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Mostrando postagens de julho, 2020

RELATO DE UM TAXISTA DA MADRUGADA – ME LEVE PARA CASA! Conto de Nilvio Alexandre Fernandes Braga

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RELATO DE UM TAXISTA DA MADRUGADA – ME LEVE PARA CASA! Nilvio Alexandre Fernandes Braga   Olá, depois de ouvir alguns relatos de colegas taxistas, tomei coragem e hoje contarei o meu a vocês. Não tenho orgulho nenhum; na verdade, me envergonho muito, não pelo ocorrido, mas da forma que ocorreu. Por mais estranha que pareça, essa história realmente aconteceu e contarei a vocês, mesmo que seja desconfortável relatá-la... Como já revelei acima, sou taxista, trabalho em uma grande cidade do Brasil. Esse fato foi há mais de uma década, mas mudou minha vida, em vários sentidos. Bem, vamos lá. Já havia dormido dentro do carro mesmo, fazia pouco que tinha acordado de uma soneca restaurativa, e resolvi rodar. Saí dirigindo pela cidade, não a esmo, pois, como um bom taxista, sei os horários e as ruas certas para rodar e pegar alguns clientes. Era por volta das 4h da madrugada, uma bela noite de lua cheia, mas fria, muito fria, e mesmo com o ar quente do carro ligado dava para senti

ACAUÃ - Conto Clássico de Terror - Inglês de Sousa

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ACAUÃ Inglês de Sousa (1853 -1918)   O capitão Jerônimo Ferreira, morador da antiga vila de São João Batista de Faro, voltava de uma caçada a que fora para distrair-se do profundo pesar causado pela morte da mulher, que o deixara subitamente só com uma filhinha de dois anos de idade. Perdida a calma habitual de velho caçador, Jerônimo Ferreira transviou-se e só conseguiu chegar às vizinhanças da vila quando já era noite fechada. Felizmente, a sua habitação era a primeira ao entrar na povoação pelo lado de cima, por onde vinha caminhando, e por isso não o impressionaram muito o silêncio e a solidão que a modo se tornavam mais profundos à medida que se aproximava da vila. Ele já estava habituado à melancolia de Faro, talvez o mais triste e abandonado dos povoados do vale do Amazonas, posto que se mire nas águas do Nhamundá, o mais belo curso d'água de toda a região. Faro é sempre deserta. A menos que não seja algum dia de festa, em que a gente das vizinhas fazendas venha

O ASSASSINO - Conto Clássico de Terror - Hendrik Conscience

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O ASSASSINO Hendrik Conscience (1812 – 1883)   Perto da aldeia de Overgoor está situada uma fazenda, que fora em certo tempo ocupada pelo fazendeiro Dries van den Hout, homem trabalhador e econômico que, tendo começado a sua vida com pouca coisa, chegara a ter cavalariças, estábulos e uma numerosa criação. Além disso, o fazendeiro Dries gozava de muita simpatia e era considerado uma das melhores pessoas do lugar. Na sua fazenda havia um empregado muito negligente, que gostava mais de dormir do que de trabalhar e tanto assim que o seu maior prazer era estar continuamente a bocejar e a espreguiçar-se. No verão, então, a vida do pobre rapaz era intolerável. Sus, como se chamava ele, nunca se levantava à hora da chamada para o serviço pela madrugada. Às 3 horas da manhã, quando o relógio da fazenda enchia toda a casa do tilintar odioso do seu despertador, Sus dormia. E, se estava acordado, não se levantava. Fingia não ter ouvido o sinal. Esperava que o fazendeiro o viesse a

O PERIGO DAS PROFECIAS - Conto Clássico de Cruel - Humberto de Campos

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O PERIGO DAS PROFECIAS Humberto de Campos (1886 – 1934)   Quando se divulgou pela cidade a notícia de que Alexandre da Gama assassinara a mulher com sete punhaladas, ninguém atinou com o motivo daquele crime. Sabia-se, apenas, que os dois haviam passado a tarde fora de casa, e que, na volta, se haviam empenhado numa discussão, que terminou naquela desgraça. Um repórter conseguiu, porém, descobrir tudo. Supersticiosos os dois, tinham o Alexandre e a esposa convencionado procurar uma cartomante, para sondarem o poço misterioso do seu destino. — Toma: leva dez mil réis para a consulta — dissera o Alexandre.  E metendo, por seu turno, dez mil réis no bolso do colete, ganhara a rua, combinando um encontro às seis em ponto, em frente à casa da bruxa. À hora aprazada encontraram-se.  — Que te disse ela? — indagou o rapaz, ansioso.  — Boas coisas — informou a Rosita. — Disse-te que ias ter filhos? — Disse. — Quantos? — Três. — Como? — Três — confirmou a rapariga.

A IMAGEM NO FUNDO DOS OLHOS - Conto Clássico Fantástico - Maurice Renard

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A IMAGEM NO FUNDO DOS OLHOS Maurice Renard (1875 – 1939)   O que lhes vou narrar aconteceu ao mais célebre dos oculistas franceses quando não era ainda o professor Fagus, mas, simplesmente, o doutor Fagus. Certo dia, ele teve que tratar de Frederico Arcier, homem rico e poderoso, cognominado na França “o rei do papel”. Arcier escrevera-lhe, como eu ou o leitor, para obter uma entrevista. E a hora da consulta chegou. Antes de abrir a porta que comunicava o seu gabinete com a sala de espera, Fagus não pôde evitar um movimento de orgulho ao pensar no considerável personagem que aguardava a sua decisão. Sentia-se muito altivo por ter trabalhado tanto, e ser tão útil aos seus semelhantes que uma espécie de monarca recorria agora às suas luzes. O milionário entrou. Era um perfeito gentleman , de trinta a quarenta anos. Fagus notou-lhe o ar fatigado, a coloração de cera branca, as dolorosas rugas. Recordou-se, imediatamente, de que o poder industrial de Arcier era uma heranç