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MUSOFOBIA - Conto de Horror - Kauan Sueo

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MUSOFOBIA Kauan Sueo O estado em que a casa me foi entregue não era um dos melhores; era um edifício antigo, muito grande — principalmente se comparado ao cubículo que alugava no centro de Londres — e, claro, muito aterrador. No dia em que pisei em minha mais nova residência, percebi que o seu antigo dono (que possuía um grau de parentesco comigo, que eu, entretanto, nem mesmo tive a chance de conhecer) não cuidava de seu imóvel fazia muito tempo. Pelo que me disseram, morreu de velhice naquela mesma residência; era do tipo solitário, que sofria de uma persistente depressão, que muito provavelmente colaborou para seu falecimento. Além do tempo que demorou para ser encontrado (por volta de uma semana após o falecimento), também houve as semanas que se seguiram depois: os processos legais... ah, me dói a cabeça só de lembrar. Bom, o resultado disso é claro, um abandono do imóvel, que estava lá acumulando poeira por um bom tempo antes que eu pudesse ocupá-lo de fato. No começo, ad...

UM PRESENTE DE NATAL - Conto Clássico Cruel - O. Henry

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UM PRESENTE DE NATAL O. Henry (1862 – 1910) Tradução de autor anônimo do início do séc. XX A causa do conflito levou vinte anos a crescer. Mas, também — palavra de honra! —, valia a pena. Se o leitor vivesse num raio de trinta milhas em redor do rancho do Sol Levante, todos lhe falariam dela. Tinha os cabelos e os olhos negríssimos, a cútis cor-de-rosa um rir que parecia gorjeio de passarinho. Chamava-se Rosita McMullen e seu pai orgulhava-se mais dela que do seu bem tratado rancho. Acabava ela de fazer os vinte anos quando dois admiradores começaram a frequentar assiduamente a casa do velho McMullen. Dava um pelo nome de Madison Lane, e outro pelo de Frio Kid ou, falando melhor, pelo de Johnny McRoy, porque aquele apelido de guerra não conquistara ainda celebridade. Não julgue, entretanto, o leitor, que só houve estes dois pretendentes à mão de Rosita McMullen. É que estes dois eram os mais renitentes da dúzia deles que, geralmente, ao entardecer, deixavam os cavalos amarr...

QUERIDO PAPAI NOEL - Conto de Horror - Júlio Portus Cale

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  QUERIDO PAPAI NOEL Júlio Portus Cale   “Querido Papai Noel: Fernando me disse, ontem, que você não existia, mas eu não acreditei. Fernado é mentiroso, você sabe disso. Claro que você existe! Lembra-se do beijo que você me deu no Shopping Center Uirapuru? Claro que sim! Neste ano, não quero uma boneca, nem uma patinete rosinha. Quero outra coisa. Já, já lhe digo. Hoje à noite, papai voltou a brigar com mamãe.  Ele estava com tanta raiva!  E fez uma coisa muito feia. Feia mesmo! Depois, foi embora. O que será que é traição ? Não sei e nem quero saber. Acho que papai não gostava da presença do primo Manuel aqui em casa. Será que foi por isso que mamãe e papai brigaram? Acho que sim. Mas não sei e nem quero saber! Juro! Mamãe está deitada aqui, bem juntinho.  Aqui e ali, na verdade.  Mas eu preciso subir e esperar por sua chegada. Não demore muito, tá? Papai Noel, o que eu lhe peço é uma cola mágica. Tenho a certeza de que, amanhã de ma...

POE POE NOEL - Conto de Terror - Karoline Thomaz

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  POE POE NOEL Karoline Thomaz   Anoiteceu. O lúgubre sino bateu. Anunciando a noite de Natal.  Uma ocasião em que eu saio para realizar os sonhos juvenis de amor e esperança envolto em minha capa rubra. Nesta noite eu carrego um saco que pesa mais que a própria culpa. Não é um simples presente; é um fardo, um segredo obscuro que levo entre as dobras vermelhas do manto que me envolve. Adentro a modesta moradia não por uma chaminé, mas pela porta que se encontra entreaberta. No quarto, o pequeno órfão anseia pelo impossível: a presença materna que a morte lhe roubou. Mantendo o silêncio e deposito o presente inerte debaixo da árvore enfeitada. A cabeça se recusa a se ajeitar, tomba desamparada para o lado diversas vezes antes de aceitar seu destino. Enquanto arrumo o fardo, próximo a uma poltrona desgastada, um gato preto me observa em silêncio com seu único olho brilhando na escuridão. Ignoro o julgamento do maldito felino e removo os vermes da face ca...

A MORTE QUE ESPREITA - Conto Clássico de Mistério - Maurice Leblanc

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A MORTE QUE ESPREITA Maurice Leblanc (1864 – 1941) Tradução de autor anônimo do séc. XX Depois de contornar os muros do castelo, Arsène Lupin voltou ao ponto de partida, decidido a empregar o grande recurso. Penetrando na espessa moita onde escondera a motocicleta, apanhou um rolo de corda sob o selim e dirigiu-se para o ponto em que árvores grandes, pertencentes ao parque, deitavam os galhos por cima do muro. Fixando uma pedra na ponta da corda, Lupin atirou-a para cima, puxou um galho grosso, montou-o e deixou que ele se reerguesse, suspendendo-o da terra. Não havia outro meio para entrar no vasto domínio de Maupertuis. De longe, examinou o castelo, com o auxílio de um binóculo, estudando-lhe a fachada triste e sombria. Todas as janelas estavam fechadas e tinha-se a impressão de um lugar desabitado. Nisso, uma das portas do térreo abriu-se, dando passagem a uma silhueta feminina, muito esbelta, envolta num capote preto. Passeou de um lado para outro, dando migalhas de pão aos p...