O BANQUEIRO E A DANÇARINA - Conto Clássico - Conto de Humor Fúnebre - Eugène Guinot
O
BANQUEIRO E A DANÇARINA
Eugène
Guinot (1805 — 1861)
Um
rico capitalista de Paris fazia a corte a uma das primeiras dançarinas do
teatro. O negócio estava apenas começando. A fama da riqueza tinha aplanado as
dificuldades de estilo. As primeiras declarações foram bem recebidas, com o
sentido nas primeiras ofertas. O prólogo foi breve, porque era necessário
chegar ao primeiro ato. O primeiro ato era a admissão ao camarim, e o
esquecimento mais ou menos disfarçado da carteira de dinheiro, ou o bracelete
mais ou menos amavelmente passado ao admirar o bem torneado de um braço, que o
pudor mais ou menos bem fingido subtrairá as carícias mais ou menos afetuosas
do namorado financista. Este é o primeiro ato usual. Mas em nosso caso as
coisas correram de uma maneira muito diferente. A admissão ao camarim teve
efetivamente lugar, mas o nosso homem apresentou-se contra o costume dos
mais leigos na matéria, impondo um ar grave e solene.
—
Eu a amo muito, senhora — disse ele — e lhe darei uma prova solene do interesse
que você me inspira.
Às
palavras provas solenes, a sílfide
imaginou luzir a clássica pulseira ou o alfinete de brilhantes. Disse com os
olhos semifechados, numa interessante languidez:
—
Oh, senhor!
O
capitalista continuou:
—
Você, por acaso, não tem pensado em seu futuro? Não lembra que, de um instante
para o outro, você pode cair na miséria, sobrevir um sinistro e depois morrer
tão pobre que a sua triste herança não seja sequer suficiente a pagar aos
credores?
O
quadro lá era um pouco lúgubre para preceder uma declaração de amor. Mas como o
negócio já havia começado, a dançarina respondeu:
—É
verdade. Quantas vezes tenho pensado nisso!
—
Tenho visto — continuou o nosso homem com uma voz sentimental — algumas das suas
companheiras morrerem tão desgraçadas, que os seus cadáveres são arrojados à
vala comum nesses cemitérios, sem um jazigo, sem uma oração!
—É
verdade, é verdade — dizia a ninfa da cena, já meio comovida.
—Pois,
senhora, quero evitar este futuro tão triste. Não lhe vou oferecer um luxo
inútil, que amanhã você poderá perder. Se me permite, ofereço-lhe uma coisa
mais útil.
E,
dizendo isto, tirou da algibeira uma enorme carteira.
—Então,
o que é? — perguntou a dançarina, com tom de voz cujo significado o nosso
ricaço não pôde compreender.
—A
sua delicadeza não tem coisa alguma que recear. Eu não cometeria a grosseria de
lhe oferecer notas do banco. É melhor do que isso.
E
o banqueiro deixou ver fora da carteira um papel dobrado em quarto.
—É
um contrato de juros? — perguntou a dançarina.
—Melhor
ainda.
—Melhor
que apólices?
—Sim.
Eu quis assegurar-lhe um abrigo para o futuro.
—
Então, é o título de alguma propriedade?
—Exatamente:
é uma propriedade.
—Onde
é situada? Na cidade ou no campo?
—A
meio caminho entre uma e outro.
—Não
compreendo.
—Pois
tem pouco que saber. Receando para você, como acabo de dizer, o triste futuro
de algumas de suas iguais, tratei de comprar uma porção de terreno no cemitério
do padre Lachaise, onde você terá o seu jazigo seguro e decente. Isto é o
documento que lhe assegura a posse incontestável do terreno sepulcral.
A
dançarina, tendo lançado os olhos para o papel, ficou estupefata, vendo que
aquele era efetivamente um documento tumular.
Passado
um momento de silêncio, disse-lhe com mau modo:
—
Se é uma brincadeira, senhor, acho-a bastante lúgubre. Se é um caso sério,
agradeço, mas recuso os seus favores.
O
cavalheiro, vendo o quão mal recebido era o presente, que tinha preparado com
tanto empenho e tanta previsão do futuro, ficou desesperado: acabou por uma vez
as suas relações com a dançarina e nunca mais a procurou.
Tradução de autor
desconhecido. Fizeram-se adaptações textuais.
Fonte: “Gazeta Official”
(PA), edição de 16 de janeiro de 1860.
Imagem: James Jacques-Joseph Tissot (1836 –
1902).
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