O LOBISOMEM DE MOUNCOUTANT - Conto Clássico de Terror - Casimir Puichaud
O LOBISOMEM DE MOUNCOUTANT
Casimir
Puichaud
(1853
– 19...?)
Caso
consiga trazer um lobisomem de volta à sua forma natural, jamais mencione o nome
da pessoa transformada: você atrairá para si a má sorte.
Entre
Mouncoutant e Courlay, no vau de La Guérinière, outrora existia, paralelamente
à estrada, uma estreita ponte de pedras para pedestres. Certa noite, chegando à ponte, um criado viu,
à sua frente, um animal que julgou ser um lobo. Como ele precisava mesmo
transpor o rio, e sendo a correnteza intensa demais para tentar uma travessia a
nado, optou por seguir pela ponte. Forte e corajoso como era, o que teria a
temer de um lobo comum, intimidado diante de quem não sentia medo? Ele
avançaria para o confronto, se necessário, pois a faca que trazia na mão fora
abençoada num Domingo de Ramos. Mas a fera recuou. Assim que chegou à outra margem, o animal
correu para o homem tão abruptamente que este não teve tempo de usar a sua
arma.
Seguiu-se
um furioso combate entre aqueles adversários, no qual cada um desdobrou a sua
força, multiplicando por dez a energia que possuía, porque a vida estava em
jogo. Eles rolaram na lama — gritando o homem, rugindo de raiva a besta —, e se
morderam, rasgaram-se mutuamente, sem descanso e piedade, por um longo quarto
de hora. Finalmente, o homem obteve uma vantagem. Apertou com tanta força o
pescoço do lobo que o animal engasgou, quase estrangulado. Então o lobo, que
era um lobisomem, disse:
—
Seja misericordioso: você não se arrependerá.
O
vencedor afrouxou os seus dedos de aço, soltando a besta. Depois, pegou a faca
e continuou o seu caminho.
No
cruzamento de La Forge, sem que se soubesse de onde viera, a fera avançou sobre
o homem. Travou-se uma nova luta, tão feroz quanto a precedente, na qual o
homem igualmente triunfou. Então, andou a largos passos, com os olhos fixos nas
luzes de Moncoutant, que estavam bem próximas.
O lobisomem, pela terceira vez, tentou detê-lo. Mas ele estava alerta:
sua faca afundou no corpo do possuído e estava pronta a mergulhar novamente,
quando se deu o prodígio! A fera havia-se transformado em homem e o viajante
nele reconheceu um de seus vizinhos.
—Você
me venceu — disse o vizinho. — É o destino e eu lhr perdoo. Mas lembre-se de
que, se você contar a alguém o que acabou de acontecer, morrerá em breve.
O
homem, que vencera o lobisomem, voltou para casa coberto de lama, com as roupas
rasgadas, as mãos e o rosto ensanguentados, e depois se deitou. Seu sono foi
agitado: delirou a noite inteira. No dia seguinte, caiu no erro de declarar o
nome da pessoa que o atacara. Desde então, perdeu o apetite e nunca mais
dormiu. Morreu de consunção ao cabo de um ano — ele, tão exuberante em saúde, e tão cheio de
vida...
Fontes: “La Tradition
en Poitou et Charentes. Art populaire, ethnographie, folk-lore, hagiographie,
histoire”, pub. em 1897/ “La France Pittoresque”.
Tradução de Paulo
Soriano.
Imagem: “Lobisomem”.
Gravura colorida extraída de "La Chronique de Nuremberg", de Hartmann Schedel
(1440 - 1514), pub. em 1493. Obra realizada pela oficina de Michael Wolgemut (1434 - 1519).
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