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Mostrando postagens de março, 2019

A MORTE DE EDGAR ALLAN POE - Narrativa Verídica - Narrativa Fúnebre - John Joseph Moran

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A MORTE DE EDGAR ALLAN PÖE (Memorando Oficial da morte de Edgar A. Pöe)   John Joseph Moran (Séc. XIX) Edgar A. Pöe foi levado ao "Washington Hospital” em um carro a 7 de outubro de 1849. Acharam-no estendido em um banco situado defronte de uma casa de negócio da esquina de Hight Street. Estava ele em completo estado de estupor, causado quer pelo álcool, quer pela absorção de um narcótico (ópio), o que não se pode dizer ao certo. Um homem que passava, vendo muitas pessoas reunidas ao redor de um indivíduo que jazia estendido, aproximou-se e reconheceu o Poeta. Isto aconteceu ao raiar do dia. Um agente de polícia mandou chamar um carro e o fez conduzir a este hospital, do qual sou diretor. Teve lugar a sua entrada às 10 horas da manhã. Edgar Pöe foi para um quarto particular onde, despido, foi examinado minuciosamente. Eu nenhuma noção anterior tinha de seus hábitos, vida e situação financeira. Nem a sua roupa nem a sua respiração exalava

O TELEGRAMA - Conto Cruel - Mário Terrabatava

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O TELEGRAMA Mário Terrabatava O Sr. Ono convocou ao seu escritório dois de seus mais valorosos subalternos. O Sr. Yamamoto era inteligente e sagaz. Cumpria as suas tarefas com rapidez e precisão. Mas não poria a mão no fogo por ele.   O Sr. Fujimura era o mais antigo, dedicado e fiel de seus funcionários. Não era tão brilhante e competente quanto Yamamoto, mas era confiável. Yamamoto era jovem e solteiro. Vivia com o pai, comerciante de chá. Fujimura já passara dos cinquenta anos. Era casado e pai de oito filhos, quatro deles ainda pequenos. O Sr. Ono passara a noite em claro, mas não conseguira tomar a decisão. Agora, diante daqueles homens, teria que deliberar. A diretoria ordenou que dispensasse um dos dois. Os dois funcionários, silenciosos, esperavam a decisão. — Senhores — disse o Sr. Ono —, vocês sabem que eu não tenho outra opção. Devo dispensar um de vocês. Eu sofro muito com isso... Temo ser injusto... Vivemos tempos difíceis... A decisão q

OLOFIN E A IMORTALIDADE - Conto Fantástico - Conto Tradicional Iorubá

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OLOFIN E A IMORTALIDADE (Conto tradicional Iorubá) No princípio dos tempos, Olofin — o criador do mundo —fez o homem e a mulher e lhes concedeu a vida. Olofin engendrou a vida, mas se esqueceu de criar a morte. Os anos se passavam e os homens e as mulheres envelheciam cada vez mais, mas não morriam. Assim, a terra se encheu de pessoas velhas que tinham milhares de anos e continuavam governando de acordo com as suas antigas leis. Tanto imploraram os mais jovens que um dia seus clamores chegaram aos ouvidos de Olofin. E Olofin viu que o mundo não era tão bom quanto ele havia planejado e sentiu que ele mesmo estava velho e cansado demais para consertar aquilo que tão mal lhe havia saído. Então Olofin convocou Iku para se encarregar da resolução do problema. Iku compreendeu que deveria acabar com o tempo em que as pessoas nunca morriam. Fez, então, com que chovesse sobre a terra durante trinta dias e trinta noites sem parar. E tudo ficou submerso. Somente as cr

O NOVO CORAÇÃO - Conto Cruel - Mário Terrabatava

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O NOVO CORAÇÃO Mário Terrabatava Wilhelm Bjørnson von Heiden, banqueiro e industrial, presidente da sociedade clandestina Fraternidade Ariana Farroupilha , finalmente ganharia um novo coração. Recebeu o telefonema às 7:00h da manhã.   Às 8:00h, o seu helicóptero particular pousava no heliponto do hospital.   Naquele mesmo dia, à tarde, era um homem transplantado. A recuperação daquele ariano de “puríssimo sangue”, descendente de prussianos e noruegueses, foi surpreendente. Sem dúvida, atribuía aquela capacidade de regeneração à pujança natural de sua estirpe viking . Quando, porém, voltou à sua mansão, ficou vivamente contrariado e temeu pela própria saúde. Soube que o seu condomínio de alto luxo admitira uma família negra abastada. Algo inadmissível. Mandou que os seus investigadores descobrissem o valor da compra do imóvel e pagou por este o dobro aos recém-chegados. Enxotou-os para bem longe, sem se preocupar com as despesas. — Negros, semitas e asiátic

DELÍRIO ÍGNEO - Conto de Terror - Paulo Soriano

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DELÍRIO ÍGNEO Paulo Soriano Para Henry Evaristo. Do alto da esplanada do paço do arcebispado, de onde podia divisar a ampla praça das execuções, agora despovoada, o frade Heinrich Kramer escutava, com o peito apertado, o silêncio deprimente que se seguira ao espetáculo da imolação. E respirava o ar impuro, infecto, impregnado de fumaça humana. Àquela hora, não mais se viam as chamas escarlates, que vorazmente percorriam as achas de madeiras, e se elevavam ao poste de suplício para consumir, vagarosamente, as carnes impuras da condenada, atada à trave, em corpo e alma, por pregos e arames vigorosos. A negra fumaça, de odor adocicado pela carne calcinada, não mais se erigia em uma coluna convulsa e espiralada, antes de atirar-se ao ar noturno, e espraiar-se sobre o céu de Mainz como uma bruma escura e fuliginosa. Não, a imolada não gritava mais, lacerada pela fornalha que cuspia grossos rolos de fumo negro. E nem mais se exasperava a turba inclemente, que assistia à

O FILHO - Conto Clássico de Horror - Horacio Quiroga

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O FILHO Horacio Quiroga (1878 – 1937) Tradução de Paulo Soriano — Sim, papai — repete o garoto. É um poderoso dia de verão nas Missões, com todo sol, calor e calma que a estação pode proporcionar. A natureza, plenamente aberta, sente-se satisfeita consigo mesma. Com o sol, o calor e o calmo ambiente, o pai abre também o seu coração à natureza. — Tenha cuidado, garoto — diz ao filho, condensando nessa frase todas as recomendações, e o seu filho a entende perfeitamente.   — Sim, papai — responde a criança, enquanto pega a escopeta e carrega de cartuchos os bolsos da camisa, fechando-os com cuidado. — Volte na hora do almoço — observa ainda o pai. — Sim, papai — repete o garoto. Equilibra a escopeta na mão, sorri ao pai, beija-o na cabeça e parte. O pai o segue por um instante com os olhos, e volta aos afazeres do dia, feliz com a alegria do seu menino. Sabe que o filho é educado desde a mais tenra infância no hábito e na precaução ao peri