Postagens

Mostrando postagens de março, 2023

POR MUITAS VIDAS - Conto Clássico Sobrenatural - Pu Songling

Imagem
POR MUITAS VIDAS Pu Songling (1640 – 1715)   Algumas pessoas se lembram de cada incidente de suas existências anteriores; isto é um fato que muitos exemplos podem provar. Outras pessoas não esquecem o que aprenderam antes de morrer e nascer novamente, embora rememorem apenas confusamente do que foram em uma vida anterior. Wang, o Aceitável, da cidade de Flor de Pessegueiro Amarelo, quando as pessoas discutiam tais questões, tinha o costume de narrar a experiência que teve com o seu primeiro filho. O menino, tinha, à época, três ou quatro anos. Falava apenas umas poucas palavras e algumas pessoas achavam-no pouco inteligente. Um dia, Wang escrevia uma carta, quando foi interrompido por um amigo. Ele pousou o pincel sobre mesa e saiu da sala. Quando retornou, a carta estava terminada e escrita muito mais corretamente do que ele teria acreditado ser capaz de fazer. Além disso, ele não se lembrava de tê-la concluído. Todavia, o misterioso incidente não o incomodou deveras. Ou

TEM UM BICHO NO MEU QUARTO - Conto de Terror - Cauê Costa

Imagem
  TEM UM BICHO NO MEU QUARTO! Cauê Costa    Ao apagar a luz da cozinha, Lucas tomou uma pontada de susto quando a janela da sala de jantar se arreganhou subitamente, abrindo ambos os lados para dentro e causando um barulho muito alto que ecoou pela casa toda. Apesar de saber que o vento causara isto, o susto se deu por ter acabado de fechá-la.  Ventava violentamente forte lá fora, então Lucas, após se esquecer do susto e reacender a luz da cozinha, correu para fechar novamente a janela, mais forte desta vez. O trinco estava um pouco gasto e já não alcançava tão bem o outro lado, deixando-o solto.  — Ah! Meu Deus! — Grunhiu de desânimo, ainda tentando prender o pequeno ferro cilíndrico na base do outro lado. Finalmente conseguiu, mas estava obviamente frouxo. — Ah! Foda-se. Vai ficar assim!  Virou as costas e andou novamente em direção ao quarto, talvez já esperando o que aconteceria em seguida.  A janela se abriu novamente, deixando o sopro fino e constante do vento entra

A SERPENTE DA ILHA - Conto Clássico de Terror - Pu Songling

Imagem
  A SERPENTE DA ILHA Pu Songling (1640 – 1715)   No belo arquipélago de Chu-san há uma pequena ilha onde as flores jamais cessam de desabrochar e as árvores crescem densas e altaneiras. Não se conhece, desde a mais remota antiguidade, quem viva à sombra desta mata virgem. Samambaias e trepadeiras emaranham-se tão profundamente que a um homem é impossível atravessar este deserto sem abrir caminho com uma machadinha. Um jovem estudante, chamado Chang, que morava na Cidade-sobre-o-Mar, descansava de sua faina diária velejando sobre o mar; seguia num um pequeno barco de junco que ele mesmo conduzia. Tendo ouvido falar da misteriosa ilha, resolveu explorá-la. Assim, preparou vinho e comida e partiu numa bela manhã de verão. Por volta do meio-dia, Chang acercou-se do lugar onde deveria estar a ilha. Prontamente, da brisa quente chegou-lhe um delicioso perfume floral. Ele viu o verde-escuro das árvores sobre o verde-claro do mar e, achegando-se, contemplou a areia amarela da praia, onde resol

O CEMITÉRIO - Conto Clássico de Terror - Lima Barreto

Imagem
  O CEMITÉRIO Lima Barreto (1881 – 1922)   Pelas ruas de túmulos, fomos calados. Eu olhava vagamente aquela multidão de sepulturas, que trepavam, tocavam-se, lutavam por espaço, na estreiteza da vaga e nas encostas das colinas aos lados. Algumas pareciam se olhar com afeto, roçando-se amigavelmente; em outras, transparecia a repugnância de estarem juntas. Havia solicitações incompreensíveis e também repulsões e antipatias; havia túmulos arrogantes, imponentes, vaidosos e pobres e humildes; e, em todos, ressumava o esforço extraordinário para escapar ao nivelamento da morte, ao apagamento que ela traz às condições e às fortunas. Amontoavam-se esculturas de mármore, vasos, cruzes e inscrições; iam além; erguiam pirâmides de pedra tosca, faziam caramanchéis extravagantes, imaginavam complicações de matos e plantas – coisas brancas e delirantes, de um mau gosto que irritava. As inscrições exuberavam; longas, cheias de nomes, sobrenomes e datas, não nos traziam à lembrança nem um