HISTÓRIA DE UMA APARIÇÃO DE DEMÔNIOS E ESPECTROS EM 1609 - Conto Clássico de Terror - Charles Nodier


HISTÓRIA DE UMA APARIÇÃO DE DEMÔNIOS E ESPECTROS EM 1609
Charles Nodier
(1870 – 1844)

Um cavalheiro da Silésia convidou alguns amigos para um grande jantar, mas estes se escusaram do banquete. O cavalheiro, decepcionado por se encontrar sozinho no jantar, quando planejava dar uma festança, ficou muito aborrecido e disse:

—Como ninguém quer jantar comigo, que venham todos os demônios!

Dizendo tais palavras, saiu de casa e entrou na igreja, onde o padre pregava. Enquanto ouvia o sermão, homens a cavalo, sombrios como a noite, e ricamente vestidos, entraram no pátio de sua casa e pediram aos criados que fossem informá-lo de que seus convidados haviam chegado.

O criado, muito assustado, correu à igreja e contou ao seu mestre o que estava acontecendo. O gentil-homem, estupefato, demandou o pároco, que terminara sermão. O padre se dirigiu, sem pensar duas vezes, ao pátio da casa em que os homens sombrios haviam entrado. Ordenou que toda a família fosse tirada de lá. Isto foi feito tão apressadamente que uma criança foi deixada em casa, dormindo em seu berço. Os hóspedes infernais começaram a mover as mesas, a uivar, a olhar pelas janelas em forma de ursos, lobos, gatos e homens terríveis, segurando nas mãos copos cheios de vinho, e pratos contendo peixe e carne cozida e assada.

Enquanto os vizinhos, o padre e um grande número de curiosos aterrorizavam-se com essa visão, o pobre cavalheiro gritava:

—Ai! Onde está meu pobre filho?

Ele ainda retinha a última palavra na boca quando um dos homens sombrios levou a criança à janela. O cavalheiro, desesperado, disse a um de seus servos mais fiéis:

—Meu amigo, o que devo fazer?

—Senhor — respondeu o criado —, recomendarei minha vida a Deus. Entrarei em seu nome em casa. De lá, por seu favor e em seu auxílio, trarei a criança ao senhor.

— Assim seja — disse o mestre. — Que Deus o acompanhe e te dê forças.

O servo, tendo recebido a bênção de seu mestre, do pároco e das pessoas de bem que o acompanhavam, entrou na casa. E, tendo-se recomendado a Deus, abriu a porta da sala onde estavam os hóspedes sombrios. Todos aqueles monstros, de horrendas formas, alguns em pé, outros sentados, alguns andando, outros rastejando pelo chão, correram para ele e gritaram:

— Uh! Uh! O que fazes aqui?

O servo, repleto de medo, mas fortalecido por Deus, dirigiu-se ao espírito maligno que segurava a criança, e disse-lhe:

—Dá-me cá esta criança.

—Não — respondeu o outro —; ela é minha. Diz ao teu mestre para vir recebê-la.

O servo insistiu, dizendo:

— Estou cumprindo meu dever. Assim, em nome e com a ajuda de Jesus Cristo, eu te arranco essa criança, porque que devo devolvê-la ao seu pai.

Dizendo essas palavras, ele arrebatou a criança e a apertou com força entre os braços.

As entidades sombrias responderam apenas com gritos e ameaças terríveis:

—Ah, vilão! Ah, patife! Deixa conosco essa criança; caso contrário, iremos desmembrá-la.

Mas ele, desprezando a fúria dos demônios, saiu a salvo e depôs a criança nos braços do pai, o cavalheiro.  Alguns dias depois, os convidados tenebrosos desapareceram. E o cavalheiro, convertido em um sensato e bom cristão, retornou para a sua casa.


Versão em português: Paulo Soriano.

Comentários

  1. Eh, nada como a própria família e amigos/empregados fieis para se ter em casa. Algumas amizades não valem a pena. Conto com moral, óbvio. E bom.

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