QUANDO ESCUTAMOS VOZES - Conto de Terror - Jurandir Araguaia

QUANDO ESCUTAMOS VOZES Jurandir Araguaia —Alguém abra a porta! Novamente batem palmas. Reforço minha ordem a plenos pulmões: — Alguém abra a maldita porta! Dou por mim que estou sozinho. Estúpido. Todos saíram. Tão envolvido fiquei com minha obra literária que nem me recordo da solidão. O vazio da casa, as paredes descascadas e algumas teias de aranha, que tento afastar, parecem-me naturais. Da janela da sala posso observar quem bate. Estico o pescoço entre as sombras tentando não ser visto — seria mais fácil ignorar um pedinte inconveniente. Vejo um vulto que me parece familiar. Aperto os olhos, que precisam de óculos, para conferir a estranha figura. Afasto três passos para trás, terrificado. Lembro-me da mesma sensação horrível de ouvir chamarem meu nome, quando criança, e de verificar que não havia ninguém. Quando escutamos vozes é a morte que nos chama, contavam os mais velhos. — Não pode ser, não pode ser. Depois de respirar fundo por alguns in...