MORTOS DA HUNGRIA QUE SUGAM O SANGUE DOS VIVOS - Conto Clássico de Terror - Augustin Calmet
MORTOS DA
HUNGRIA QUE SUGAM O SANGUE DOS VIVOS
Augustin Calmet
(1672 – 1757)
Certo dia, há cerca de quinze anos, estava um
soldado alojado na casa de um camponês de Haidamagne, na fronteira da Hungria,
quando, sentado à mesa com o anfitrião, entrou um desconhecido e sentou-se à
mesa também com eles.
O dono da casa ficou estranhamente assustado com
isso, assim como os demais presentes. O soldado não sabia o que
pensar, ignorando o assunto em questão. Porém, tendo sido o dono da casa
encontrado morto no dia seguinte, o soldado se informou sobre o que
acontecera. Disseram-lhe que fora o corpo do pai de seu anfitrião,
morto e enterrado há dez anos, que se sentara ao lado dele, anunciando e
causando a sua morte.
O soldado comunicou, primeiramente, o fato ao
regimento que, de sua feita, notificou o quartel-general. Este enviou o conde
de Cabreras, capitão do regimento da infantaria de Alandetti, para obter
informações sobre o acontecimento. Chegando ao local, com alguns outros
oficiais, um cirurgião e um auditor, ouviu os depoimentos de todas as pessoas
da casa, que unanimemente confirmaram que o morto-vivo era o dono da casa, e
que tudo o que o soldado havia dito e relatado era exatamente a verdade,
confirmada por todos os habitantes da vila.
Em decorrência disso, exumaram o cadáver do
redivivo, e encontraram o corpo como o de um homem que acabara de expirar, cujo
sangue era como o de um homem vivo. O conde de Cabreras fez com que lhe
cortassem a cabeça e o devolveu à sepultura.
O conde colheu informações sobre outros mortos-vivos,
um dos quais um homem morto há mais de trinta anos, que havia retornado ao lar
em três ocasiões, e sempre na hora da refeição. Na primeira vez, ele sugou
o sangue do pescoço de seu próprio irmão; na segunda, o de um de seus filhos e,
na terceira, o de um dos servos da casa. E todos os três morreram,
instantaneamente, no local. Com lastro nestas informações, o comissário fez
exumar o homem. Descobriu que, como o primeiro, o seu sangue estava em um
estado fluido, como o de uma pessoa viva. Então ordenou que lhe atravessassem a
têmpora com um grande prego e, depois, o colocaram de volta na sepultura.
Mandou, ainda, queimar um terceiro morto-vivo,
enterrado há mais de dezesseis anos, que sugara o sangue e causara a morte de
dois de seus filhos. O comissário, que fez o seu relatório ao quartel-general,
foi encaminhado à corte do imperador, e este ordenou que alguns oficiais, tanto
de guerra como da justiça, alguns médicos e cirurgiões, e alguns homens
instruídos fossem enviados para examinar as causas de esses eventos
extraordinários. A pessoa que nos relatou esses detalhes os ouvira do senhor
conde de Cabreras, em Fribourg en Brigau, em 1730.
Versão em português: Paulo Soriano.
Narrativa constante do Traité sur les apparitions des esprits et
sur les vampires ou les revenants de Hongrie, de Moravie, etc. (Tratado
sobre as aparições dos espíritos e sobre os vampiros ou redivivos da Hungria,
da Morávia etc.), de 1751.
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