A GAROTA E O VAMPIRO - Conto Clássico de Terror - Agnes Murgoci
A
GAROTA E O VAMPIRO
(História
de Râmnicu Sărat, Romênia)
Agnes
Murgoci
(1875
– 1929)
Certa
feita, uma garota e um jovem homem estavam profundamente apaixonados. Seus pais
não sabiam daquela paixão. Quando pessoas próximas ao jovem amante procuraram os
pais da moça com uma proposta de casamento, prontamente foram repelidas, dada a pobreza do pretendente.
Desiludido,
o jovem se enforcou numa árvore e, por seu imenso pecado, se transformou-se num
vampiro. Como tal, ele pôde visitar garota. Embora a moça o tivesse amado enquanto vivo
ele estava, não lhe apetecia relacionar-se com um espírito maligno. O que poderia
ela fazer para escapar do perigo e do pecado? Foi ter, então, com uma mulher
sábia, que a aconselhou o que fazer.
Certa
noite, veio o vampiro para ter relações carnais com a jovem. Na companhia desta,
permaneceu até tarde da noite. Quando soube que já era hora de partir, disse apenas
“boa noite” e se preparou para partir. A moça, seguindo o conselho da velha
sábia, fixou nas costas do seu casaco uma agulha, na qual prendeu a ponta do fio de um grande novelo.
O
vampiro partiu. O novelo desenrolou-se e desenrolou-se durante um bom tempo; depois,
subitamente, estacou. A menina, percebendo isto, seguiu o caminho traçado pela
linha. Rastreando-a ao longo da estrada, descobriu que a linha penetrara no
adro da igreja, seguindo diretamente para uma sepultura. Lá, o fio penetrava na
terra, sendo este o seu destino. A jovem, pois, voltou para casa.
Na
noite seguinte, quando assomou o crepúsculo, ela se apressou para o adro. Postou-se
a alguma distância da sepultura para ver o que aconteceria. Não demorou muito a
que vislumbrasse o vampiro saindo de sua
cova. Dirigiu-se ele, então, para outra
sepultura. Abrindo-a, o vampiro devorou o coração do morto que a ocupava.
Depois, partiu em direção à aldeia para
visitar a noiva.
Quando
deixou o adro da igreja, a moça o seguiu.
—Onde
estavas esta noite, e o que viste?— perguntou o vampiro, quando ela o
cumprimentou.
—
Onde eu estava? Ora, em canto nenhum. E não vi nada — respondeu a garota.
O
vampiro continuou:
—Aviso-te
que, se não me disseres a verdade, o teu pai vai morrer.
— Que ele morra, então. Eu não sei nada, não
vi nada, e nada posso te dizer.
—
Muito bem... — disse o vampiro.
Efetivamente,
em dois dias, o pai da jovem estava morto. Ele foi enterrado com todos os ritos
devidos. Algum tempo se passou até que o vampiro voltasse a procurar a moça.
Uma
noite, porém, ele voltou e a possuiu como de costume. Antes de partir, ele disse:
—Diz-me
onde estavas naquela noite. Caso não o digas,
a tua mãe morrerá.
—
Ela pode morrer nove vezes — respondeu a jovem. — Como posso falar se não sei nada?
Após
dois dias, a mãe também morreu. Ela foi devidamente enterrada. Mais uma vez,
passou algum tempo e o vampiro reapareceu. Desta feita, ele disse:
—
Se tu não me disseres o que viste naquela noite, também morrerás.
—
Se algo eu te disser — disse ela —, não haverá uma grande perda. Como posso
inventar uma história, se eu não sei nada e nada vi?
—
Está tudo muito bem. Mas o que vais fazer agora, já que estás prestes a morrer?
— respondeu o vampiro.
Acatando
o conselho da velha sábia, a garota reuniu todos os seus parentes e disse-lhes
que morreria em breve. Advertiu-os de que, quando ela estivesse morta, não
deveriam retirá-la pela porta ou pela janela, mas por uma abertura que fariam na parede da casa.
Não deveriam enterrá-la no adro da igreja, mas na floresta. E não deveriam
levá-la pela estrada, senão atravessar os campos até chegarem a um pequeno
buraco entre as árvores da floresta. Ali estaria o seu sepulcro.
E
assim aconteceu. A garota morreu, a parede da casa foi derrubada, e ela foi conduzida
num esquife, através dos campos, até a floresta.
Depois
de algum tempo, uma flor maravilhosa, jamais vista antes ou depois, cresceu na sua sepultura.
Um
dia, o filho do imperador passou e viu esta flor. Imediatamente, ordenou para
que fosse escavada bem abaixo das raízes, levada ao castelo e posta em sua
janela.
A
flor floresceu e tornou-se mais bela do que nunca, mas o filho do imperador enchia-se
de ansiedade. Nem mesmo ele sabia o que se passava, pois não conseguia comer ou beber. Qual era o
problema?
À
noite, a flor transformou-se novamente na jovem mulher, tão bela como antes. Desceu
a janela e passou a noite com o filho do imperador, sem que ele soubesse. Mas,
uma noite, ela não conseguiu mais se conter e o beijou. E ele acordou e a viu.
Depois disso, eles firmaram um recíproco compromisso. Contaram ao imperador e à
imperatriz que estavam casados e viviam muito felizes um com o outro. Somente
uma coisa estorvava aquela felicidade. A esposa nunca saía de casa. Ela tinha
medo do vampiro.
Um
dia, porém, o marido a levou, numa carruagem, à igreja. Quem lá já não estava, na esquina, senão
o vampiro? Ela saltou da carruagem e correu para a igreja. O vampiro fez o
mesmo, e já tinha a mão sobre ela quando lá chegaram juntos. A moça escondeu-se atrás de uma imagem sagrada. O
vampiro estendeu a mão para agarrá-la.
De repente, a sacra imagem caiu-lhe sobre a cabeça e ele desapareceu na nuvem de fumaça em que se
dissolvera.
A
esposa viveu com o filho do imperador, a salvo de todo perigo e pecado, pelo
resto de sua vida.
Tradução e adaptação: Paulo Soriano.
Nossa,adorei o conto! Achei-o ao acaso... E ele de fato me fez boa companhia em um dia em que de fato eu precisava...
ResponderExcluirUma pergunta: o autor de fato faleceu mesmo em 2010, ou está parte era só referência ao personagem?
Muito obrigado pelo comentário. Volte sempre. Você é muito bem-vindo(a)!
ResponderExcluirA autora — Agnes Murgoci — faleceu em 1929.
Abraços,
Paulo