A MORTE PERSISTENTE - Conto Clássico de Horror - Pu Songling



A MORTE PERSISTENTE

Pu Songling

(1640 - 1715)

 

Havia, em nossa aldeia, um homem que levava uma vida extremamente desonrosa.

Certa manhã, bem cedo, quando ele se levantou, dois homens apareceram e o conduziram ao mercado. Lá, ele pôde ver um açougueiro pendurando a metade de um porco.


 


 

Quando se aproximaram, os dois homens o empurraram com todas as forças contra o animal morto. Eis que a própria carne do homem começou a se misturar à do animal, enquanto os seus condutores seguiram na direção oposta.

De vez em quando, o açougueiro vinha apanhar, para a venda, uma porção de carne.  Tomando a faca à mão, punha-se a cortar a quantidade que necessária. A cada toque da lâmina, nosso desonesto amigo experimentava uma forte pontada, que lhe penetrava a medula.

Finalmente, chegou um homem idoso e regateou sobre o peso que lhe fora dado, clamando por um pouco mais de gordura, ou uma porção extra de carne magra. Quando o açougueiro cortou a carne de porco grama por grama, causou ao homem desonrado uma dor cruciante, insuportável ao extremo.

Por volta das nove horas, a carne de porco já havia sido toda vendida e nosso herói foi para casa. Lá chegando, a família lhe perguntou o que ele queria dizer com “ficar na cama até bem tarde”.

Ele, então, narrou tudo o que havia acontecido. Após algumas averiguações, descobriram que o açougueiro havia acabado de chegar em casa. O açougueiro foi capaz de dizer-lhes cada quilo de carne que havia vendido e cada fatia que havia sido cortada.

Imagine um homem sendo condenado à morte lenta — assim mesmo —, antes do café da manhã!

 

Versão em português de Paulo Soriano a partir da tradução inglesa de Hebert Giles (1845 – 1935).

 


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