CARNAVAL - Narrativa Clássica Fúnebre Humorística - Olavo Bilac
CARNAVAL
(Excerto)
Olavo Bilac
(1865 – 1918)
Contaram os jornais um caso macabro sucedido na Terça-feira Gorda.
Ia um defunto, a caminho da sua derradeira morada, calmamente estirado no fundo do caixão, ao trote manso da parelha que puxava o carro fúnebre. Mas, quando o enterro passava por uma praça em que se dava uma delirante batalha de confete, partiu-se uma das rodas do carro, e o pobre morto ficou para ali, parado, entre as pragas do cocheiro e o delírio dos batalhadores, que, na sua alucinação, não davam conta do que se passava.
Tardaram as providências, a batalha continuou; de maneira que quando, uma hora depois, o coche negro pôde marchar de novo para o cemitério, nas coroas de perpétuas roxas se emaranhavam as serpentinas, e o féretro ia coberto de uma espessa camada de confete…
Ora, bem! Imaginai agora que o homem não estivesse morto, mas simplesmente mergulhado na treva espessa de um sono cataléptico, e que despertasse naquele momento: cuidais acaso que o redivivo permaneceria transido de horror, meditando no atroz perigo de que acabava de ser milagrosamente salvo? Nada! O redivivo compraria um saco de confete, e num momento saltaria da inércia da morte para a alegria e a agitação do Carnaval.
Fonte: “A Maçã”/RJ, 10 de fevereiro de 1923.
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