UMA TERRÍVEL VINGANÇA - Conto Clássico de Terror - Giraldus Cambrensis
UMA
TERRÍVEL VINGANÇA
Giraldus
Cambrensis
(1146
– 1223)
Tradução
indireta de Paulo Soriano
O
senhor de Chateau-roux, na França, mantinha no seu castelo um homem a quem
castrou, e cujos olhos havia perfurado.
Este,
por força de um longo hábito, retivera na memória todas as passagens do castelo
e os degraus que levavam às torres.
Aproveitando
uma oportunidade de vingança, e planejando a aniquilação do jovem rapaz — o
único filho e herdeiro do suserano do castelo —, o cego, após trancar as portas interiores do
castelo, levou o garoto ao cimo de uma torre alta, de onde foi visto com grande
preocupação pelo povo que se reunira embaixo. Para lá apressou-se o pai do menino
e, tomado pelo terror, tentou, por todos os meios possíveis, obter o resgate de
seu filho.
O
cego respondeu que poderia libertar o garoto, mas com a condição de que o
senhor provocasse em si mesmo a mesma mutilação genital que lhe havia
infligido.
O
pai, tendo em vão implorado misericórdia, por fim acedeu. Então, com ardil,
aplicou no próprio corpo um violento golpe. E as pessoas ao seu redor irromperam
em gritos e lamentos, como se ele tivesse realmente sofrido a mutilação.
O
cego perguntou-lhe onde sentia a maior dor. Quando o senhor respondeu que lhe
doíam os rins, o cego disse-lhe que era mentira, e que estava preparado para
precipitar o menino torre abaixo.
Um
segundo golpe foi dado, e o senhor do castelo assegurou que o que mais lhe
doera fora o coração. O cego, expressando sua incredulidade, novamente conduziu
o menino à ameia da torre. Na terceira vez, porém, o pai, para salvar o seu
filho, realmente se castrou. E quando exclamou que o que mais lhe doíam eram os
dentes, disse-lhe o cego:
—
Correto. Como um homem que passou por semelhante experiência, vejo que falas a
verdade. Mas apenas em parte tu me vingaste os ferimentos. Eu encontrarei a
morte com a maior das satisfações; tu, porém, jamais poderás gerar outro filho,
nem encontrarás consolo para a desgraça que te sucedeu.
Então,
levando consigo o garoto, atirou-se do alto da torre. Ao caírem ao solo, tiveram
os membros fraturados, e ambos expiraram instantaneamente.
Pela
alma do garoto, o cavaleiro ordenou que, no local, fosse construído um
mosteiro, e este, que ainda está em pé, chama-se De Doloribus.[1]
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