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Mostrando postagens de abril, 2021

O TÚMULO DO DIABO - Conto Clássico de Terror - Anônimo do séc. XIX

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  O TÚMULO DO DIABO Anônimo do séc. XIX   O seguinte fato é muito conhecido na Normandia. Havia naquelas terras um antigo barão, que era o terror do povo. Homem perverso, capaz das maiores atrocidades, não hesitava diante de nenhum obstáculo para a satisfação dos seus nefandos desejos. O seu castelo era considerado pelos camponeses como uma espécie de antecâmara do inferno. A donzela que lá entrasse, por vontade ou à força, não tornava a sair. Dizia-se que o barão, depois do cometer as maiores infâmias, mandava enterrar viva a infeliz que caíra sob as suas garras de tigre. Os pobres camponeses benziam-se quando passavam pela frente do castelo e escondiam as suas mulheres e filhas, para que o diabo, como chamavam o feroz cavalheiro, as não visse. Um dia, correu a notícia de que o barão estava agonizando. Nesse dia, por coincidência, desabou sobre a terra uma fortíssima tempestade. O vento uivava lugubremente, e não faltou quem ligasse a esse fato o da agonia do barão.

ACALANTO DAS ÁGUAS - Conto Fantástico - Tânia Souza

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ACALANTO DAS ÁGUAS Tânia Souza   Sentiu as folhas e o frio da terra sob seus pés descalços. No meio da floresta, esgueirando-se entre as árvores centenárias, estremeceu ao confundir os gigantescos loureiros com vultos em meio à forte neblina. Havia um pesado silêncio no bosque que se estendia por extensões incalculáveis, ela poderia jurar que nunca antes pés humanos cruzaram suas barreiras. Mas uma vez... talvez não fosse lenda. Talvez ela tivesse uma chance. O frio do amanhecer aos poucos desaparecia e o ar parecia agora bafejado por murmúrios longínquos. Pequenas frestas de luz invadiam os galhos das árvores mais altas e desciam entrecortados, iluminado as trevas. Plantas desconhecidas estendiam-se espinhosas e feriam sua pele, rasgando o tecido fino que a envolvia. Tentou vencer o medo e a sensação de que logo seria alcançada; desde que deixara a vila, caminhara sem descanso, mas os cavaleiros não desistiriam tão fácil. Uma única chance, talvez. Olhos. Podia senti-los, e

O CADÁVER REDIVIVO DE MELROSE - Narrativa Clássica de Terror - William of Newburgh

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  O CADÁVER REDIVIVO DE MELROSE William of Newburgh (1136 – 1198)   Não seria fácil acreditar que os cadáveres têm a virtude  (não sei por que meio) de sair de seus sepulcros e vagar pelo mundo para o terror ou destruição dos vivos e, depois, regressar aos túmulos, que espontaneamente se abrem para novamente recebê-los, não fossem os exemplos frequentes, ocorridos em nossos dias, para estabelecer este fato, de cuja verdade há abundantes testemunhos. Seria de se estranhar que tais prodígios tenham acontecido no passado, uma vez que não podemos encontrar nenhuma evidência de semelhante fenômeno nos trabalhos de autores antigos, em cuja vasta obra havia o compromisso de relatar toda ocorrência digna de memória; pois, se eles nunca negligenciaram o mister de  registrar até mesmo eventos de moderado interesse, como  poderiam ter omitido um fato ao mesmo tempo tão surpreendente e hediondo, supondo que tivesse acontecido em sua época? Além disso, se eu escrevesse todos os exemplos

O MORTO-VIVO DE BERWICK - Narrativa Clássica de Terror - William of Newburgh

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O MORTO-VIVO DE BERWICK William of Newburgh (1136 – 1198)   Também sabemos que outro evento, não muito diferente do que narramos [1] , e igualmente extraordinário, aconteceu mais ou menos na mesma época, na região setentrional da Inglaterra. Na foz do rio Tweed, sob a jurisdição do rei da Escócia, existe uma nobre cidade chamada Berwick.  Nessa cidade, um certo homem, muito rico (mas, como que se veio a saber depois, um grande tratante), havia sido enterrado. Mas, à noite, foi retirado de seu túmulo (em virtude de estratagema, como se crê, de Satanás) e passou a vagar de cá para lá, perseguido por uma matilha de cães que ladrava ruidosamente — despertando, assim, grande terror nos vizinhos —, e regressando ao seu túmulo antes do fim do dia. Porque essa assombração continuava a se repetir por vários dias, e ninguém ousava pôr os pés fora de casa depois do anoitecer — eis que cada um temia um encontro com este monstro mortal —, as classes alta e média do povo realizaram uma n

O ÍNCUBO NO MOSTEIRO - Narrativa Clássica Sobrenatural - Ludovico Sinistrari

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O ÍNCUBO NO MOSTEIRO Ludovico Sinistrari (1622 – 1701)   A prova de intimidade com um íncubo oferece dificuldade, pois, não menos do que outros demônios, o íncubo é, a seu nuto, invisível para todos, exceto para sua amante. No entanto, não é raro que os íncubos se deixem surpreender no ato da relação carnal com as mulheres, ora de uma forma, ora de outra. Num mosteiro (não menciono nem o nome nem o da cidade onde está situado, para não lembrar um escândalo passado), havia uma monja que, por ninharia — como é habitual com as mulheres e, principalmente, com as monjas —, havia discutido com uma de suas companheiras, que ocupava uma cela adjacente à sua. Rápida em observar todas as ações de sua adversária, esta vizinha percebeu, em vários dias consecutivos, que, em vez de caminhar com suas companheiras no jardim, após o jantar, a monja se retirava para a cela, onde se trancava. Ansiosa para saber o que ela poderia estar fazendo ali todo aquele tempo, a curiosa monja dirigiu-s

O CADÁVER DEAMBULANTE DE BUCKINGHAM - Narrativa Clássica de Terror - William of Newburgh

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  O CADÁVER DEAMBULANTE DE BUCKINGHAM William of Newburgh (1136 – 1198)   Nestes dias, um evento maravilhoso aconteceu no condado de Buckingham, que eu, em primeira instância, ouvi parcialmente de certos amigos, e depois fui mais detalhadamente informado por Stephen, o venerável arquidiácono daquela província. Um certo homem morreu e, de acordo com o costume, pelo honroso esforço de sua esposa e parentela, foi sepultado na véspera da Ascensão do Senhor. Na noite seguinte, porém, tendo subido ao leito onde repousava sua esposa, não só a aterrorizou ao acordá-la, mas quase a esmagou com o peso insuportável de seu corpo. Tendo voltado na noite subsequente, o cadáver voltou a afligir, da mesma maneira, a atônita mulher que, assustada com o perigo, à medida que se aproximava a peleja da terceira noite, cuidou de permanecer acordada e cercar-se de companheiros vigilantes. Mesmo assim, ele veio. Mas, sendo repelido pelos gritos dos presentes, e vendo que fora impedido de operar os seu

PROJETO CATARSE: FARRAS NORDESTINAS - Editora Corvus

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  A antologia Farras Fantásticas reúne 18 contos de autoris nordestines, misturando a tradição e o contemporâneo. São histórias que celebram as festas populares de cada um dos nove estados da região com um toque do fantástico, do especulativo.   O livro é uma homenagem ao que há de melhor na cultura popular e, ao mesmo tempo, vai além. Procura entender o passado para ressignificar o presente e construir um outro futuro.   Olhamos para trás com orgulho de nossas raízes, mas sabemos que os tempos atuais exigem novas reflexões e outras leituras.   Isso sem deixar, é certo, a diversão de lado. Entre um forró e um reisado, sentamos na mesa do bar para prosear com comadre assombração e compadre robô.   Por meio da ficção científica, do terror e da fantasia, trazemos olhares diferentes sobre esse Nordeste tão vibrante. A Farras é uma semente sendo plantada, na esperança de dar bons frutos para a literatura fantástica nordestina e nacional.   A capa é de Caique

A HISTÓRIA DO HOMEM LEOPARDO - Conto Clássico de Horror - Jack London

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A HISTÓRIA DO HOMEM LEOPARDO Jack London (1876 – 1916) Tradução de Paulo Soriano   Ele tinha um olhar sonhador e distante e a sua voz triste — insistente e gentil como a de uma criada — parecia a plácida personificação de uma profunda melancolia. Ele era o Homem Leopardo, mas não parecia sê-lo. Sua profissão — o seu meio de vida — cifrava-se em exibir-se numa jaula de leopardos adestrados, diante de concorridas plateias, e emocioná-las com certas demonstrações de coragem, pelas quais seus empregadores o recompensavam numa escala proporcional às emoções que ele produzia. Como eu disse, ele não parecia um Homem Leopardo. Tinha quadris estreitos, ombros mirrados e era anêmico, embora parecesse menos oprimido pelo desânimo do que por uma tristeza cândida e gentil, cujo peso suportava com candura e afabilidade. Durante uma hora, tentei arrancar-lhe uma história, mas parecia que lhe faltava imaginação. Para ele, não havia romantismo em sua brilhante carreira, nenhum ato de ousadi

O SOFÁ - Conto Clássico de Mistério - Charles Dickens

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  O SOFÁ Charles Dickens (1812 – 1870) Tradução de Paulo Soriano                     — O que essa gente jovem faz, às vezes, para arruinar-se e partir o coração de seus amigos — disse o sargento Dornton — é surpreendente! No Hospital Saint Blank, aconteceu-me um caso dessa espécie. Um caso nada agradável, de fato, e com um terrível desfecho! “O secretário, o cirurgião-geral e o tesoureiro do Hospital Saint Blank foram à Scotland Yard para denunciar vários roubos cometidos contra os seus alunos. Os estudantes não podiam deixar nada nos bolsos de seus casacos, quando pendurados nos cabides do hospital, pois era quase certo que seriam furtados. Pertences de toda classe desapareciam constantemente e, porque o ladrão ou ladrões ainda não haviam sido descobertos, os cavalheiros estavam naturalmente preocupados com os furtos e com a reputação da instituição.  Encarregado do caso, segui para hospital. — Pois bem, senhores — disse eu, depois de termos debatido o assunto —, supon