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Mostrando postagens de abril, 2020

A TATUAGEM - Conto Clássico Insólito - Saki

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A TATUAGEM Saki (Hector Hugh Munro) (1870-1916) Tradução de Paulo Soriano — O jargão artístico dessa mulher me cansa — disse Clovis a seu amigo jornalista.  — Adora dizer que certos quadros “crescem sobre nós”, como se fossem uma espécie de fungo. — Isso me lembra — disse o jornalista — a história de Henri Deplis. Eu já lhe contei alguma vez? Clovis negou com a cabeça. — Henri Deplis era por nascimento um nativo do Grão-Ducado de Luxemburgo. Em razão de uma reflexão mais madura, converteu-se em caixeiro-viajante. Suas atividades frequentemente o levavam além dos limites do Gão-Ducado e, estando numa pequena cidade do norte da Itália, chegaram-lhe notícias de que havia recebido um legado de um parente distante, que havia falecido. Não era um grande legado, ao menos do modesto ponto de vista de Henri Deplis. Ainda assim, o impeliu a umas extravagâncias aparentemente inofensivas. Em particular, o levou a patrocinar a arte local, representada pelas agulhas de t

PRESENTE A UM ENFORCAMENTO - Conto Classico Sobrenatural - Ambrose Bierce

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PRESENTE A UM ENFORCAMENTO Por Ambrose Bierce (1842 - 1914?) Tradução de Paulo Soriano     Um velho homem chamado Daniel Baker, que vivia em Lebanon, Iowa, era suspeito, por seus conterrâneos, de haver assassinado um vendedor ambulante que obtivera permissão para passar a noite em sua casa. Isto aconteceu em 1853, quando tal espécie de mercancia era mais comum no Oeste do que hoje, e cercava-se de um perigo considerável. O vendedor atravessava, com a sua maleta, por todo tipo de estradas solitárias, e era obrigado a confiar nas pessoas do campo para ganhar hospitalidade.  Isto o levava a interagir com tipos estranhos, alguns dos quais não eram de todo escrupulosos em seus métodos de ganhar a vida, sendo o assassinato um meio aceitável a tal escopo. Ocasionalmente, acontecia de um vendedor ambulante, com a maleta diminuída e a bolsa acrescida, acorrer à solitária habitação de algum biltre e depois jamais se ter notícias de seu paradeiro. Assim foi o caso do “velho Baker

A VINGANÇA DO SENHOR DE VERMANDOIS - Conto Clássico de Horror - Pedro María Olivé

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A VINGANÇA DO SENHOR DE VERMANDOIS Pedro María Olivé (1767 – 1843) Tradução de Paulo Soriano Imaginem um antigo castelo situado em meio a um bosque sombrio e melancólico. Suas altas ameias dominam as árvores frondosas. Vê-se uma ponte levadiça sustentada por fortes correntes. Adiante está a praça de armas, onde os cavaleiros costumam exercitar-se em combates simulados. Um majestoso silêncio reina nesta solidão. Sente-se um certo pavor ao entrar neste recinto. Tudo anuncia a morada isolada de um dos antigos cavaleiros. De fato, é o castelo de Eudes, senhor de Vermandois. Acompanha-o nesta fortaleza a sua esposa Gabrielle de Levergies, mais conhecida por sua formosura que por seu ilustre nascimento. Esta senhora fora, muitas vezes, o objeto de grandes e magníficas festas. O castelo ressoava então com vozes de alegria: tudo era música e dança. Lá se reunia a brilhante juventude da Provença. O magnífico Eudes acolhia os seus hóspedes com esplendor. Estes se

O BAÚ - Narrativa Clássica de Horror - Anônimo do séc. XIX

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O BAÚ Anônimo do séc. XIX Isto foi há cinquenta ano. Naquela época,   ninguém amava o que era velho e da terra, e era uma dor de coração ver como os baús eram relegados aos   sótãos e aos   cantos mais obscuros,   como se fossem os mais indesejados trastes de casa.   O tempo dos baús tinha passado e a maior parte deles se achavam ignobilmente transformados em tulhas de aveia junto das estrebarias.  Adélia, linda e muito jovem moça, acabava de sair do convento: seus pais lhe deram parte do seu próximo casamento; que o noivo, os vestidos, as joias estavam prontos, e os parentes convidados. Pensando nos vestidos, nas joias, nas plumas, Adélia era feliz. Chegou o dia das núpcias: grande era a alegria da família, da mocinha   e de suas amigas. A festa foi bela e suntuosa: o povo, ao ver passar os noivos, e os pobres ao receber a esmola, exclamavam: — Que lindo par! Deus os abençoe, Deus os faça felizes!   Felizes! Sim. Vocês logo saberão. Um dia de ca

O VAMPIRO - Conto Clássico de Terror - Anônimo do século XIX

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O VAMPIRO Anônimo do século XIX Há duzentos anos, numa aldeia da Boêmia, existia uma bela jovem pertencente a uma família de um lavrador. De nome Maria, tinha um bom coração. Amava os pais, aos quais, desde a tenra infância, tratava de ser útil, encarregando-se voluntariamente de várias atividades domésticas. Por este motivo, também era estimada da sua família e da gente do povoado. As mães a citavam como um exemplo de amor filial, e de um procedimento digno de toda a consideração. Maria tinha 18 anos quando chegou à sua aldeia um estrangeiro jovem e de boa presença, parecendo ser de alguma cidade, em razão do seu vestuário; pois, ainda que simples, era elegante, e as suas maneiras afáveis e corteses diferiam muito das que se usavam na aldeia. Maria, sagaz como era, não deixou de notar esta diferença e, desde esse momento, uma sorte funesta pareceu adejar sobre o seu destino. O estrangeiro estabeleceu sua morada junto à casa dos pais de Maria, e, desta maneira, muita

A VALSA E A MORTALHA - Conto Clássico de Terror - Domingos Manoel de Oliveira Quintana

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A VALSA E A MORTALHA Domingos Manoel de Oliveira Quintana (Sec. XIX) I Quem é aquele vulto que se debruça, em hora tão avançada, sobre a borda de um abismo insondável e que parece medir-lhe a profundidade? Vejamos de perto. É uma jovem de dezoito anos, pura e cândida, que chora. Chama-se Helena. É bela e poderia ser feliz. Junto a si há uma vestimenta fatal que a jovem contempla soluçando. Irá vesti-la. É uma mortalha. À beira do abismo, a jovem mulher dirige a Deus uma prece por sua alma. Pede-lhe que não desampare o seu pobre e velho pai, que amanhã chamará em vão pela querida filha. Feita a oração, resta-lhe, apenas, lançar-se no abismo e desparecer para sempre. Sente, porém, um rumor na folhagem. Volta-se, confusa, e vê aparecer um estanho que é tão jovem quanto ela. Ambos ficam surpresos, porque procuravam o desfiladeiro para o mesmo fim. Chamava-se Ernesto. Era um jovem esbelto, pálido, de olhos expressivos, cabelos negros e lábios breves.