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Mostrando postagens de dezembro, 2023

O JANTAR DO JAGUARU - Conto Clássico de Terror - Anônimo do Século XX

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  O JANTAR DO JAGUARU Anônimo do século XX.   Dizia-se que aquela vivenda — como encravada pelo próprio Anhangá entre o capinzal bravio o lameiro pestilencial das águas estagnadas — era o antro infecto onde habitava um animal estranho com aspecto de lobo, meio homem, meio cachorro. Por isso, enquanto a expedição ia se aproximando da antiga fazenda em procura de um refúgio protetor da tormenta que se avizinhava ameaçadora, assegurava-se que ninguém se aproximaria do ranchinho de estacas nem por todo o ouro do mundo. O vaqueano da expedição, Aquilino Rodrigues, era um guasca de boa marca. Chamavam-no Enguia, em alusão a sua extrema magreza e agilidade. Há dois dias que caía uma chuva fina e pertinaz. Na cozinha da fazenda, onde a peonada se reunia obrigada pelo mau tempo, o capataz, tipo indiático, baixo e atarracado, pescoço de touro, tinha a palavra. Esgotados já todos os assuntos, a conversação esfriava, quando inesperadamente alguém falou do l obisomem . — De uma f

O LOBISOMEM - Conto Clássico de Terror - Viriato Padilha

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O LOBISOMEM Viriato Padilha (1866 – 1923)   Viajava eu por uma dessas estradas de serra abaixo, tão incômodas pelos constantes lameiros e pântanos que nelas se encontram, nos quais os cavalos enterram-se, às vezes, até os peitos. Descambava o Sol para o ocaso, e já me sentia enfadado com a monotonia da paisagem baixa, uniforme, apresentando sempre os mesmos mangues de vegetação arcaica, que recordam a de épocas geológicas decorridas, a mesma pobreza de culturas, os mesmos ranchos de sapé atufados na capoeira e com um magote de crianças magras e lambuzadas à porta. O meu camarada (é este o nome que se dá ao criado que acompanha o viajante e trata dos animais) nascera, por ali mesmo em Iguaçu ou Itaguaí. Conhecia a palmo as paragens que atravessávamos, e de quando em vez esclarecia-me sobre aquela insípida região, prestando-me informações interessantes acerca dos bípedes que por ali viviam. Cândido era o nome do meu camarada, que também acudia ao chamado de Bigode, alcunha que lhe haviam

OS FANTASMAS QUE CAPTURAM ALMAS - Conto Clássico de Terror - Yuan Mei

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  OS FANTASMAS QUE CAPTURAM ALMAS Yuan Mei (1716 – 1797)   Um homem chamado Yu gostava de caçar grilos. Todas as noites, no outono, saía pelo portão de Feng, levando consigo alguns frascos, em busca de grilos, e só regressava quase ao anoitecer. Um dia, atrasou-se no regresso e viu que o portão da cidade já estava trancado. Consternado, e sem ter como voltar, Yu andava de um lado para o outro à beira da estrada. Foi quando reparou que dois homens, vestidos de preto, à distância, se aproximavam, com os sapatos batendo fortemente na estrada a cada passo. — A nossa casa não é longe daqui — disseram-lhe. — Por que não vens passar a noite conosco? Yu acompanhou-os de bom grado. Quando chegaram à casa, pertencente a um escriturário, as folhas da porta estavam abertas. Havia, lá dentro, alguns livros velhos, um vaso de porcelana e um incensário de cobre. Yu segurava a sua dúzia de frascos de grilos, sentindo-se esfomeado. Então, sentou-se ao lado de um candeeiro. Naquele í

A CASA MAL-ASSOMBRADA - Conto Clássico Sobrenatural - Pu Songling

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  A CASA MAL-ASSOMBRADA Pu Songling (1640 – 1715)   O Sr. Li de Changshan, sobrinho de Li Huaxi, presidente do Conselho de Justiça, era dono uma casa mal-assombrada. Certo dia, ele viu em sua varanda um longo banco, rosa-carne, muito liso e bem-acabado. Ele não se lembrava de possuir tal banco, e foi até ele e tocou-o, deixando sua mão correr ao longo de suas curvas. A coisa realmente parecia macia, como carne. Então, afastou-se, em estado de choque e repulsa.   Havia dado alguns passos, quando olhou para trás e viu o banco mover-se sobre seus quatro pés e desaparecer, à medida que se fundia à parede. Em seguida, viu um longo cajado de madeira branca e brilhante encostado na parede. Ele o segurou. Era tão liso que escorregou por entre seus dedos, caindo ao chão, onde ficou a contorcer-se como uma cobra, até que também se recolheu à parede, onde desapareceu. No décimo sétimo ano do reinado do imperador Kangxi [1] , um erudito chamado Wang Junsheng fixou residência na casa

QUERIDO PAPAI NOEL - Conto de Horror - Júlio Portus Cale

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  QUERIDO PAPAI NOEL Júlio Portus Cale   “Querido Papai Noel: Fernando me disse, ontem, que você não existia, mas eu não acreditei. Fernado é mentiroso, você sabe disso. Claro que você existe! Lembra-se do beijo que você me deu no Shopping Center Uirapuru? Claro que sim! Neste ano, não quero uma boneca, nem uma patinete rosinha. Quero outra coisa. Já, já lhe digo. Hoje à noite, papai voltou a brigar com mamãe.  Ele estava com tanta raiva!  E fez uma coisa muito feia. Feia mesmo! Depois, foi embora. O que será que é traição ? Não sei e nem quero saber. Acho que papai não gostava da presença do primo Manuel aqui em casa. Será que foi por isso que mamãe e papai brigaram? Acho que sim. Mas não sei e nem quero saber! Juro! Mamãe está deitada aqui, bem juntinho.  Aqui e ali, na verdade.  Mas eu preciso subir e esperar por sua chegada. Não demore muito, tá? Papai Noel, o que eu lhe peço é uma cola mágica. Tenho a certeza de que, amanhã de manhã, quando eu acordar, vou p

UMA NOITE MACABRA - Conto de Terror - George dos Santos Pacheco

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UMA NOITE MACABRA George dos Santos Pacheco   Os sinos da catedral badalavam e ecoavam até os confins da cidade. Toda vez que morria alguém por lá era assim, e eu sentia calafrios ao ouvir o som do bronze. Não era nada demais, mas é que aquele barulho ensurdecedor deixava uma atmosfera mórbida que não era nem um pouco agradável. No entanto, era véspera de Natal, o céu estava limpo e corria uma leve brisa de verão. Eu e meus amigos estávamos todos empolgados com a data, na expectativa de receber os presentes, aliás, toda a cidade já estava preparada para isso, havia pinheiros decorados por toda a parte e o movimento no modesto comércio era agitado. Santa Cruz era um lugarejo pequeno, de casinhas pintadas com cores primárias e janelas e portas que davam diretamente para a calçada. Todos se conheciam. À noite, nos reuníamos na frente das casas e ficávamos lá, escutando histórias contadas pelos mais antigos, ou íamos assistir televisão na praça. Não, não é nenhum engano. Àquela épo