A EXPERIÊNCIA MACABRA DO DOUTOR ANDREW URE - Narrativa Verídica - B. Gastineau
A
EXPERIÊNCIA MACABRA DO DOUTOR ANDREW URE
B.
Gastineau
Tradução
de R. Belmont
O
cadáver de um assassino[1]
fora retirado da forca uma hora depois da suspensão e levado ao anfiteatro do
Dr. Ure[2],
que lhe fez imediatamente incisões no osso occipital e no calcanhar, descobriu
a medula do espinhaço, os principais nervos e pôs os órgãos em contato por meio
dos condutores elétricos.
Quando
aplicada a corrente elétrica, o corpo do enforcado agitou-se convulsivamente e
uma perna entesou-se com tal força que por pouco atirou ao chão um dos
assistentes[3].
Começou
o trabalho de uma respiração completa. O peito elevava-se e abaixava segundo os
movimentos diafragma, tal como num homem vivo.
Todas as paixões traduziram-se na face do enforcado. À proporção que
aumentava a força das descargas elétricas, seu rosto exprimia alternativamente
o terror, o desespero, a cólera, a angústia, acompanhados de um sorriso
horrível.
Os
espectadores não puderam suportar este espetáculo: uns fugiram, outros ficaram
e alguns tiveram síncope.
Fonte: Jornal do Recife, edição de 26 de novembro de
1859.
[1] Um homem chamado Matthew Clydesdale,
que teria praticado homicídio a mando de outrem, mediante pagamento.
[2] Andrew Ure
(1878 – 1857), físico escocês. Realizou a experiência galvânica — animação de
cadáveres por meio de corrente elétrica —
no corpo de Clydesdele em 4 de outubro de 1818, no mesmo ano de
publicação de Frankenstein, de Mary
Shelley.
[3] O
próprio cientista registrou o experimento: “Toda a musculatura do corpo foi
imediatamente sacudida por movimentos convulsivos, semelhantes ao tremor
causado pelo frio [...]. Ao movimento da haste do quadril ao calcanhar,
estando o joelho anteriormente dobrado, a perna foi lançada com tanta violência
que quase derrubou um dos assistentes, que então procurou conter o seu impulso.
O corpo também foi preparado para realizar movimento respiratórios mediante o
estímulo do nervo frênico e do diafragma. Quando o nervo supraorbitário estava
excitado, toda a musculatura de sua face convergiu numa reação medonha. Raiva,
horror, desespero, angústia e sorrisos horríveis — todas essas expressões
hediondas perpassavam o rosto do assassino, superando as mais selvagens representações
de Fuseli ou Kean. Neste momento, vários expectadores, aterrorizados, foram
forçados a deixar o recinto e um cavalheiro desmaiou.” (Tradução do editor.)
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