O TERRÍVEL PASTELEIRO DE PARIS - Narrativa Clássica de Horror - Paul Sébillot
O TERRÍVEL PASTELEIRO DE PARIS
Paul Sébillot
(1843 – 1918)
Tradução de Paulo Soriano
No final do século XIV, havia um barbeiro e um pasteleiro que eram vizinhos. Este último aumentava a cada dia a sua clientela e a sua fortuna, evitava qualquer infração às ordens da polícia de Châtelet, enquanto que os mestres de sua profissão davam-se a “faltas, enganos e decepções, em detrimento do povo e do bem público, por meio dos quais a conduta desonesta pode acarretar diversos transtornos ao corpo humano”.
O pasteleiro jamais foi criticado por fazer um único patê de “carne recheada, mas fedorenta”, nem de peixe estragado, nem de uma porção de leite azedo e desnatado, um único risole de carne porco podre, uma única tortinha de queijo mofado. Nunca exibia pastéis rançosos ou reaquecidos e nem confiava os seus produtos a comerciantes vergonhosos e desonestos.
Os patês que ele próprio preparava eram muito apreciados; porque, apesar da popularidade do seu negócio, tinha apenas um aprendiz para manusear a massa, e isto a pretexto de ocultar os procedimentos que utilizava para temperar as carnes.
No entanto, rumores sinistros circularam mais de uma vez na Rue des Marmouzets, e falava-se de massacres noturnos de estrangeiros.
Certa noite, gritos lancinantes ecoaram do estabelecimento barbeiro, onde um estudante, vindo da Alemanha, fora visto entrar. Tal estudante se arrastava pelo chão, todo ensanguentado, com o pescoço mutilado e coberto de grandes ferimentos. Horrorizados, cercaram-no e interrogaram-no. O estudante contou como o barbeiro o atraiu à sua loja, prometendo barbeá-lo de graça. Na verdade, assim que entregou o queixo ao barbeiro, sentiu a navalha cortar-lhe a pele. Gritou, debateu-se, desviou-se dos golpes da lâmina afiada e conseguiu agarrar o inimigo pela garganta, tomar, por sua vez, a ofensiva e atirar o barbeiro num alçapão aberto, que aguardava mais uma nova vítima.
O barbeiro não foi mais encontrado, o alçapão foi fechado; mas, quando desceram a uma adega partilhada pelas duas lojas, surpreenderam o pasteleiro ocupado em esquartejar o corpo do seu cúmplice — o próprio barbeiro —, a quem não reconhecera ao cortar-lhe a garganta. Era assim que ele fazia os seus patês —melhor que os demais, diz o padre Dubreül —, até porque a carne humana é mais delicada, devido à alimentação, do que a dos outros animais.
Como punição por esse crime, a casa foi demolida e no seu lugar uma pirâmide expiatória foi erigida.
Fonte: Légendes et Curiosités des Métiers, Ernest Fammarior Editor, séc. XIX.
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