A DECAPITAÇÃO DE SANTA PRÓCULA - Narrativa Clássica Sobrenatural - Gilbert Stenger
A DECAPITAÇÃO DE SANTA PRÓCULA
Gilbert Stenger
(1836 – 1913)
Diz-se
que Prócula era uma bela camponesa perseguida por um poderoso senhor de
Rouergue. O dono do castelo feudal exigiu-lhe o sacrifício da sua virgindade.
Prócula, muito pura, querendo fugir da incansável obsessão do seu perseguidor — uma espécie de barba azul, brutal e perverso —, deixou aquela região, seguindo sempre em frente, para se esconder num lugar ignorado e deserto. Por acaso, foi levada até Gannat, no meio das colinas rochosas, perto de um riacho, onde construiu um abrigo com ramos de árvores. Ali vivia em reclusão, orando a Deus, alimentando-se de raízes e frutos silvestres. E regozijou-se no seu coração simples, por ter obedecido à inspiração divina, que a tinha conduzida ao exílio para evitar opróbrio.
Certo
dia, porém, o pérfido senhor, dominado pela paixão, saiu à sua procura.
Descobriu o seu retiro e a assediou. Mas, e como ela ainda resistia às suas
investidas, o senhor assassinou-a, cortando-lhe a cabeça com uma cimitarra.
Então,
a intervenção divina se manifestou visivelmente: o corpo de Prócula se ergueu,
as suas mãos seguraram a cabeça separada
do tronco e o corpo decapitado caminhou, para o horror do seu carrasco, que fugiu
dali. Prócula rumou à igreja da cidade. Ela obedecia a Deus, que queria mostrar,
com este milagre, a recompensa pela virtude.
Os
açougueiros de Gannat estavam à porta quando a donzela passou por eles. Mas, acreditando
que aquela manifestação era uma farsa de algum mago, ou alguma espécie de feitiço,
mostraram ao cadáver andante uma língua zombeteira. O milagre divino, porém,
ainda produzia os seus efeitos, pois os açougueiros, em punição, não puderam repor
a língua na boca.
A
esse sinal, as pessoas, convencidas da intervenção divina, prostraram-se sob os
passos da mártir e acompanharam-na em multidão até à igreja, onde ela depôs a
cabeça.
Tradução de Paulo
Soriano.
Fonte: “Le Mois
Littéraire et Pittoresque”, edição de janeiro de 1903.
Comentários
Postar um comentário