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Mostrando postagens de outubro, 2018

O IMPENITENTE - Conto Clássico de Terror - Aluísio de Azevedo

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O IMPENITENTE Aluísio de Azevedo (1857 – 1913)   Conto-vos o caso como mo contaram. Frei Álvaro era um bom homem e um mau frade. Capaz de todas as virtudes e de todos os atos de devoção, não tinha, todavia, a heroica ciência domar os impulsos de seu voluptuoso temperamento de mestiço e, a despeito dos constantes protestos que fazia para não pecar, pecava sempre. Como extremo recurso, condenara-se, nos últimos tempos, a não arredar pé do convento. À noite fechava-se na cela, procurando penitenciar-se dos passados desvarios; mas, só reprimir o irresistível desejo de recomeçá-los, era já o maior dos sacrifícios que ele podia impor à sua carne rebelde. Chorava. Chorava ardendo de remorsos por não poder levar de vencida os inimigos da sua alma envergonhada; chorava por não ter forças para fazer calar os endemoninhados hóspedes do seu corpo, que, dia e noite, lhe amotinavam o sangue. Quanto mais violentamente procurava combatê-los, tanto mais viva lhe acometia o espírito a in

ERIPEIA E O CELTA - Conto Clássico de Horror - Eximí Opfalas

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ERIPEIA E O CELTA Eximí Opfalas Quando os celtas invadiram a Jônia, raptaram grande número de mulheres que, no suntuoso Templo de Apolo, em Mileto, celebravam as tradicionais festas Tesmofórias, dedicadas a Deméter ou Ceres Tesmóforas, deusa agrária dos Jônios. Entre elas foi raptada Eripeia, esposa de Xanto, o qual, inconsolável com a perda da mãe do seu dileto filho, vendeu tudo que possuía e partiu, através da Grécia e da Itália, em busca de Eripeia. Chegando às Gálias, conseguiu Xanto saber que sua esposa vivia em casa de Ligúrio, homem notável entre os celtas e em cuja morada pediu hospedagem. Sua mulher, ao ver Xanto, abraçou-o e beijou-o efusivamente, como quem recebe um libertador. Isto fez com que seu marido logo procurasse Ligúrio, propondo-lhe resgatar a esposa por mil peças de ouro, importância sobremodo considerável. O honesto celta, porém, observou a Xanto que tal soma era excessiva para o resgate de uma mulher, aconselhando-o a dividi-la em quatro parte

ARMADILHA - Conto de Terror - Tânia Souza

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ARMADILHA Por Tânia Souza Para Celly Borges e Luiz Poleto Por alguns instantes, apenas as batidas do meu coração rompem o silêncio enervante e ameaçador. Frio. O escuro ao meu redor. Lentamente respiro e procuro ouvir a respiração dos outros. E mais uma vez a voz suave, perigosamente suave, me indaga, quase implora: — Conte, o que você fez? No entanto, meus pensamentos estão confusos e não consigo pensar em algo coerente. Nem mover os dedos dos pés. Ficaram adormecidos pelas pancadas com a barra de ferro das últimas horas. Devem estar fraturados e abençoadamente não sinto a dor. Mas sinto o gosto acre do meu próprio sangue nos lábios rachados pelos socos. Tenho sede, muita sede e a desidratação me enfraquece. Ainda assim, consigo balbuciar: — Um pouco de água... Ah, a dor de volta, cruelmente a água salgada escorre pela minha cabeça e minha língua ávida tenta captá-la pesar do ardor dos ferimentos. — Eu não fiz nada a ela... não sei onde está. Esta

COISA DE ARCAICAS TIAS - Conto de Terror - Natanael Gomes de Alencar

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COISA DE ARCAICAS TIAS Natanael Gomes de Alencar I     Naquela sala, estava frio. Um frio do Alaska. Da Sibéria. A alma dela também. Fria. Picolé do bode-rubroanho. Mas simulava gentilezas. Seu nome — Penélia. Costureira conhecida. Muitos anos de batalha. Depois de um tempo, dera-se ao luxo de escolher pra quem costurar. Era muito procurada por grupos de escola de samba — mesmo tendo se apossado do que não era seu em uma delas - e de teatro. Naquele momento, falava com o homem, que tinha uma arma, chamada de Créssida. Uma Taurus 838c. Novinha. Pensara num funk pra arma. Novinha — palavra que lhe teimava quando pensava. Mas empacara. A Créssida era especial para aquele feito a vir. O homem sorvia um cafezinho e a ouvia. Ela falava. Ele escutava, reparando a parede com infiltrações. Dera um trabalho chegar naquela chácara. Quase fundira o motor. Ruas cheias de galhos, troncos, pedras e buracos. Dona Penélia, mulher no auge da delicada fúria, profissional de mão ch