A MORTE DE SIR HUGH ACKLAND - Conto Clássico Fúnebre - Joseph Taylor
A
MORTE DE SIR HUGH ACKLAND
Joseph Taylor
(Séc. XIX)
Tradução de Paulo Soriano
O
notável acontecimento, que narrarei em seguida, mostra a necessidade de
examinar-se minuciosamente as pessoas após a morte, antes do sepultamento, e de
não ceder a temores ridículos sobre manifestações aparentemente sobrenaturais.
O
falecido Sir Hugh Ackland, de Devonshire, aparentemente morreu de febre e foi
declarado morto.
A
enfermeira, acompanhada por dois lacaios, sentou-se junto ao cadáver, e a Sra.
Ackland mandou-lhes uma garrafa de conhaque para que bebessem durante a noite.
Um
dos criados, sendo um grande velhaco, disse ao outro que seu senhor amava
muito, quando vivo, aquela bebida.
—
E — completou — estou certo de que ele há de beber um copo conosco, agora que
está morto.
O sujeito, portanto, despejou um copo de
conhaque na boca do falecido e forçou-o garganta abaixo. Seguiu-se
imediatamente um gorgolejo e um movimento violento do pescoço e da parte
superior do peito do cadáver.
O
outro lacaio e a enfermeira ficaram tão apavorados que desceram correndo a
escada. E o “gênio” do conhaque, apressando-se em fugir com demasiada
velocidade, terminou por cair da escada de ponta-cabeça. O barulho da queda e
seus gritos alarmaram um jovem cavalheiro que dormia na casa naquela noite. Ele
se levantou e foi até a sala onde o “cadáver” jazia. Para a sua grande
surpresa, encontrou Sir Hugh desperto e sentado. O cavalheiro chamou os
serviçais. Sir Hugh foi colocado em uma cama quente, e mandaram chamar o médico
e o boticário. Em poucas semanas, esses senhores restauraram perfeitamente a
saúde de seu paciente, e ele viveu vários anos depois do incidente.
A
história acima é bem conhecida do povo de Devonshire. A muitos companheiros,
Sir Hugh costumava narrar este estranho acontecimento, falando-lhes de sua
ressurreição por meio do conhaque servido por seu lacaio, a quem, quando
realmente morreu, deixou uma bela pensão vitalícia.
Ilustração: Diego Velázquez (1599 – 1660).
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