O VAMPIRO KRYSNEWSKY - Conto Clássico de Terror - Autor anônimo do séc. XX
O VAMPIRO KRYSNEWSKY
Autore anônimo do séc. XIX
A crença nos vampiros ainda existe em muitos países da Europa. Abaixo referimos um fato extraído de um periódico alemão, e que sucedeu numa vilória das montanhas da Dalmácia. É escusado dizer que deixamos ao jornal donde o extraímos a responsabilidade da sua narrativa; eis aqui o caso:
“Uma formosa donzela fora pedida em casamento por muitos pretendentes, até que, afinal, aceitou as propostas de um deles.
Celebrados os pactos nupciais, o rapaz partiu logo para uma cidade próxima, a fim de comprar alguns objetos que é de uso oferecer à noiva. Não devia voltar senão no dia seguinte ao anoitecer.
Na tarde desse dia, o pai — com alguns amigos vizinhos — festejava as núpcias de sua filha, quando todos ficaram aterrados, ouvindo um grito terrível, que ressoara no quarto de dormir, para onde a noiva e sua mãe tinham entrado.
Todos os convidados pegaram logo nas suas armas, julgando que os ladrões tinham assaltado a casa; porém, qual não foi o seu espanto quando viram a mãe pálida, com os olhos desvairados, desgrenhada, trazendo a filha desmaiada nos braços, e gritando com voz lastimosa:
—Um vampiro! Um vampiro! A minha pobre filha está morta!
Por acaso, estava na vilória um médico que, ouvindo aquelei gritos, entrou para se informar do que ali acontecera; tratou logo de tranquilizar aquela gente. Stela (era este o nome da jovem), tornando a si por meio de um forte cordial1, conta que vira um homem pálido, embrulhado num lençol, entrar pela janela; que esse homem se arremessara sobre ela e a mordera no pescoço.
O médico qualificou esta história como uma ilusão da moça, mas o pai disse-lhe que era um incrédulo, e a mãe declarou que vira com os seus próprios olhos o medonho vampiro, e que nele reconhecera perfeitamente um certo Krysnewsky, habitante daquela terra, que fora um dos pretendentes de sua filha, e falecera havia quinze dias.
Neste entrementes, a moça denotava estar entregue à mais violenta desesperação. Logo se procuraram todos os amuletos que existiam na aldeia e penduraram-nos ao pescoço de Stela.
O pai e os amigos prometeram que, no dia seguinte, fariam desenterrar o cadáver de Krysnewsky, e o queimariam na presença de toda a gente do lugar.
Não pregaram olho toda a noite, que passaram na maior agitação.
Ao romper do dia, os homens armados com as suas espingardas, as mulheres com espetos em brasa, os rapazes com grandes varapaus dirigiram-se para o cemitério, soltando abomináveis imprecações contra o defunto. Profanaram a sepultura e, quando levantaram a mortalha, dispararam ao mesmo tempo vinte tiros, que fizeram em pedaços a cabeça do cadáver, o qual foi tirado da cova, levado para uma fogueira e ali queimado no meio das danças desses canibais e ao som de gritos ferozes da multidão.
Quatro dias depois, a pobre moça exalou o último suspiro.
Todavia, o médico quis conhecer a verdadeira causa desse singular falecimento. Tirou as ligaduras que cobriam o pescoço da jovem, e que a mãe e a família não tinham consentido que fossem levantadas em vida da infeliz, e viu, na parte inferior da garganta, uma pequena ferida, que apenas deixava entrar a sonda, que nela entrou 6 a 7 centímetros. Reconheceu o médico que a moça fora assassinada com uma sovela2 de correeiro. Dirigiu várias perguntas ao pai acerca do modo de vida dos pretendentes desprezados e, entre eles, soube que havia um que era correeiro. Desde a noite em que se perpetrara o crime, esse rapaz desaparecera do lugar, sem que se soubesse para onde fora.
No dia em que foi enterrada a moça, um homem que atravessara um rio para chegar ao lugar, contou que vira um cadáver pendente nos rochedos da margem do rio. Os habitantes dirigiram-se ao lugar indicado e aí encontraram o cadáver do correeiro, que se suicidara atirando-se à torrente.
Apesar de haverem as mais evidentes provas de que a moça fora assassinada, os pais e a família ainda estão convencidos que foi morta por um vampiro.
Notas:
1Tônico medicinal.
2Instrumento com que os correeiros — fabricante de obras de couro — abrem os furos por onde fazem passar a cerda com o fio.
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