QUANDO O AZAR É SORTE - Narrativa Verídica - Anônimo do Séc. XIX



QUANDO O AZAR É SORTE
Anônimo do sec. XIX

Conta um jornal de Madri, em edição de 1866, que um cidadão, enfastiado de viver (talvez porque se sentisse um azarado, já que nada do que fazia dava certo), deliberou suicidar-se.

Para tornar infalível a sua morte, tomou as mais minuciosas medidas. Era ele um suicida precavido.

Inabalável no seu funesto desígnio, encaminhou-se para a praia do mar munido de uma escada de mão, de uma corda, de uma pistola carregada, de um frasco cheio de veneno e de uma caixa de fósforo.

Olhando em volta de si, enxergou uma estaca que, enterrada a poucos passos, elevava a extremidade para fora da água. Nela o suicida encostou a escada e, subindo, amarrou a corda ao topo da estaca. Com a corda, fez um nó em volta do pescoço. Então, tragou o veneno e, acendendo um fósforo, deitou fogo à roupa.

Feito isto, e para ultimar todas as precauções, tornando certa a própria morte, aplicou o cano da pistola ao ouvido e deu um pontapé na escada.

Porém, neste momento supremo, tremeu-lhe a mão quando apertou o gatilho. A bala, em vez de penetrar-lhe a cabeça, cortou a corda. E o desgraçado caiu na água, apagando-se, assim, o fogo que lhe lavrava a sobrecasaca.

A dose de água salgada, que teve de engolir, obrigou-o a vomitar o veneno, que ainda não tinha produzido efeito...

Perdidas as esperanças de morrer, foi-se para casa, convencido de que ainda não era chegada a sua hora fatal.


Fonte: “Correio Mercantil” (RJ), edição de 25 de dezembro de 1866. Fizeram-se adaptações textuais.

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