O FANTASMA DO RELÓGIO - Narrativa Clássica de Terror - Anônimo do Século XIX


O FANTASMA DO RELÓGIO
Anônimo do século XIX

O sineiro da principal igreja do Wurtzburgo acaba de morrer em circunstâncias bem singulares.

Essa igreja tem um magnífico relógio que ocupa um espaço de trinta pés quadrados: um enorme pêndulo oscila lentamente embaixo com ruído surdo e monótono. O sineiro era incumbido de dar corda a esse relógio e era sempre com medo que ele se aproximava.

Corria, entretanto, na cidade, que o bom velho não tinha a consciência muito pura. Diziam que tinha matado, vinte anos antes, um indivíduo do lugar, que passava por ser amante de sua mulher, e a vítima ocupava justamente o cargo de sineiro, que coube depois ao assassino, a quem a Justiça, por falta de provas, tinha deixado em paz.

Há oito dias, o relógio subitamente parou. Mandaram chamar o melhor relojoeiro da cidade que, mal observou o relógio, deu um grito de horror. Todas as rodas estavam ensanguentadas e no meio da máquina estava suspenso um corpo esmagado e informe.

Com grande dificuldade, reconheceram o corpo do sineiro.

Como tinha ele subido ao relógio que, colocado no alto da torre, tinha apenas na parte inferior uma pequena abertura?

Uma única hipótese era admissível: a de ter ele galgado o pêndulo e procurado voluntariamente aquela morte horrível.

Entretanto, uma outra versão, muito mais alemã, tinha corrido na velha da cidade: disseram que o sineiro, indo dar corda ao relógio, avistara o fantasma de sua vítima. Estava o espectro montado no disco do pêndulo a encará-lo fixamente. Fascinado, foi-se o infeliz aproximando e, agarrado por mão descarnada, tinha sido bruscamente arrebatado.  O pêndulo continuava suas oscilações, e a cada uma delas o fantasma e o sineiro subiam alguns centímetros. Depois, chegaram à altura da máquina. Então, perdera-se a cabeça do sineiro nos dentes das engrenagens e o corpo seguira... O fantasma, sentado em uma caixa, observava esfregando as mãos e, minutos depois, apenas havia do sineiro uma massa ensanguentada. O relógio tinha parado.  

Oferecemos ao leitor todas as particularidades com que os Wurtzburguenses enfeitam a lenda do sineiro.  

Fonte: Publicador Maranhense, edição de 23/11/1870.



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