O FANTASMA DO CASTELO DE ARDIVILLERS - Narrativa Verídica de Mistério - Collin de Plancy
O FANTASMA DO CASTELO DE ARDIVILLERS
(Excerto)
Collin de Plancy
(1794 – 1881)
Tradução de Paulo Soriano
No Castelo d'Ardivilliers, perto de Breteuil, na Picardia, durante a juventude de Luís XV, um espírito costumava aparecer, fazendo um barulho terrível, e, durante toda a noite, havia chamas que faziam o castelo parecer pegar fogo. Eram uivos assustadores, mas isso só acontecia em determinadas épocas do ano, por volta do Dia de Todos os Santos. Ninguém se atrevia a permanecer naquele lugar, exceto o lavrador do castelo, com quem o espírito se acostumara. Se algum infeliz transeunte dormisse lá uma noite, era de tal modo estrangulado que ficava com marcas por mais de seis meses. Os camponeses das redondezas viam mil fantasmas, o que aumentava o medo.
Certa feita, alguém vira uma dúzia de espíritos pairando sobre o castelo; todos eram ígneos fogo e bailavam uma dança campestre; noutra, magistrados e conselheiros com vestes rubras foram visto num prado, sentados e condenando à morte um cavaleiro local, cuja cabeça tinha sido cortada há cem anos. Um outro encontrou um senhor, parente do dono do castelo, passeando à noite com a esposa de um outro senhor local; a senhora foi nominada; acresceu-se que tal mulher se tinha deixado seduzir e que, depois, ela e o seu senhor haviam desaparecido.
Assim, muitas pessoas viram, ou, pelo menos, ouviram falar, das maravilhas do castelo de Hardivillers. Essa farsa durou mais de quatro ou cinco anos e causou grandes danos ao senhor do castelo, que se viu obrigado a arrendar suas terras por um preço muito baixo. Então, ele finalmente resolveu pôr um fim àquela aparição, convencido, por muitas circunstâncias, de que havia alguém por trás de tudo aquilo. Assim, retornou ao castelo por volta do Dia de Todos os Santos. Dormiu em seu quarto, acompanhado de dois cavalheiros amigos, determinado, ao primeiro barulho ou aparição, a atirar, com boas pistolas, no quer que fosse,
Os espíritos aparentemente evitaram a emboscada, já que nenhum deles apareceu; contentaram-se a mover correntes em um cômodo acima do quarto do proprietário, produzindo um barulho que levou a esposa e filhos a virem correndo, atirando-se de joelhos, para impedi-los de entrar naquele ambiente.
Os senhores dirigiram-se à grande e vasta sala de onde vinha o barulho, com a pistola numa mão e a vela na outra. A princípio, viram apenas a espessa fumaça, redobrada por algumas chamas que subiam a intervalos. Esperaram um momento e, enquanto a fumaça se dissipava, nebulosamente o espírito apareceu. Era um grande demônio negro, que andava de um lado para o outro, em meio às chamas e à fumaça. Tinha chifres e uma longa cauda; o seu aspeto aterrador refreou a audácia de um dos campeões:
—Há algo de sobrenatural nisto — disse um dos senhores a seus companheiros. — Vamos retirar-nos.
— Não, não — respondeu outro. — É apenas fumaça de pólvora, e o espírito só está fazendo o seu trabalho pela metade, porque as nossas velas ainda não se apagaram.
A estas palavras, avançou, perseguiu o espectro, olhou fixamente para ele quando disparou a pistola e não errou. Mas surpreendeu-se ao ver que, em vez de cair, o fantasma voltou-se, ficando cara a cara com ele. O homem sentiu-se um tanto assustado, mas se assegurou de que aquilo não poderia ser um espectro. E, vendo que o fantasma não ousava alcançá-lo, e evitava deixar-se agarrar, decidiu pegá-lo para ver se era palpável ou se esfumar-se-ia em suas mãos.
Apressadamente, o espírito saiu da sala e desceu uma pequena escada que ficava numa torre. O senhor saiu em seu percalço, sem perdê-lo de vista. Percorreu pátios e jardins, dando tantas voltas quanto o espectro, até que, finalmente, o fantasma, chegando a um celeiro que se encontrava aberto, meteu-se nele e, vendo-se ali preso, preferiu desaparecer a deixar-se apanhar, precipitando-se contra a parede onde o senhor pretendia detê-lo.
Quando o viu desaparecer, o senhor pediu ajuda e mandou trazer algo para arrombar a abertura do lugar onde o fantasma havia sumido. Descobriu que era um alçapão, que fora fechado com um ferrolho, assim que transposto. Desceu e encontrou o fantasma sobre alguns bons colchões que o impediram de machucar-se quando nele se jogou de cabeça. Ele o trouxe para fora, e o lavrador do castelo foi reconhecido sob sua máscara de demônio. O que o tornara à prova de armas fora uma pele de búfalo ajustada ao seu corpo. Confessou todo o seu embuste e pagou ao seu senhor cinco anos de atraso, com base no valor pelo qual a terra havia sido arrendada antes das aparições.
Fonte: Dicticionaire Infernal, Tomo I, Librairie Universalle, 1825.
Fizeram-se breves adaptações textuais.
Comentários
Postar um comentário