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Mostrando postagens de junho, 2018

COLHEITA NEGRA - Conto de Terror - Marcelo Muniz

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COLHEITA NEGRA (Marcelo Muniz -   classificado no Concurso Literário Bram Stoker de Contos de Terror) De longe pareciam penduricalhos. Amuletos indígenas tipo apanhador de sonhos. O velho carvalho careca, atrás da capela de São Ito, no alto do vilarejo, exibia seus enfeites como uma árvore de natal em agosto. Dispostos de forma aleatória, sete corpos nus jaziam pendurados entre os galhos. Braços emparelhados ao corpo, as mãos livres. Banquetas de madeira tombadas ao chão e garrafas vazias de uísque caseiro de milho espalhadas por todo o gramado irregular. Em cada corpo, uma letra entalhada na região do tórax feita por algum objeto cortante. Sangue escorria das lacerações em alguns pontos, e em outros, coagulado. Um anum preto tomava conta. Com ajuda dos mais capazes e menos escandalizados, padre Ignácio comandava o resgate. E o primeiro corpo foi retirado. — Padre, é os... — tentou dizer um morador. Suas mãos sujas de sangue. — Sim, eu sei — interrompeu o homem

A VELHA DO DIABO - Conto de Terror - Bruno Oliveira

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A VELHA DO DIABO (Bruno Oliveira, classificado no Concurso Literário Bram Stoker de Contos de Terror) Nunca acreditei nessas coisas do além. Pra mim, espírito, assombração eram coisas da imaginação, da mente criativa demais ou da debilitada de menos. Pra mim, quem me dizia acreditar e ver essas coisas, era doida, gente de pouca fé, falastrona. O imaterial, pra mim, sempre foi algo de cunho filosófico, ou seja, era papo-cabeça, assunto trivial e descompromissado no campo das ideias; uma especulação gratuita sem o rigor acadêmico de estudos probatórios e sérios. Era uma diversão apenas, nada mais ou menos do que isso. Eu achava ridículo, sinceramente, quem me dizia sentir medo dessas coisas. Até entendia o motivo disso, afinal, quem crê, medo tem. O medo é essencial, para nós, seres vivos. É ele que nos mantém alertas, espertos, ou não, diante do perigo, do desconhecido. Tenho medo, admito, como todo o mundo têm, porém, não tenho medo dessas coisas, ou melhor, eu não tinh

A COISA NA PORTA - Conto de Terror - Jorge Vieira

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A COISA NA PORTA (Jorge Vieira, classificado no Concurso Literário Bram Stoker de Contos de Terror)          Poucas pessoas são realmente capazes de apreciar a beleza da ignorância. Invejo os que sorriem tranquilos e que, obviamente, não passaram pelo que passei ou viram as coisas terríveis que vi. Nas horas vazias, quando meu pensamento voa livre, sou transportado para aquela casa onde vivi os momentos de mais puro terror. Ainda estremeço ao lembrar daquele som rítmico e abafado de batidas na porta.          Dezenove anos se passaram desde o incidente no número 85 da Rua Oak e ainda tenho visões horrendas daquele lugar maldito. …          O inverno de 1966 foi particularmente severo com a população da pacata Pine Heights, uma cidadezinha no norte de New Hampshire, onde havia morado minha vida inteira e onde nunca mais pisaria. Na primeira semana de dezembro a neve já começava a forrar meu quintal com uma fofa camada de brancura imaculada. O noticiário na rádio p

TERRITÓRIO DE SANGUE - Conto de Terror - Davidson Abreu

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TERRITÓRIO DE SANGUE (Davidson Abreu, classificado no Concurso Literário Bram Stoker de Contos de Terror) Ao final da década de 1880, em um vilarejo próximo aos Montes Cárpatos, sua pequena população vivia em relativa tranquilidade. O principado da Transilvânia havia sido abolido e o território anexado ao Império Austro-Húngaro. O descontentamento do povo levou intelectuais a se manifestarem com o que ficou conhecido como o “Pronunciamento de Blaj”, que apesar dos esforços, rendeu apenas perseguição aos seus apoiadores. A distância dos grandes centros e a preocupação com a sobrevivência através do duro trabalho no campo deixavam grande parte dos camponeses alheios às disputas políticas. A segunda Revolução Industrial multiplicava seus frutos pelo mundo ocidental, atingindo principalmente os maiores portos e grandes cidades da Alemanha, Inglaterra e França, além dos Estados Unidos da América, contudo, parecia não chegar à parte Oriental da Europa, exceto por