O CRIME INVISÍVEL - Conto Clássico de Terror - Catherine Crowe



O CRIME INVISÍVEL

Catherine Crowe

(1803 – 1876)

 

Em 1842, no bairro de Marylebone, demoliram uma casa que já não atraía inquilinos há muitos anos, e cujos proprietários não estavam dispostos a gastar mais dinheiro com reformas.

Seus últimos habitantes foram o major W..., sua esposa, seus três filhos e uma criada.

O major W..., que exercia um digno cargo na Intendência Militar, havia insistido inúmeras vezes junto a seus superiores para que lhe fosse permitido  mudar de residência (o aluguel do imóvel estava a cargo da Intendência Militar). Como esta autorização demorava, alegou, para justificar a sua reiterada insistência, que a casa era mal-assombrada da forma mais desagradável.

Todas as noites, a porta da sala de estar se abria violentamente, ouvia-se um ruído de passos apressados, uma respiração rouca e, depois de dois ou três terríveis gritos, a pesada queda de um corpo no chão.

Frequentemente, encontravam os móveis revirados, sobretudo quando situados no canto  da sala que dava para o Norte.

Depois, o silêncio era restabelecido. Mas, cerca de quinze minutos depois, ouvia-se algo semelhante a passos frenéticos, a um soluço e, finalmente, a um terrível estertor.

O major W.... acabou por proibir que os seus familiares adentrassem aquela sala.  Até mesmo obstruiu a porta.  Antes, porém, fez com que estes acontecimentos fossem testemunhados por vários de seus companheiros de caserna.  Com efeito, o relatório que apresentou estava assinado pelo lugar-tenente da Intendência E..., pelo capitão S... e pelo comissário de mantimentos E...

Procedeu-se a uma investigação e muito depressa descobriu-se uma trágica história.

No ano de 1825, a casa era habitada pelo joalheiro C... e sua esposa.  Esta última, muito mais nova que o marido, levava uma vida desregrada, licenciosa e dissipava enorme somas de dinheiro.

Malgrado o infeliz C... lhe houvesse perdoado muitas vezes os seus caprichos, ela não parecia querer corrigir-se. Ao contrário, sua vida era cada vez mais escandalosa.

C..., compelido pela amargura e pelo ciúme, entregou-se à bebida.

Certa noite, ele voltou embriagado, decidido a pôr fim aos seus infortúnios.

Armado de um cutelo de sapateiro, avançou para a mulher, que fugiu para o salão.  Mas C... a alcançou e, com um só golpe de sua arma, a decapitou.  Permaneceu um longo tempo mudo, horrorizado com o crime que cometera e, depois, enforcou-se.

Desde então, as cenas deste horrendo assassinado se reproduziam a cada noite, de uma forma perfeitamente audível, mas as aterrorizadas  testemunhas nunca viram a aparição. Apenas ouviam os ruídos fantasmagóricos, que se repetiam com uma perfeita precisão.

O requerimento do major W... teve resultados favoráveis e, desde então, a casa permaneceu desocupada até o dia em que caiu sob as picaretas  dos demolidores.

 

Versão em português (tradução indireta): Paulo Soriano.


Comentários

  1. de 1870, esses autores de 1800 e tanto eram muito bons no conto.E a vida da autora, muito mais sombria do que muito rockeiro de hoje em dia rss rs rss
    Mister Roger.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

UMA DESCIDA NO MAELSTRÖM - Conto Fantástico - Edgar Allan Poe

O GATO PRETO - Conto Clássico de Terror - Edgar Allan Poe

VAMPÍRICA - Conto Clássico de Terror - Dorothy Dunn

AR FRIO - Conto Clássico de Terror - H. P. Lovecraft