O SORRISO MACABRO - Conto Clássico de Terror - Agnes Murgoci


O SORRISO MACABRO
 (História vampírica da Romênia)
Agnes Murgoci
(1875 – 1929)
Tradução  e adaptação: Paulo Soriano

Houve uma reunião noturna na aldeia, como é costume. Mas os jovens e as donzelas presentes não eram filhos de camponeses abastados. A reunião acontecia numa casa deserta e os rapazes formavam  uma multidão barulhenta, risonha e zombeteira que se fazia ouvir de uma ponta à outra da aldeia, e as meninas comportavam-se exatamente como os rapazes. Fizeram uma grande fogueira, as meninas começaram a rodopiar, os rapazes contaram todo tipo de piadas e as meninas morriam de rir.

Quando já era noite avançada, três jovens, desconhecidos dos convivas,  entraram na casa. "Boa noite, boa noite", disseram, e se juntaram na conversa geral. Enquanto todos conversavam, uma das garotas deixou cair a sua roca. Então, abaixou para pegá-la. Quando voltou ao seu lugar, estava branca como giz.

—O que houve? — perguntou uma jovem que estava ao seu lado.

A moça murmurou-lhe que os três estranhos tinham cascos de cavalos em vez de pés.

O que deveriam fazer?

Passaram, por sussurros,  a  terrível descoberta uma a outra e  aos rapazes: os três estranhos eram vampiros, não homens.

Então, eles escaparam, um  a um, e correram para casa. Os três vampiros assumiram as formas típicas de  vampiros. Mas não ficaram sozinhos em casa, pois havia uma mocinha dormindo junto ao forno.

Ao amanhecer do dia seguinte, a irmã da garota adormecida, acompanhada por algumas amigas, correu para ver o que lhe havia  acontecido. Quando  as moças estavam a alguma distância da casa, vislumbraram uma cara sorridente a olhar pela janela

— Oh, oh — disseram elas — a nossa irmã está sorrindo!

Aproximaram-se e, entrando na casa, ficaram horrorizadas. Persignaram-se.  Era somente  a cabeça que jazia na janela: como os lábios haviam sido cortados, o rosto parecia sorrir[1]. Os seus intestinos, esticados, prendiam-se às  unhas e espalhavam-se pelas prateleiras, e toda a casa estava manchada de sangue.

Pobre menina!


[1] Este jocoso hábito de cortar os lábios de suas vítimas não é peculiar aos vampiros. É assim que montenegrinos, turcos e outros tratam ocasionalmente seus inimigos derrotados (N. da  A).

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