A RESSURREIÇÃO - Conto Breve de Terror - Paulo Soriano


A RESSURREIÇÃO
Paulo Soriano

Jamais houve homem mais santo, mais piedoso em vida, que o monge Macário.

 Morrera de uma doença misteriosa e letal — que lhe dissipara todo o sangue — nos braços do abade, quando do inclemente cerco dos valáquios. Desde então, passara o morto — agora canonizado — a interceder pelos desvalidos, operando maravilhas e milagres, à mera invocação de seu sacro nome.

  A imensa santidade de Macário nunca fora posta em dúvida.  Assim, um enviado papal, acompanhado do Abade Rufo, procedeu pessoalmente à exumação do santo monge, convicto de que testemunharia um novo prodígio. Esperava encontrar o cadáver incorrupto.

Porque a luz do archote reverberava intensamente nas paredes da cripta, a santidade do monge Macário tornou-se plenamente visível quando aberto o ataúde: a face lívida, a despeito dos longos anos de sepultamento, permanecia mesmo fresca e incorrupta. 

Mas não foi tudo: tomados de êxtase e devoção, os clérigos se inclinaram, em profunda reverência, quando viram o santo homem se erguer do fundo do túmulo de pedra. Assim como Lázaro e o próprio Salvador, o monge vencera a morte.

— Aproximem-se, irmãos — disse o monge ressurreto, abrindo acolhedoramente os braços, mas contendo a impaciência de uma voz sibilante, que se lhe escapava da boca infestada de ranhuras aguçadas — pontiagudas — e sedentas de sangue.

Desde então, a mortandade e o terror se espalharam pela Transdanúbia mais célere e fatalmente que a própria Peste.


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