O LAGO DO DIABO - Conto Clássico de Terror e Mistério - Pierre Zaccone
O LAGO DO DIABO
Pierre
Zaccone (1817 – 1895)
Tradução
de Lafayette Pereira Tavares (sec. XIX)
Para
os fins do mês de abril do ano de 1845,
M. Charles Dumas, rico armador de Saint-Malo, foi com sua família
residir em uma deliciosa quinta, situada no vale que fica abaixo da cidade de
Dinan.
M.
Dumas, tendo ganho muito dinheiro como armador, queria desfrutar alguns anos de
repouso antes de sair deste mundo, em que deixava uns poucos de filhos, já
todos educados e a abrigo das necessidades, em virtude da bela fortuna que
tinha ganho para eles muito
honradamente.
A
quinta que escolheu era conhecida no lugar pela denominação de Sableu, e quando
dela tomou posse, havia dois anos que não era habitada.
M.
Dumas, portanto, achou-a na mais completa desordem. O capim tinha-se alastrado
pelos jardins, as árvores não haviam sido podadas, alguns muros achavam-se
caídos pela ação da chuva e do vento; o assoalho e o teto estavam todos podres:
em suma, parecia uma verdadeira tapera.
M. Dumas, longe de desanimar, meteu mãos à obra com o ardor de um velho marinheiro,
habituado a lutar com os caprichos e violências dos elementos: em menos de um mês
estava tudo direito e parecia um céu aberto. Uma tão completa transformação,
feita em tão pouco tempo, produziu no lugar certa impressão.
Os
habitantes da circunvizinhança estavam habituados a considerar Sableu como uma
espécie de sepulcro, como um sítio
medonho, que não era lícito a ninguém aproximar-se.
E mais de um camponês deu às vezes uma
volta bem grande, quando linha do transitar por acolá de noite, só para não
passar por junto do Lago do Diabo.
O
Lago do Diabo era uma lagoa que ficava pegada à casa, inteiramente encoberta
por um pequeno bosque de choupos, e a respeito da qual corriam pelos arredores certos boatos assustadores.
A
certas horas e em certos dias, principalmente, ouviam-se ali sinistros gemidos:
uma barca, com um homem e uma mulher dentro, escorregava-se silenciosamente
pela turva água do lago. Quando chegava ao lugar mais fundo, o homem saía da
barca o metia-se no lago até a cintura. Depois, a mulher fazia o mesmo, e
depois, afinal, um cadáver.
A
mulher chorava: era pálida, e os cabelos desgrenhados voavam-lhe ao vento. O
cadáver tinha uma grande ferida no peito esquerdo, da qual jorrava sangue em
borbotões.
Não
se ouvia o menor ruído, a menor palavra... Reinava o mais lúgubre silencio,
apenas de quando em quando interrompido pelos soluços da mulher.
Isto
durava coisa de meia hora. Depois do quê, o homem e a mulher tornavam a entrar para a
barca, dirigindo-se para a margem do
lago.
Porém,
quando apontavam as primeiras barras do dia, os dois fantasmas desvaneciam-se!
M.
Charles Dumas sabia desde muito tempo de todas as histórias ridículas que se contavam a respeito de Sableu.
Antes, porém, de comprar aquela
propriedade, tomou a resolução de que devia ir à origem de tais boatos, e o que
então soube provou-lhe mais uma vez a facilidade com que a imaginação popular
empresta formas de lendas aos acontecimentos mais triviais e mais reais.
Contaremos
aos nossos leitores a história que contaram a M. Dumas a este respeito.
Havia
dez anos — portanto, em 1835 — que tinha residido em Sableu um inglês chamado Holder,
que ali vivia sozinho com sua mulher.
M.
Holder tinha cinquenta anos e Mme. Holder apenas vinte e cinco. Passavam os dois
esposos em Dinan os meses de inverno, e o resto do tempo na sua quinta. Tinham poucas relações, que não excediam de alguns
ingleses e de uma ou duas famílias da aristocracia bretã. M. Holder parecia
amar apaixonadamente a sua mulher que, pela sua parte, lhe mostrava a mais viva
afeição.
Apesar
destas aparências que inculcavam a maior harmonia doméstica, não tardou a
correr o boato de que M. Holder era homem de gênio irascível, violento e brutal;
que seu ciúme tinha arrancos temíveis; que não tinha quase outra paixão senão a
caça, e que fazia Hélène a mais infeliz de todas as mulheres. Dizia-se, também,
que Mme. Holder não era lá de uma virtude muito irrepreensível e que não queria
bem a seu marido; que antes de ir para Dinan, tinha dado escândalos em outro
lugar em que morara; e que, enfim, não havia mesmo muita certeza que fosse
casada com M. Holder.
Tais
eram os falatórios que circulavam, quando chegou a primavera de 1837. M. Holder
e Hélène retiram-se de Dinan nos princípios do mês de abril, como tinham por
costume, e voltaram para Sableu. M. Holder parecia o mais franco dos homens e Hélène
a mais dócil e submissa de todas as mulheres.
A
primavera anunciava-se debaixo dos mais felizes auspícios; as árvores brotavam
folhas verdes, as flores rebentavam, os passarinhos modulavam os seus primeiros
gorjeios de amor. A natureza inteira parecia animar-se e sorrir-se às
embalsamadas carícias da primavera.
Hélène
levantava-se cedo e, com um grande chapéu de palha na cabeça, corria sozinha,
como uma criança, pelas ruas do parque e por baixo de espessas árvores que rodeavam
o lago. M. Holder, pela sua parte saía ,também, à mesma hora, de espingarda no
ombro e cão de caça atrás. E, assim, andava muitas vezes uma ou duas léguas
antes do almoço.
À
exceção de um pequeno pavilhão, que estava situado perto da lagoa e conservava-se
sempre fechado, a habitação de M. Holder não era limitada de todos os lados
senão por campos de trigo e de linho, por córregos pouco fundos e pela estrada
de Paris. Nada, portanto, havia que recear, nem dos vadios, nem dos curiosos.
Além disto, as visitas que ali se faziam eram raras e curtas. Iam sempre depois
do almoço e retiravam-se antes do jantar. M. Holder achava-se, pois, quase
sempre sozinho com sua mulher, sem que nem um nem outro se queixasse de tal
isolamento.
Hélène
era uma das criaturas mais encantadoras com que a imaginação do poeta tenha
jamais sonhado.
Seus
olhos tinham esse brilho ardente e aveludado que faz cismar e estremecer ao
mesmo tempo. Seu nariz desenhava-se em uma linha pura e correta; seus lábios, cor
de rosa, formavam nos cantos deliciosas covinhas, e sua fronte, que dominava
este todo sedutor, perfeitamente se harmonizava com seus abundantes e
voluptuosos cabelos. Hélène não tinha, entretanto, a frieza da maior parte de
suas compatriotas. Seu andar pausado, seus movimentos preguiçosos, suas pálpebras meio caídas tinham
um ardor, uma vivacidade, uma chama misteriosa, que davam à sua beleza um
atrativo irresistível aos olhos e aos corações.
E,
além disto, era ainda tão jovem, tinha ainda vivido tão pouco! Conhecia-se em
sua fala, em seus gestos, em seu olhar
um tom de virgindade que admirava e seduzia. Quem a via não podia deixar de perguntar
a si mesmo que tesouro ocultaria aquele coração meio entumecido, que vaga
tristeza seria aquela que pairava as vezes por essa pálida fronte, que
impaciência seria a que de quando em quando fazia encolher o canto dessa úmida
boquinha. Percebia-se que, não obstante as suas delicadas formas, tinha Hélène
um desses gênios enérgicos, igualmente resignados à dor ou dispostos à luta...
Nunca uma lágrima lhe umedecera as pálpebras, nunca um queixume lhe partira dos
lábios. Contudo, tinha Hélène medo de M. Holder. Esse homem tinha às vezes um
olhar singular que a fazia estremecer. Era alto, robusto, infatigável. Uma
ocasião, em um acesso de cólera e de ciúmes, não querendo atracar-se com Hélène,
a quem talvez tivesse morto, lançara um dos criados pela janela.
Era,
felizmente, uma janela baixa, e o pobre criado escapou só com algumas
contusões. Mas, desse dia em diante, todas as vezes em que se lembrava disto, a pele da moça cobria-se de
arrepios.
Cinco
meses se passaram, até que chegou o
verão. Estavam no mês de agosto, no
tempo da caça. M. Holder saía muitas vezes de manhã e não voltava para casa
senão à boca da noite. Ceava-se, então, e, depois de levarem uma hora a tomar
fresco debaixo das arvores do parque, retiravam-se M. Holder para o seu quarto e
Me. Holder para o seu. M. Holder deitava-se imediatamente e ferrava um profundo
sono até de manhã. Hélène levava frequentemente acordada até alta noite, ou
pelo menos deixava o candeeiro arder, às vezes, até o romper do dia.
Foi
nessa época que se propalaram os boatos que fizeram dar à lagoa o nome de Lago
do Diabo. Dizia-se que todas as noites um fantasma branco, vestido com uma
túnica branca e carregando um fardo, que parecia ter seu peso, passava furtivamente pelas alamedas do parque e se
dirigia misteriosamente para o lago. Havia não longe dali uma pequena porta no
muro que deitava para o campo. O fantasma, abrindo essa porta, desaparecia na
direção do solitário pavilhão, que era a única habitação que havia nas
imediações de M. Holder.
Não
foi preciso mais para despertar curiosidade, e por vários dias o pavilhão
tornou-se objeto de minuciosa inquisição. Foi, porém, trabalho perdido.
O
pavilhão era mudo como um túmulo; as janelas e a porta estavam hermeticamente
fechadas; nunca se tinha visto entrar ali viva alma, nem sair quem quer que
fosse.
Não
tiveram, portanto, os curiosos outro remédio senão contentarem-se com o que já
sabiam, que na realidade bem pouco era. Não tardava, porém, a tudo mudar de
face. Uma noite—o céu estava escuro e carregado de densas nuvens; grossos
pingos de chuva caíam de quando em quando, e ouvia-se ao longe os surdos roncos
de uma tempestade—, acabava de dar meia-noite em todos os relógios da quinta. Hélène,
levantando-se da poltrona em que estava sentada, deitou negligentemente nos
ombros um capote, com cujo capuz tapou a cabeça, e, assim embuçada, desceu para
o parque.
Quando
foi pondo o pé na alameda, um relâmpago, fendendo as nuvens, a fez estremecer,
por lhe parecer ter visto, ao clarão desse relâmpago, o vulto de um homem que
caminhava rapidamente a pequena distância dela.
O
vento soprava de rijo; o ar estava pesado, os ramos das árvores balançavam-lhe
por cima da cabeça, pressagiando próxima tormenta, e a trovoada, que continuava
a roncar, despertava-lhe no coração dolorosos ecos.
A
pobre mulher esteve em termos de voltar; porém, um sentimento mais forte do que a sua
vontade a impelia para diante, e não tardou a chegar ao lago e, pouco depois, à
pequena porta.
Respirava
a custo; o coração batia-lhe com violência. Nesse momento, a sombra, que vira
um instante antes passar-lhe por junto, ergueu-se de repente diante dela e uma
mão de ferro agarrou-lhe o braço. Esta mão era a de M. Holder...
Hélène
fechou os olhos para não ver o medonho facho que desferia aquele olhar feroz...
As forças abandonaram-na e, caindo de joelhos no úmido chão, pôs as mãos como
que para implorar misericórdia.
—
Dê-me chave do pavilhão — disse M. Holder, com voz imperiosa.
—
O que quer fazer?— balbuciou Hélène, semimorta de terror.
—
Você verá.
M.
Holder agarrou ambas as mãos da moça, que apertou com as suas.
—
A chave. Já lhe disse.
—
Aqui está.
Hélène
estava transida de dor.
—
Está bem. Agora, acompanhe-me.
—
Eu... Meu Deus!
—
Siga-me.
—
Tenha compaixão de mim, senhor. Não vê que estou quase morrendo?
Uma
gargalhada foi a resposta a esta súplica, e M. Holder arrastou resolutamente Hélène
para o pavilhão.
O
pavilhão, que tinha sido o alvo de tantas investigações dos camponeses dos
arredores, era, com efeito, habitado. Havia alguns meses que ali residia um
homem ainda bastante jovem, tendo apenas vinte e cinco anos. Encontrando-se com Hélène
várias vezes nas partidas de Dinan, apaixonara-se por ela.
Este
jovem não tinha neste mundo mais ninguém do que sua mãe, de quem nunca se havia
separado e que tinha para com ele a mais terna solicitude. Mas o que pôde a
ternura de uma mãe com o amor de uma amante? O Jovem, certo dia, esquecendo-se
de tudo, partira.
Era
bem afeiçoado, alto, esbelto; pretos e abundantes cabelos davam uma espécie de
realce a seu pálido semblante; seu olhar era expressivo e da maior doçura;
parecia ainda um menino pela graça juvenil do seu andar e pelos inocentes reflexos
de sua fronte.
O
que se passaria nessa terrível noite depois do encontro de M. Holder e Hélène? É
o que não é possível especificar-se. Só o que se soube foi que, por vários dias,
não se viu sair nem M. Holder, nem Hélène, e que duas semanas depois tudo
parecia estar esquecido. O pavilhão continuou a ficar desabitado. M. Holder
continuou a ir à caça, e Hélène, apesar de mais triste e mais pálida, ia
vivendo como dantes. Alguns anos depois, M. Holder retirou-se do lugar, e nunca
mais se ouviu falar nem dele, nem de Hélène.
Cessaram,
afinal, de ocupar-se com eles.
Entretanto,
os reparos empreendidos por M. Charles Dumas, o novo proprietário, prosseguiam
com a maior atividade. Tudo tinha mudado de face e a quinta parecia uma nova
habitação.
Todavia, ainda restava uma coisa a se fazer.
M.
Dumas tinha feito, à pequena distância do Lago do Diabo, um cercado para vacas
de leite, cabras e outras criações, e como os pastos ficavam um tanto longe
desse lugar, e além disto a lagoa em certas épocas do ano exalava horríveis
miasmas, resolveu M. Dumas mandá-la secar.
Os
projetos de M. Dumas eram prontamente executados e, assim, logo no dia seguinte,
meteu-se mãos à obra. M. Dumas, com o seu gênio infatigável, presidia pessoalmente a todos esses trabalhos.
Uma manhã, seriam oito horas do dia, acabava ele de chegar à obra, quando veio
da casa um criado correndo dar-lhe parte de que uma pessoa desejava falar-lhe.
—E
que pessoa é essa?
—Não sei.
—E
não lhe perguntou o nome?
—Disse-me
que se chama M. Holder.
M.
Dumas estremeceu.
Nunca
vira M. Holder. Conquanto não tivesse a menor razão de temer a presença deste
homem, ao ouvir o seu nome, não pôde
deixar de sentir uma espécie de repulsa. Entretanto, não querendo fazer M.
Holder esperar, deu algumas ordens às pressas e encaminhou-se para casa.
—Espero
que me desculpe, senhor — disse M. Holder assim que foi avistando a M. Dumas —,
vir atrapalhá-lo, tendo tanto que fazer.
—Seja
bem-vindo, senhor — respondeu M. Dumas
fazendo-lhe a sua cortesia.
M.
Holder tinha sessenta anos naquela época, porém, pouca ou nenhuma mudança tinha-se
operado em sua fisionomia. Continuava o mesmo homem robusto, aristocrata, elegante, porém enérgico e forte.
—
Na verdade — prosseguiu ele —, é uma maravilha e gosto a arte com que o senhor transformou
esta pobre quinta num verdadeiro paraíso.
—O
senhor já tinha deixado todos os elementos necessários.
—O
senhor tem feito uma completa metamorfose.
—Assim
foi-me preciso para pôr tudo em ordem.
M.
Holder sorriu com tristeza.
—Deixei-lhe, com efeito — acrescentou —, muito que fazer.
—O que, contudo, não me desanimou.
—Bem estou vendo. Minha partida foi tão
precipitada... Tenho sofrido tantos desgostos...
Assim
falando, iam os dois caminhando um para o outro. Quando M. Holmer disse estas
últimas palavras, M. Dumas, parando, perguntou:
—
Provavelmente Mme. Holder não está passando bem...
—
Está morta! — respondeu o velho.
Reinou
curto silêncio.
Os
dois continuaram a caminhar.
—E
teve uma morte bem desgraçada — prosseguiu
M. Holder. — Hélène era de uma natureza impressionável. Eu a supunha feliz, e ela não o era... Morreu, há
alguns meses, em meio dos mais atrozes sofrimentos... Envenenou-se.
—Um
suicídio!
—Sim,
um suicídio que me deixou sozinho neste mundo, na ocasião em que, mais do que
nunca, eu precisava de uma companheira amada. Ah, senhor! Deus o livre, e a todos que lhe pertencem, de
acontecer-lhe o que me aconteceu.
M. Dumas sentiu-se comovido por esta dor que
lhe pareceu tão sincera. Pegando na mão de M. Holder, apertou-a sem proferir palavra.
—A
morte de Hélène —prosseguiu o velho, depois de um instante de silêncio —
causou-me um terrível abalo. E, vendo-me assim sozinho, sem amigos, sem família,
veio-me ao pensamento a lembrança de
visitar estes lugares onde vivi tão feliz junto com ela.
Neste
momento, tinham chegado quase à Lagoa do Diabo. Quando passaram por junto da
portinha que havia no muro, M. Holder tornou-se horrivelmente pálido, e lançou
involuntariamente os olhos para o pavilhão.
—Então
— disse —, o senhor está mesmo resolvido
a secar esta lagoa?
—Em poucas semanas, pretendo tê-la convertido
em um prado. Não considera uma boa ideia?
—Não
sei.
—Um
prado no meio deste pequeno bosque há de produzir um magnífico efeito.
—O
lago era preferível. E, além disto, útil... mesmo para os animais... Em seu
lugar, eu o conservaria.
—Gosto das mudanças.
—Quando
começa o serviço?
—Amanhã
de manhã.
M.
Holder calou-se, abaixou a cabeça, e pareceu meditar. Quando tornou a levantar
a cabeça, estava sumamente pálido e
pensativo.
—M.
Dumas — disse ele, de repente, e sem transição —, dá-me licença que lhe faça uma pergunta?
—
Por certo, senhor.
—Gosta
muito do Sableu?
—Infinitamente.
Todas estas obras distraem-me. E, além
disto, acho os ares excelentes.
—Então
o senhor não se desfaria desta propriedade?
—Nem
falar nisto é bom.
—Mesmo
que se oferecesse por ela uma boa soma?
—Nem
que me oferecessem o dobro do que me custou.
—Sendo
assim, o dito por não dito.
E M. Holder, apesar de parecer bastante
contrariado com este desengano, não insistiu mais. Depois do passear ainda um
pouco pelo parque, despediu-se de M. Dumas e meteu-se na sua carruagem que o esperava
junto ao portão da entrada.
Uma
hora depois, chegou a Dinan, e nessa mesma noite seguiu para Paris pelo carro
postal.
Desde
então, nunca mais se ouviu falar nele.
Pelo
que toca a M. Dumas, bem que esta visita lhe tivesse a princípio inspirado
certa surpresa misturada de desconfiança, as explicações dadas por M. Holder o
fizeram voltar a melhores sentimentos.
No
dia seguinte, pois, prosseguiu na direção
dos seus trabalhos com novo ardor e, daí
a três dias, estava o Lago do Diabo completamente esgotado.
Mas,
no momento em que se foi descobrindo seu úmido o lamacento fundo, avistou-se,
no meio do lago, um esqueleto humano, enterrado no lodo. Esta descoberta, como
bem se pode ajuizar, produziu grande sensação. E, não tardando a notícia a
chegar até Dinan, a Justiça julgou que lhe cumpria devassar do caso.
Examinando-se
o esqueleto, os legistas declaram, depois de atenta inspeção do crânio, que o crime não devia remontar-se a mais de
dez anos, e que o homem que dele tinha sido vítima não podia ter mais de vinte
e cinco anos.
M.
Dumas entendeu, então, qual o fim da visita que ultimamente lhe tinha feito M.
Holder.
Tratou-se
logo de procurar este último, a quem a voz pública designava como autor do
crime. Porém, M. Holder tinha tomado tão bem suas medidas, que não foi possível
achá-lo.
Este
desfecho talvez não seja do gosto dos dramaturgos modernos, que são incansáveis
em provar que o crime é sempre castigado... Mas tem ao menos o merecimento de
ser perfeitamente histórico. E em falta de outro, tenham os leitores paciência de contentarem-se
com ele.
Fonte: “Illustração Brasileira”,
edição de janeiro de 1855.
Fizeram-se breves adaptações textuais.
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