OS DOIS CORCUNDAS - Conto Clássico Sobrenatural - M. Edgard Coulon
OS DOIS CORCUNDAS
M. Edgard Coulon
(Séc. XX)
Tradução de Paulo soriano
Outrora, na aldeia de Offémont, perto de Belfort, havia dois corcundas; um deles, sempre mal-humorado, só pensava em apoquentar maldosamente os vizinhos; o outro, de sua feita, era sempre prestativo e jovial.
O alegre corcunda partiu um dia para Héricourt. Aventurando-se num atalho, perdeu-se, de maneira que foi surpreendido pela noite quando se encontrava no monte Urcerey, em frente a Vaudois.
Ele já não sabia para onde ir, quando viu um fogo a cintilar na escuridão. Caminhou, pois, naquela direção e se encontrou bem no meio de um círculo de bruxas que celebravam o sabá.
— Quem vem lá? — gritaram elas.
Ele respondeu:
—O pequeno corcunda de Offémont.
— Aproxima-te!
Ele aproximou-se da fogueira e tentou mostrar-se o mais simpático possível.
— Como ele é tão simpático — disse uma das feiticeiras —, convém que lhe removamos a corcunda.
Duas bruxas seguraram-lhe os braços e uma outra lhe expungiu a corcunda; e fê-lo tão rapidamente que ele mal sentiu o frio da faca.
Depois, soltaram-no e disseram-lhe:
—Vai-te embora e nunca mais voltes aqui. Caso contrário, algo de mau te acontecerá.
Ele voltou para casa, muito feliz por se sentir tão espigado quanto o mais belo moço da aldeia. Casou-se com uma mulher gentil, que o fez muito feliz.
Por inveja, o outro corcunda se tornou mais malvado do que nunca. Como era tão desconfiado quanto malévolo, acreditou que a recomendação de não voltar ao sabá era somente para impedi-lo de se livrar da sua corcova e, desde então, rondava todas as noites o Vaudois e o monte Urcerey.
Finalmente, uma noite, ele vislumbrou a chama e aproximou-se dela.
— Quem vem aí? — gritaram-lhe.
Ele respondeu:
— O pequeno corcunda de Offémont.
Uma das feiticeiras agarrou-o, dizendo:
—Proibimos qualquer um de assistir ao nosso sabá: vamos punir-te. Tragam a corcunda do outro!
Como ele era corcunda das costas, colocaram-lhe a outra no peito e, durante toda a sua vida, ele permaneceu corcovado de ambos os lados.
Fonte: “Revue de Folklore Français”/Paris, Librairie Larose, tomo IV, jan/fev de 1933.
Ilustração: Jacques Callot (1592 – 1635).
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