de dez anos, apareceu à noite a várias pessoas da aldeia, enquanto dormiam, e pressionou-lhes o pescoço de tal forma que expiraram dentro de vinte e quatro horas. Assim, morreram nada menos que nove pessoas em oito dias. A viúva de Plogojowitz declarou que ela mesma havia sido visitada pelo marido falecido, que lhe aparecera para exigir os seus sapatos.  Aquela aparição a assustou tanto que a mulher deixou Kisolova e foi morar em outro lugar. Estas circunstâncias induziram os habitantes da vila à firme determinação de desenterrar o corpo de Plogojowitz e incinerá-lo, a fim de pôr um basta nessas perniciosas visitas.  Assim, solicitaram ao comandante das tropas do imperador no distrito de Gradisca, no reino da Hungria, e ao encarregado do local, uma licença para exumar o cadáver. Ambos fizeram muitas es

OS CANIBAIS - Conto Clássico de Horror - Álvaro do Carvalhal

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  OS CANIBAIS Álvaro do Carvalhal (1844 – 1868)   CAPÍTULO 1   Disse a crítica pela boca de Boileau: Rien n’est beau que le vrai , e não tardou que as fábulas, arabescos exóticos e exageros, oriundos principalmente dos tempos heroicos, perdessem toda a soberania dantes exercida na ampla esfera das boas letras. Os Prometeus, os Hércules, os Teseus e as Esfinges, se não desapareceram em pó, lançados aos quatro ventos, é porque era necessário que se conservassem os padrões que deviam guiar o filósofo através dos labirintos do passado. Por isso lá estão firmes ainda em seus pedestais de pedrarias, mas ofuscados pela luz brilhante que só vem da verdade. Todavia não deixarei eu de confessar o amor, que sempre tive por contos de fadas, para que se não estranhem algumas murmurações, acaso fugitivas, no ato de me sacrificar às exigências desta geração pretensiosa. Sacrifico-me. Mas, como não sou dado a transcendências, pois abomino tanto a incógnita dos matemáticos, como a D